Trajetórias interrompidas, insultos dissimulados: a violência política de gênero online

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.101398

Palavras-chave:

Violência política de gênero, Plataformas digitais, Mulheres na política

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar as manifestações da violência política de gênero em plataformas digitais. Acionando a literatura sobre violência generificada e trazendo contribuições da comunicação política, o estudo discute as ofensas direcionadas a mulheres parlamentares e a relação dessas agressões com o cenário de polarização política, observando também os repertórios discursivos e tecnológicos dessa violência. A pesquisa parte de uma base com mais de 4 milhões de menções a parlamentares mulheres no X/Twitter, Facebook, Instagram e YouTube. Em seguida, empreendeu-se um estudo de caso comparativo nas redes de duas parlamentares. Argumenta-se que embora a violência online seja vista como menos perniciosa, ela pode operar como elemento de sustentação para formas mais danosas. Conclui-se também que há um conjunto de estratégias acionadas como modo de dissimular os ataques, incluindo o uso do humor, contribuindo para um certo processo de normalização da violência.

Biografia do Autor

Letícia Sabbatini Malta Amaral da Silva, Universidade Federal Fluminense

Letícia Sabbatini é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). Mestra em Comunicação também pelo PPGCOM-UFF. Pesquisadora do Laboratório de Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB/UFF) e da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV Comunicação Rio). Desenvolve
suas investigações com ênfase nas interseções entre gênero, comunicação política e tecnologias digitais.

https://orcid.org/0000-0001-6969-1960 

Viktor Chagas, Universidade Federal Fluminense

Viktor Chagas é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). É bolsista de produtividade em pesquisa (PQ-2) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e bolsista Jovem Cientista do Nosso Estado da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). É membro associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). Foi bolsista CNPq de Pós-Doutorado Junior em Comunicação e Cultura pela UFBA. Doutor em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (Cpdoc-FGV).

 

Referências

AZMINA; INTERNETLAB. MonitorA: relatório sobre violência política online em páginas e perfis de candidatas(os) nas eleições municipais de 2020. São Paulo, 2021.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BARDALL, G.; BJARNEGÅRD, E.; PISCOPO, J. How is political violence gendered? Disentangling motives, forms, and impacts. Political Studies, v. 68, n. 4, p. 916-935, 2020.

BARDALL, G.; MYERS, E. Violence against Women in Politics: A Barrier to Peace and Security. US Civil Society Working Group, 2018. Disponível em: https://www.usip.org/sites/default/files/11th-US-CSWG-May-16-2018-Policy-Brief.pdf Acesso em: 13 mar. 2024.

BATES, S. Revenge porn and mental health: A qualitative analysis of the mental health effects of revenge porn on female survivors. Feminist Criminology, v. 12, n. 1, p. 22- 42, 2017.

BERGMANN, M. How many feminists does it take to make a joke? Sexist humor and what's wrong with it. Hypatia, v. 1, n. 1, p. 63-82, 1986.

BERTOLIN, P; ALVES, T. Violência, política de gênero e fake news. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, v. 24, n. 1, p. 59-80, 2023.

BIROLI, F. Political violence against women in Brazil: expressions and definitions. Revista Direito e Práxis, v.7, n. 15, p. 557-589, 2016.

CHAGAS, V. Dolce farmeme: a retórica da brincadeira política. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 38, 2023a.

CHAGAS, V. Por uma deontologia do humor: um exame sobre o riso inclusivo, ou que preceitos orientam um humor democrático? In: Ricardo Fabrino Mendonça; Rayza Sarmento. (Org.). Crises da democracia e esfera pública. 1ed.Belo Horizonte: EdUFMG, 2023b, v. 1, p. 163-186.

DEKESEREDY, W. Current controversies on defining nonlethal violence against women in intimate heterosexual relationships: Empirical implications. Violence against women, v. 6, n. 7, p. 728-746, 2000.

FERREIRA, C. Feminismos web: linhas de ação e maneiras de atuação no debate feminista contemporâneo. Cadernos Pagu, p. 199-228, 2015.

GARLAND, J.; CHAKRABORTI, N.; HARDY, S. ‘It felt like a little war’: Reflections on violence Against alternative subcultures. Sociology, v. 49, n. 6, p. 1065-1080, 2015.

GOULD, L.; BLOTTA, V. Desinformação e violência contra jornalistas como violências contra a comunicação: análise de casos entre 2021 e 2022 em São Paulo e no Brasil. RuMoRes, v. 16, n. 32, p. 17-38, 2022.

HÅKANSSON, S. Do women pay a higher price for power? Gender bias in political violence in Sweden. The Journal of Politics, v. 83, n. 2, p. 515-531, 2021.

INTERNETLAB; INCT.DD; INSTITUTO VERO; DFRLAB; AZMINA; VOLT DATA LAB. Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias? São Paulo, 2022. Disponível em: https://internetlab.org.br/wp-content/uploads/2022/09/COMPLETO-Como-operacoes-de-influencia-entre-plataformas-sao-usadas-para-atacar-jornalistas-e-enfraquecer-democracias_4.pdf Acesso em: 13 mar. 2024.

JANE, E. Misogyny online: A short (and brutish) history. Sage. 2016a.

JANE, E. Online misogyny and feminist digilantism. Continuum, v. 30, n. 3, p. 284-297, 2016b.

JHAVER, S. et al. Online Harassment and Content Moderation: The Case of Blocklists. ACM Transactions on Computer-Human Interaction, v. 25, n. 2, 2018.

KROOK, M.; SANÍN, J. Género y violencia política en América Latina: Conceptos, debates y soluciones. Política y gobierno, v. 23, n. 1, p. 127-162, 2016.

MADDOCKS, S. ‘A Deepfake Porn Plot Intended to Silence Me’: exploring continuities between pornographic and ‘political’deep fakes. Porn Studies, v. 7, n. 4, p. 415-423, 2020.

MANNE, K. Down girl: The Logif of Misoginy. Londres: Penguin, 2019.

MANSBRIDGE, J.; SHAMES, S. Toward a theory of backlash: Dynamic resistance and the central role of power. Politics & Gender, v. 4, n. 4, p. 623-634, 2008.

MANTILLA, K. Gendertrolling: Misogyny adapts to new media. Feminist studies, v. 39, n. 2, p. 563-570, 2013.

MATOS, M.; RIBEIRO, J. Matrizes de Referências para Observações Não Participantes e para Registros de Diários de Campos em Processos Interacionais de Apresentação de Si na Plataforma Digital Instagram. New Trends in Qualitative Research, v. 14, 2022.

MCDERMOTT, R. The role of gender in political violence. Current Opinion in Behavioral Sciences, v. 34, p. 1-5, 2020.

MENDONÇA, R.; ABREU, M.; SARMENTO, R.. Repertórios discursivos e as disputas políticas contemporâneas. Novos estudos CEBRAP, v. 40, p. 33-54, 2021.

MORREALL, J. Comic relief: A comprehensive philosophy of humor. John Wiley & Sons, 2009.

MOUFFE, C. Agonistics: Thinking the world politically. Verso Books, 2013.

NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural backlash: Trump, Brexit, and authoritarian populism. Cambridge University Press, 2019.

PATEMAN, C. The sexual contract. Stanford: Stanford University Press, 1988.

PERKS, L. The ancient roots of humor theory. International Journal of Humor Research, v. 25, n. 2, p. 119-132, 2012.

PIAZZA, J. Populism and support for political violence in the United States: assessing the role of grievances, distrust of political institutions, social change threat, and political illiberalism. Political research quarterly, v. 77, n. 1, p. 152-166, 2024.

ROSSINI, P. Conversação política, incivilidade e intolerância em ambientes digitais. Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Belo Horizonte, 2017.

SABBATINI, L.; CHAGAS, V.; MIGUEL, V.; REZENDE, G.; DRAY, S. Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas digitais. Niterói: coLAB/UFF, 2023. 60 p. (Série DDoS Lab). doi:10.56465/ddoslab.2023.002.

SARMENTO, R. Ativismo Feminista Online: mapeando eixos de atuação. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 7, n. 1, p. 19-37, 2021.

SARMENTO, R.; SABBATINI, L. Memes e violência política contra as mulheres: os casos de Dilma Rousseff, Manuela d’Ávila e Joice Hasselmann. In: CHAGAS, V. (org). A cultura dos memes. v2. EDUFBA. 2024.

SEGATO, R. Las estructuras elementales de la violencia: ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes Editorial, 2003.

SILVA, J. Violência política contra mulheres: caso Joice Hasselmann e o bolsonarismo através da misoginia nas redes. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.

SOUSA, J. Violência Online no Brasil: cenário e perspectivas. Razón y Palabra, v. 25, n. 111, 2021.

SOBIERAJ, S. Credible threat: Attacks against women online and the future of democracy. Oxford University Press, 2020.

SOBIERAJ, S.; BERRY, J. From Incivility to Outrage: Political Discourse in Blogs, Talk Radio, and Cable News. Political Communication, v. 28, n. 1, p. 19–41, 2011.

VALENTE, M. Misoginia na Internet: uma década de disputas por direitos. São Paulo: Fósforo, 2023.

Downloads

Publicado

2024-12-30