Os Estudos Críticos da Branquitude e as Relações Internacionais: disputando narrativas e desafiando estruturas epidérmicas de poder em ensino, pesquisa e extensão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2177-7055.2023.e92064

Palavras-chave:

Estudos Críticos da Branquitude, Relações Internacionais, Ensino, pesquisa e extensão, Racismo

Resumo

O objetivo do artigo é mostrar que os Estudos Críticos da Branquitude (ECB) podem aportar ferramentas úteis para interpretar as relações epidermizadas de poder no sistema internacional, e para desafiar as dinâmicas raciais que atravessam as dimensões do ensino, da pesquisa e extensão do campo de Relações Internacionais (RI). Este estudo mostra que os ECB têm o potencial de apoiar na implementação da Lei 11.645/2008, que prescreve a inclusão, de forma transversalizada, da educação para as relações étnico-raciais nos componentes curriculares do ensino superior no Brasil. No presente texto, mobilizo primordialmente a contribuição afro-feminista brasileira em pretuguês de Cida Bento, com seu conceito de pactos narcísicos da branquitude. A problemática deste artigo se refere ao poder da branquitude, e a sua hegemonização no tempo e no espaço, e nos meios do seu exercício na academia e na política internacional. Metodologicamente, a pesquisa se utiliza de abordagem decolonial, apoiando-se nas técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Trata-se de um estudo inédito e original, que inova ao introduzir epistemologias negras e atestar a sua aplicabilidade em termos de ensino, pesquisa e extensão, abrindo caminhos para a desestabilização das vigas de sustentação coloniais no campo das Relações Internacionais.

Biografia do Autor

Karine de Souza Silva, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora dos Programas de Pós-graduação stricto sensu em Relações Internacionais e em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora Produtividade em Pesquisa PQ CNPq. Realizou Pós-Doutorado na Katholieke Universiteit Leuven e na Université Libre de Bruxelles, Bélgica. É coordenadora do "EIRENÈ - Centro de Pesquisas e práticas Decoloniais e Pós-coloniais aplicadas às Relações Internacionais e ao Direito Internacional", do Núcleo de Estudos Críticos de Raça e Interseccionalidades nas Relações Internacionais e no Direito Internacional (NEGRIs).

Referências

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.

BALDI, César. Da “gourmetização” da Teoria Decolonial: o que a raça tem a ver com isso?[i]. Empório do Direito, 2019. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/da-gourmetizacao-da-teoria-decolonial-o-que-a-raca-tem-a-ver-com-isso-i

BENTO, Cida. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida da Silva (Org.) Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002a.

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

BENTO, Cida. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002b.

BORBA DE SÁ, Miguel. De(s)colonizando as Relações Internacionais | Programa Renascença, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tRpUoyITegE Acesso em 26 março 2022

CARDOSO, Lourenço da C. Branquitude acrítica e crítica: A supremacia racial e o branco antirracista. Revista Latinoamericana de ciencias sociales, niñez y juventud, v. 8, p. 607-630, 2010.

CARDOSO, Lourenço da C. et al. (Org.). Branquitude: Estudos sobre a identidade branca no Brasil. 1. ed. Curitiba: Appris Editora, 2018a.

CARDOSO, Lourenço da C. O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2014.

CARDOSO, Lourenço da C. O modo de pensar da razão dual racial: a branquitude e o mestiço-lacuna. Revista Debates Insubmissos, Caruaru, Brasil, ano I, v.1, n. 2, p. 33-48, maio/ago. 2018b.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Arranjos da branquitude em Jorge Amado: a obra Tenda dos Milagres (1969) entre a ambivalência da mestiçagem e o fortalecimento da cultura brasileira. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas e da Educação, Florianópolis, 2014.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Brancura e branquitude: ausências, presenças e emergências de um campo de debate. Dissertação de Mestrado - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2017.

CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Branquitude: dilema racial brasileiro. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2020.

COLLINS, P. H. On intellectual activism. United States of America: Temple University Press, 2013.

CURIEL, O. Construindo metodologias feministas desde o feminismo decolonial. In: HOLLANDA, H. B. D. Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

DU BOIS, W. E. B. Black reconstruction in America (1860-1890). New York: Harcourt Brace, 1935.

DU BOIS, W. E. B. DuBois, W. E. B. Worlds of Color. Foreign Affairs 3, no. 3, 1925. p. 423–44. https://doi.org/10.2307/20028386 .

DU BOIS, W. E. B. The African roots of war. In: Atlantic Monthly, 115, p. 707-714, 1915.

DU BOIS, W. E. B. The Souls of White folk. In: DU BOIS, W.E.B. Writings (Library of America, 1987). P. 923-38. Originally published in The Independent, August 10, 1910, and revised for the collection Darkwater: Voices from Within the Veil (1920). Disponível em: https://loa-shared.s3.amazonaws.com/static/pdf/Du_Bois_White_Folk.pdf . Acesso em 10 setembro 2022.

FANON, Frantz. Peles Negras, Máscaras brancas. Salvador: Ed. UFBA, 2008.

FAUSTINO, Deivison Mendes Faustino. A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos fanonismos contemporâneos. São Paulo: Intermeios, 2020.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. v. 1. São Paulo: Ática, 1978.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 50. ed. rev. São Paulo: Global, 2005.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Trad. de Rosisca Darcy de Oliveira. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

GOMES, Nilma Lino. Movimento negro e educação: ressignificando e politizando a raça. In: Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 120, p. 727-744, jul./set. 2012.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93, p. 69-82, jan./jun. 1988,

GORDON, Lewis R. Fanon and the crisis of European man: an essay on philosophy and the human sciences. New York: Routlege, 1995.

GUERREIRO RAMOS, Alberto. A Introdução Crítica à Sociologia Brasileira. Rio de Janeiro: Andes, 1957.

HAYWOOD, H. Negro Liberation. New York: International Publishers, 1948.

HOFFMANN, Stanley. An American social science: International Relations. Daedalus, 106, (3), p. 41-60,1977.

HENDERSON, Errol A. Hidden in plain sight: racism in international relations

Theory. Cambridge Review of International Affairs, 26:1, p. 71-92, 2013.

HENDERSON, Errol A. Racism in international relations theory. In: ANIEVAS, Alexander; MANCHANDA, Nivi; SHILLIAM, Robbie (Org.). Race and Racism in

International Relations. London: London University College, 2017.

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios do racismo cotidiano. Trad. De Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LUXEMBURG, Rosa. Peace Utopias. In: WATERS, Mary-Alice. Rosa Luxemburg Speaks. NY: Pathfunders Press, 1986.

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas, Florianópolis, n. 22, v. 3, p. 935-952, set./dez. 2014

DOTY, Roxanne Lynn. Imperial Encounters: The Politics of Representation in North-South Relations. Minneapolis: Minnesota Press, 1996.

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. São Paulo: N-1 Edições, 2018a.

MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo: N-1 Edições, 2018b.

MBEMBE, A. Políticas de inimizade. São Paulo: N-1 Edições, 2020.

MILLS, Charles W. The Racial Contract. New York: Cornell University Press, 1997.

MEMMI, A. Portrait du colonisé. Portrait du colonisateur. Paris: Gallimard, 1985.

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. In: Programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira [S.l: s.n.], 2004. Disponível em: https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf Acesso em 10 outubro 2022

NASCIMENTO, Abdias do. O Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

NASCIMENTO, Abdias do. O Quilombismo: documentos para uma militância pan-africanista. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Ipeafro, 2019.

ROBINSON, Cédric J. Racial Capitalism: The Non objective Character of Capitalist Development. Tabula Rasa [online], n.28, p.23-56, 2018.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o "encardido", o "branco" e o "branquíssimo": raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

SCHUCMAN, Lia Vainer. Sim, nós somos racistas: estudo psicossocial da branquitude paulistana. Psicologia e Sociedade, 26 (1), p. 83-94, 2014.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SILVA, Denise Ferreira. A dívida impagável. Trad. de Amilcar Packer e Pedro Daher. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.

SILVA, Karine de Souza. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”: Direito, imigração e a perpetuação do racismo estrutural no Brasil. Revista Mbote, Salvador, Bahia, v. 1, n. 1, p.20-41. jan./jun. 2020. Disponível em: https://www.revistas.uneb.br/index.php/mbote/index

SILVA, Karine de Souza. “Esse silêncio todo me atordoa”: a surdez e a cegueira seletivas para as dinâmicas raciais nas Relações Internacionais. Revista de Informação Legislativa, v. 58, p. 37-55, 2021. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/58/229/ril_v58_n229_p37

SILVA, Karine de Souza. O Direito Internacional e a performatização da inocência branca: estudo sobre o genocídio do povo negro brasileiro e o Tribunal Penal Internacional, 2022a. (Prelo)

SILVA, Karine de Souza. O genocídio negro e o assassinato do refugiado africano Moïse Kabagambe: o retrato que o Brasil brancocentrado nunca quis revelar ao mundo. Empório do Direito, p. 1, 2022b. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/o-genocidio-negro-e-o-assassinato-do-refugiado-africano-moise-kabagambe-o-retrato-que-o-brasil-brancocentrado-nunca-quis-revelar-ao-mundo

SILVA, Karine de Souza; CASTELAN, Daniel R. . 'A thousand nations shaped my face': Brazil, south-south migration and community engagement (outreach) in international Relations. Revista de Extensão, v. 16, p. 154, 2019.

VITALIS, R. White world order, black power politics: The birth of American international relations. New York: Cornell University Press, 2015.

WALT, Stephen M. Is IR still ‘an American social science?’ Foreign Policy.2011 Disponível em: https://foreignpolicy.com/2011/06/06/is-ir-still-an-american-social-science/?fbclid=IwAR1kWIrOs1xSl4PibLcfEiTtG2rAJN-AiQXZJgFl_OQEBbeNgyRn5u3keIU

WEKKER, Gloria. White Innocence: paradoxes of colonialism and race. Durhan and London. Duke University Press, 2016.

WOODSON, C. G. A deseducação do negro. São Paulo: Medu Neter Livros, 2018.

Publicado

2023-08-28

Como Citar

SILVA, Karine de Souza. Os Estudos Críticos da Branquitude e as Relações Internacionais: disputando narrativas e desafiando estruturas epidérmicas de poder em ensino, pesquisa e extensão. Seqüência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 44, n. 93, p. 1–47, 2023. DOI: 10.5007/2177-7055.2023.e92064. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/92064. Acesso em: 3 jul. 2024.