Freud: da perversão à pulsão de morte um percurso criminológico
DOI:
https://doi.org/10.5007/2177-7055.2022.e87182Palavras-chave:
Criminologia, Psicanálise, Perversão, Pulsão de Morte, Mal-RadicalResumo
O ensaio apresenta a psicanálise como ruptura do método positivista do século XIX, oferecendo à criminologia, então dominada pelo paradigma etiológico e pelos saberes médicos, o “approach” subversivo do sujeito. Recupera a transição do problema de uma “teoria geral do mal”, da demonologia à criminologia, transitando de uma gramática fundada na religião, na alma e no mal, para outra fundada na ciência, no corpo e no desvio. Apresenta como o problema foi abordado por Freud a partir dos seus estudos sobre a perversão polimorfa, transitando da compreensão do anormal para o normal. Relaciona o problema kantiano do mal radical com a pulsão de morte freudiana, buscando compreender a tríade agressividade/violência/crueldade como dimensão normal dos seres-falantes. Apresenta, enfim, as possibilidades de uma criminologia das interações a partir do ponto de vista cultural de Freud. O método de abordagem é o dedutivo, partindo de teorizações selecionadas de Freud. O método de procedimento é o da organização ensaística dos argumentos.
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