Escrevendo a partir de outras margens. Diferença, exceção e tradução no mundo de língua portuguesa: contrapontos entre representações literárias e paradigmas críticos
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2017v37n1p65Resumo
Enquanto enquadramento conceptual para estudar as chamadas literaturas pós-coloniais, a tradução constitui um paradigma crítico complexo que abre inúmeros caminhos teóricos a partir de onde ler e situar as representações literárias sob uma perspetiva global. No que concerne ao que pode ser definido como literaturas africanas eurófonas (Zabus, 2007), o conceito de tradução oferece a possibilidade de problematizar diversas questões críticas, em particular as que dizem respeito à “diferença cultural” (Bhabha, 1994) e, por isso, à “materialização [textual] do outro” (Ahmed, 2000). Neste sentido, a tradução torna-se um conceito operativo não apenas para uma hermenêutica textual, mas também para uma reflexão epistemológica mais ampla, permitindo discutir os paradigmas que caracterizam a receção crítica do romance africano e, portanto, o próprio campo da crítica literária africana. Através da análise de autores e textos provenientes das chamadas literaturas africanas lusófonas, o presente artigo visa traçar um percurso crítico que destaque as possibilidades teóricas que o conceito de tradução oferece, de modo a que as representações literárias possam ser abordadas como “experiências epistemológicas” cruciais (García Canclini, 2012, 50), a partir das quais se pode ler e compreender as alterações, os desafios e as transformações do nosso tempo.
Referências
Afropolitan Magazine: http://www.afropolitan.co.za. Johannesburg, South Africa.
Agamben, Giorgio. Quel che resta di Auschwitz. L’archivio e il testimone. Milano: Bollati Boringhieri, 1998.
——. Homo Sacer. Il potere sovrano e la nuda vita. Torino: Einaudi, 1995.
——. Il linguaggio e la morte. Un seminario sul luogo della negatività. Torino: Einaudi, 1982.
Ahmad, Aijaz. In Theory: Classes, Nations, Literatures. London & New York: Versus, 1992.
——. “The Politics of Literary Postcoloniality.” Race & Class, 36.3 (1995): 1-20.
Ahmed, Sara. Strange Encounters: Embodied Others in Post-coloniality. New York: Routledge, 2000.
Apter, Emily. The Translation Zone. A New Comparative Literature. Princeton: Princeton University Press, 2006.
Appiah, Kwame Anthony. “Thick Translation.” Callaloo, 16.4 (1993): 808-819.
Balandier, George. “La situation coloniale: Approche théorique.” Cahiers internationaux de sociologie, 11.51 (1951): 44 -79.
––––. Préface em Smouts, M-C. (Org.) La Situation postcoloniale. Paris: Presses de Sciences Po., 2007.
Bandia, Paul. Translation as Reparation. Writing and Translation in Postcolonial Africa. New York: Routledge, 2008.
Bassnett, Susan; Trivedi, Harish. Post-Colonial Translation: Theory and Practice. London: Routledge, 1999.
Basto, Maria-Benedita. A Guerra das Escritas. Literatura e Nação em Moçambique. Viseu: Vendaval, 2006.
Bhabha, Homi K. The Location of Culture. London: Routledge, 1994.
Blanchard, Pascal; Bancel, Nicolas; Lemarie, Sandrine. La Fracture coloniale. La Société française au prisme de l’heritage colonial. Paris: La Découverte, 2005.
Borges Coelho, João Paulo. As Duas Sombras do Rio. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.
——. Índicos Indícios – Meridião e Setentrião. (2 vols). Lisboa: Editorial Caminho, 2005.
——. “Entrevista com João Paulo Borges Coelho, por Rita Chaves.” VIA ATLÂNTICA, 16 (2009): 151-166.
——. “A Literatura e o léxico da pós-colonialidade. Uma Conversa com João Paulo Borges Coelho por Elena Brugioni,” Diacrítica, 24.3 (2010): 427-444.
Bourdieu, Pierre. The Field of Cultural Production: Essays in Art and Literature. New York: Columbia University Press, 1993.
Brugioni, Elena. “Old empires, new cartographies: problematizing ‘lusophone categorizations’.” In Ribeiro Sanches, Manuela; Ferreira Duarte, João; Clara, Fernando; Martins, Leonor (eds.) Europe in Black and White. Imigration, Race, and identity in the ‘Old Continet’. Bristol, UK / Chicago, USA: Intellect Book, 2011. 199-208
——. Mia Couto. Representação, História(s) e Pós-colonialidade. Vila Nova de Famalicão: Húmus Edições-CEHUM, 2012.
——. “Narrando O(s) Índico(s). Reflexões em torno das ‘geografias transnacionais do imaginário’.” In Brugioni, Elena, Passos, Joana (eds.) Dossier Narrando o Índico in Diacrítica – Literatura, 27.3 (2013): 121-137.
Can, Nazir Ahmed. Discurso e Poder nos romances de João Paulo Borges Coelho. Maputo: Alcance Editores, 2015.
Carvalho, Ruy Duarte de. Vou lá Visitar Pastores. Lisboa: Cotovia, 1999.
——. Os Papéis do Inglês. Lisboa: Cotovia, 2000.
——. Lavra. Poesia Reunida 1970/2000. Lisboa: Cotovia, 2005.
——. “Falas & vozes, fronteiras & paisagens ... escritas, literaturas e entendimentos.” Setepalcos, 5 (2006), Coimbra: Cena Lusófona.
——. A Câmara, a escrita e a coisa dita…fitas, textos e palestras. Lisboa: Cotovia, 2008.
Chaundhury, Kirti N. Asia before Europe: Economy and Civilization of the Indian Ocean from the rise of Islam to 1750. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
Chaves, Rita; Macêdo, Tania. Literaturas de língua portuguesa. Marcas e Marcos. Angola. São Paulo: Arte & Ciência, 2007.
Chaves, Rita. “Desmedida: O Brasil, para além da paisagem, em Ruy Duarte de Carvalho.” Remate de Males, 26.2 (jul./dez. 2006): 279-291.
——. “A Ilha de Moçambique: Entre as Palavras e o Silêncio.” Available at: http://www.macua.org/coloquio/A_ILHA_DE_MOCAMBIQUE.htm, 2002.
Couto, Mia. Se Obama fosse africano? E Outras interinvenções. Lisboa: Caminho, 2009.
Falconi, Jessica “Literaturas Africanas, língua portuguesa e pós-colonialismos.” In Brugioni, Elena et al. (Orgs.) Itinerâncias. Percursos e Representações da Pós-colonialidade | Journeys. Postcolonial Trajectories and Representations. Vila Nova de Famalicão: Húmus Edições-CEHUM, 2012. 203-218
———. “‘Para Fazer um Mar’. Literatura Moçambicana e Oceano Índico.” In Brugioni, Elena; Passos, Joana (eds.) Dossier “Narrando o Índico, Diacrítica – Literatura, 27.3 (2013): 77-92.
Ferreira, Ana Paula. “Specificity without Exceptionalism: Towards a Critical Lusophone Postcoloniality.” In De Medeiros, Paulo (ed.) Postcolonial Theory and Lusophone literatures, Utrecht, Portuguese Studies Centre, 2007. 21-40
Firmino, Gregório. A questão linguística na África pós-colonial: o caso do português e das línguas autóctones em Moçambique. Maputo: Promédia, 2002.
Freyre, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regimen de economia patriarchal. Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 1933.
García Canclini, Néstor. A Sociedade sem Relato. Antropologia e Estética da Iminência. São Paulo: EDUSP, 2012.
Garuba, Harry. “The Critical Reception of the African Novel.” In F. Abiola Irele (ed.) The Cambridge Companion to the African Novel. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. 243-262
Gonçalves, Perpétua. A Génese do Português de Moçambique. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.
Hallward, Peter. Absolutely Postcolonial. Writing between the Singular and the Specific. Manchester: Manchester University Press, 2001.
Hitchcock, Peter The Long Space. Transnationalism and Postcolonial Form. Stanford: S.U. Press, 2010.
Hofmeyr, Isabel. “The Black Atlantic Meets the Indian Ocean: Forging New Paradigms of Transnationalism for the Global South – Literary and Cultural Perspective. Social Dynamics, 33.2 (2007): 3-32.
Huggan, Graham. The Postcolonial Exotic. Marketing the Margins. London & New York: Routledge, 2001.
Leite, Ana Mafalda. Literaturas Africanas e Formulações Pós-Coloniais. Lisboa: Edições Colibri, 2003.
Lionnet, Françoise; Shih, Shu-mei (eds.) Minor Transnationalism. Durham and London: Duke University Press, 2005.
Mbembe, Achille. “Afropolitanism.” In Njami, Simon & Lucy Durán (eds) Africa Remix: Contemporary Art of a Continent. Johannesburg: Johannesburg Art Gallery, 2007. 26-30
Mendonça, Fátima. Literatura Moçambicana, as dobras da escrita. Maputo: Ndjira, 2011.
Noa, Francisco. “O Oceano Índico e as rotas da transnacionalidade na poesia moçambicana.” Working paper available at: http://cesab.edu.mz/, 2012.
——. “L’océan Indien et les routes de la transnationalité dans la poésie mozambicaine.” Études Littéraires Africaines – Dossier Littératures de l’Angola, du Mozambique et du Cap-vert (Ed. Maria-Benedita Basto), 37 (2014): 73-88.
Parry, Benita. “The Institutionalisation of Postcolonial Studies.” In Lazarus, Neil (ed.) The Cambridge Companion to Postcolonial Literary Studies. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. 66-82
Pratt, Mary Louise. Imperial Eyes: Travel Writing and Transculturation. London: Routledge, 1992.
Quintais, Luís. “O olhar do rinoceronte – ou o Ruy como eu o vejo.” Setepalcos n. 5. Coimbra: Cena Lusófona, 2006. 18
Rama, Angel. “Dez problemas para o romancista latino-americano.” In Aguiar, Flávio; Vasconcelos, Sandra (eds). Angel Rama. Literatura e cultura na América Latina. São Paulo: EDUSP, 2001.
Robinson, Douglas. Translation and Empire. Postcolonial Theories Explained. New York: Routledge. 2014 [1997].
Sassen, Saskia. “Spatialities and Temporalities of the Global: Elements for a Theorization”. Public Culture 12.1 (2000): 215-232.
Sousa Ribeiro, António. “Vítima do próprio sucesso? Lugares Comuns do Pós-colonial.” In Brugioni, Elena et al. (eds.) Itinerâncias. Percursos e Representações da Pós-colonialidade | Journeys. Postcolonial Trajectories and Representations. Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2012. 39-47
Wainaina, Binyavanga. I am a Pan-Africanist, not an Afropolitan. Plenary Lecture at ASAUK Conference, Leeds University, 6-8th September 2012 (unpublished text).
Zabus, Chantal. The African Palimpsest. Indigenization of Language in West African Europhone Novel. Amsterdam & New York: Rodopi, 2007.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2017 Cadernos de Tradução

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista).