Trajetórias interrompidas, insultos dissimulados: a violência política de gênero online
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.101398Palavras-chave:
Violência política de gênero, Plataformas digitais, Mulheres na políticaResumo
O objetivo deste artigo é analisar as manifestações da violência política de gênero em plataformas digitais. Acionando a literatura sobre violência generificada e trazendo contribuições da comunicação política, o estudo discute as ofensas direcionadas a mulheres parlamentares e a relação dessas agressões com o cenário de polarização política, observando também os repertórios discursivos e tecnológicos dessa violência. A pesquisa parte de uma base com mais de 4 milhões de menções a parlamentares mulheres no X/Twitter, Facebook, Instagram e YouTube. Em seguida, empreendeu-se um estudo de caso comparativo nas redes de duas parlamentares. Argumenta-se que embora a violência online seja vista como menos perniciosa, ela pode operar como elemento de sustentação para formas mais danosas. Conclui-se também que há um conjunto de estratégias acionadas como modo de dissimular os ataques, incluindo o uso do humor, contribuindo para um certo processo de normalização da violência.
Referências
AZMINA; INTERNETLAB. MonitorA: relatório sobre violência política online em páginas e perfis de candidatas(os) nas eleições municipais de 2020. São Paulo, 2021.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BARDALL, G.; BJARNEGÅRD, E.; PISCOPO, J. How is political violence gendered? Disentangling motives, forms, and impacts. Political Studies, v. 68, n. 4, p. 916-935, 2020.
BARDALL, G.; MYERS, E. Violence against Women in Politics: A Barrier to Peace and Security. US Civil Society Working Group, 2018. Disponível em: https://www.usip.org/sites/default/files/11th-US-CSWG-May-16-2018-Policy-Brief.pdf Acesso em: 13 mar. 2024.
BATES, S. Revenge porn and mental health: A qualitative analysis of the mental health effects of revenge porn on female survivors. Feminist Criminology, v. 12, n. 1, p. 22- 42, 2017.
BERGMANN, M. How many feminists does it take to make a joke? Sexist humor and what's wrong with it. Hypatia, v. 1, n. 1, p. 63-82, 1986.
BERTOLIN, P; ALVES, T. Violência, política de gênero e fake news. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, v. 24, n. 1, p. 59-80, 2023.
BIROLI, F. Political violence against women in Brazil: expressions and definitions. Revista Direito e Práxis, v.7, n. 15, p. 557-589, 2016.
CHAGAS, V. Dolce farmeme: a retórica da brincadeira política. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 38, 2023a.
CHAGAS, V. Por uma deontologia do humor: um exame sobre o riso inclusivo, ou que preceitos orientam um humor democrático? In: Ricardo Fabrino Mendonça; Rayza Sarmento. (Org.). Crises da democracia e esfera pública. 1ed.Belo Horizonte: EdUFMG, 2023b, v. 1, p. 163-186.
DEKESEREDY, W. Current controversies on defining nonlethal violence against women in intimate heterosexual relationships: Empirical implications. Violence against women, v. 6, n. 7, p. 728-746, 2000.
FERREIRA, C. Feminismos web: linhas de ação e maneiras de atuação no debate feminista contemporâneo. Cadernos Pagu, p. 199-228, 2015.
GARLAND, J.; CHAKRABORTI, N.; HARDY, S. ‘It felt like a little war’: Reflections on violence Against alternative subcultures. Sociology, v. 49, n. 6, p. 1065-1080, 2015.
GOULD, L.; BLOTTA, V. Desinformação e violência contra jornalistas como violências contra a comunicação: análise de casos entre 2021 e 2022 em São Paulo e no Brasil. RuMoRes, v. 16, n. 32, p. 17-38, 2022.
HÅKANSSON, S. Do women pay a higher price for power? Gender bias in political violence in Sweden. The Journal of Politics, v. 83, n. 2, p. 515-531, 2021.
INTERNETLAB; INCT.DD; INSTITUTO VERO; DFRLAB; AZMINA; VOLT DATA LAB. Como operações de influência entre plataformas são usadas para atacar jornalistas e enfraquecer democracias? São Paulo, 2022. Disponível em: https://internetlab.org.br/wp-content/uploads/2022/09/COMPLETO-Como-operacoes-de-influencia-entre-plataformas-sao-usadas-para-atacar-jornalistas-e-enfraquecer-democracias_4.pdf Acesso em: 13 mar. 2024.
JANE, E. Misogyny online: A short (and brutish) history. Sage. 2016a.
JANE, E. Online misogyny and feminist digilantism. Continuum, v. 30, n. 3, p. 284-297, 2016b.
JHAVER, S. et al. Online Harassment and Content Moderation: The Case of Blocklists. ACM Transactions on Computer-Human Interaction, v. 25, n. 2, 2018.
KROOK, M.; SANÍN, J. Género y violencia política en América Latina: Conceptos, debates y soluciones. Política y gobierno, v. 23, n. 1, p. 127-162, 2016.
MADDOCKS, S. ‘A Deepfake Porn Plot Intended to Silence Me’: exploring continuities between pornographic and ‘political’deep fakes. Porn Studies, v. 7, n. 4, p. 415-423, 2020.
MANNE, K. Down girl: The Logif of Misoginy. Londres: Penguin, 2019.
MANSBRIDGE, J.; SHAMES, S. Toward a theory of backlash: Dynamic resistance and the central role of power. Politics & Gender, v. 4, n. 4, p. 623-634, 2008.
MANTILLA, K. Gendertrolling: Misogyny adapts to new media. Feminist studies, v. 39, n. 2, p. 563-570, 2013.
MATOS, M.; RIBEIRO, J. Matrizes de Referências para Observações Não Participantes e para Registros de Diários de Campos em Processos Interacionais de Apresentação de Si na Plataforma Digital Instagram. New Trends in Qualitative Research, v. 14, 2022.
MCDERMOTT, R. The role of gender in political violence. Current Opinion in Behavioral Sciences, v. 34, p. 1-5, 2020.
MENDONÇA, R.; ABREU, M.; SARMENTO, R.. Repertórios discursivos e as disputas políticas contemporâneas. Novos estudos CEBRAP, v. 40, p. 33-54, 2021.
MORREALL, J. Comic relief: A comprehensive philosophy of humor. John Wiley & Sons, 2009.
MOUFFE, C. Agonistics: Thinking the world politically. Verso Books, 2013.
NORRIS, P.; INGLEHART, R. Cultural backlash: Trump, Brexit, and authoritarian populism. Cambridge University Press, 2019.
PATEMAN, C. The sexual contract. Stanford: Stanford University Press, 1988.
PERKS, L. The ancient roots of humor theory. International Journal of Humor Research, v. 25, n. 2, p. 119-132, 2012.
PIAZZA, J. Populism and support for political violence in the United States: assessing the role of grievances, distrust of political institutions, social change threat, and political illiberalism. Political research quarterly, v. 77, n. 1, p. 152-166, 2024.
ROSSINI, P. Conversação política, incivilidade e intolerância em ambientes digitais. Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Belo Horizonte, 2017.
SABBATINI, L.; CHAGAS, V.; MIGUEL, V.; REZENDE, G.; DRAY, S. Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas digitais. Niterói: coLAB/UFF, 2023. 60 p. (Série DDoS Lab). doi:10.56465/ddoslab.2023.002.
SARMENTO, R. Ativismo Feminista Online: mapeando eixos de atuação. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 7, n. 1, p. 19-37, 2021.
SARMENTO, R.; SABBATINI, L. Memes e violência política contra as mulheres: os casos de Dilma Rousseff, Manuela d’Ávila e Joice Hasselmann. In: CHAGAS, V. (org). A cultura dos memes. v2. EDUFBA. 2024.
SEGATO, R. Las estructuras elementales de la violencia: ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes Editorial, 2003.
SILVA, J. Violência política contra mulheres: caso Joice Hasselmann e o bolsonarismo através da misoginia nas redes. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021.
SOUSA, J. Violência Online no Brasil: cenário e perspectivas. Razón y Palabra, v. 25, n. 111, 2021.
SOBIERAJ, S. Credible threat: Attacks against women online and the future of democracy. Oxford University Press, 2020.
SOBIERAJ, S.; BERRY, J. From Incivility to Outrage: Political Discourse in Blogs, Talk Radio, and Cable News. Political Communication, v. 28, n. 1, p. 19–41, 2011.
VALENTE, M. Misoginia na Internet: uma década de disputas por direitos. São Paulo: Fósforo, 2023.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Ao encaminhar textos à revista Estudos em Jornalismo e Mídia, o autor estará cedendo integralmente seus direitos patrimoniais da obra à publicação, permanecendo detentor de seus direitos morais (autoria e identificação na obra), conforme estabelece a legislação específica. O trabalho publicado é considerado colaboração e, portanto, o autor não receberá qualquer remuneração para tal, bem como nada lhe será cobrado em troca para a publicação. As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões da revista. Citações e transcrições são permitidas mediante menção às fontes. A revista Estudos em Jornalismo e Mídia está sob a Licença Creative Commons