O tratado dos três impostores: Um enredo filosófico, ou a (Re)tradução como estratégia do iluminismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n1p73

Resumo

O artigo enfoca a complexa origem e o histórico de publicação do tratado clandestino Traité des trois imposteurs [Tratado dos três impostores] que põe em ação o processo o Iluminismo radical. O tratado é composto quase exclusivamente por uma compilação de paráfrases e citações de textos heterodoxos do século XVII. Apresenta-se um resumo das mais importantes fontes coligidas na colagem. Uma delas é De Admirandis Naturae Reginae Deaeque Mortalium Arcanis [Dos admiráveis mistérios da Natureza, rainha e deusa dos mortais] de Giulio Cesare Vanini (1619), na qual se centra a presente análise. Duas edições do tratado são aqui particularmente importantes, e serão examinadas detalhadamente: a primeira publicação impressa (1719), sob o título L’esprit de Spinosa [O espírito de Spinoza] (que pode ser vista como uma tradução para o francês) e a reedição como Traité des trois imposteurs (1768), provavelmente por D’Holbach (tomada como retradução para o francês). A hipótese desenvolvida aqui é a de que, através da tradução e da retradução, passo a passo, ocorreu uma mudança de significado, do panteísmo renascentista e da ideia de religião natural para o ateísmo e o materialismo. Essa hipótese é avaliada por uma análise comparativa precisa de dois excertos do Diálogo 50 de De Admirandis, da tradução francesa em L’Esprit de Sponsa e da retradução francesa em Traité des trois imposteurs. Finalmente, a tradução italiana de 1798 será comparada
às edições/traduções anteriores.

Biografia do Autor

Sonja Lavaert, Vrije Universiteit Brussel, Bruxelas

Sonja Lavaert: PhD in Philosophy and Moral Sciences from the Vrije Universiteit Brussel, Belgium (2011). Master in Philosophy and specialization Italian language and literature from Ghent University, Belgium (1980). Professor of Modern philosophy, Enlightenment, Theory of language, Language and society, and Translation and Ethics, Department of Philosophy and Department of Applied Linguistics and Translation, Vrije Universiteit Brussel, Belgium. E-mail: sonja.lavaert@vub.be

Referências

References

Primary Sources

Anonymus. La vie et l’esprit de Mr. Benoit de Spinoza. S.l.: s.n., 1719.

_____. Traité des trois imposteurs. Yverdon, de l’imprimerie du Professeur de Felice [Amsterdam], 1768.

_____. Traité des trois imposteurs. S.l.: s.n., 1777.

_____. Traktat über die drei Betrüger. Traité des trois imposteurs (L’esprit de Mr. Benoit de Spinosa). Kritisch herausgegeben, übersetzt, kommentiert und mit einer Einleitung versehen von W. Schröder. Hamburg: Felix Meiner Verlag, 1992.

_____. Trattato dei tre impostori. La vita e lo spirito del signor Benedetto de Spinoza. A cura di S. Berti. Prefazione di Richard H. Popkin. Torino: Einaudi, 1994.

_____. Il celebre e raro trattato de’ tre impostori 1798. A cura di L. Guerci. Torino: Edizioni dell’Orso, 1996.

_____. Spinoza II. oder Subiroth Sopim. Rom, bey der Wittwe Bona Spes 5770. [Berlin, 1787?].

Durand, D. La vie et les sentimens de Lucilio Vanini. Rotterdam: Gaspar Fritsch, 1717.

_____. The Life of Lucilio (alias Julius Caesar) Vanini, Burnt for Atheism at Thoulouse &c. London: s.n., 1730.

Vanini, G. C. De admirandis naturae reginae Deaeque Mortalium Arcanis (I meravigliosi segreti della natura, regina e dea dei mortali, 1616. Tutte le opere. A cura di P. Raimondi. Milano: Bompiani, 2010.

_____. Amphitheatrum aeternae providentiae (Anfiteatro dell’eterna provvidenza), 1615. Tutte le opere. A cura di P. Raimondi. Milano: Bompiani, 2010.

Voltaire. Épitre à l’auteur du livre des trois imposteurs (1769). Oeuvres complètes. Vol. 10. Paris, 1877. 402-405.

Secondary Literature

Benitez, M. La Face cachée des Lumières. Recherches sur les manuscrits philosophiques clandestins de l’âge classique. Paris / Oxford: Universitas / Voltaire Foundation, 1996.

Berti, S., Charles-Daubert, F. and Popkin, R. H. (eds.). Heterodoxy, Spinozism, and Free Thought in Early-Eightheen-Century Europe. Studies on the Traité des trois imposteurs. Dordrecht / Boston / London: Kluwer Academic Publishers, 1996.

Brisset, A. “Retraduire ou le corps changeant de la connaissance. Sur l’historicité de la traduction”. Palimpsestes 15, 2004. p. 39-67.

Charles-Daubert, F. “Les Traités des trois imposteurs aux XVIIe et XVIIIe siècles”. Canziani, G. (ed.). Filosofia e religione nella letteratura clandestina. Secoli XVII e XVIII. Milano: FrancoAngeli, 1994. p. 291-336.

Israel, J. Radical Enlightenment. Philosophy and the Making of Modernity 1650-1750. Oxford: Oxford University Press, 2001.

Israel, J. & Mulsow, M. Radikalaufklärung. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2014.

Koskinen, K. and Paloposki, O., “Retranslation”. Gambier, Y. and Van Doorslaer, L. (eds.). Handbook of Translation Studies 1. Amsterdam: John Benjamins, 2010. p. 294-298.

Kozul, M. Les Lumières imaginaires. Holbach et la traduction. Oxford: Oxford Voltaire Foundation, 2016.

Lavaert, S. “Niccolò Machiavelli. The logic of conflict, against the logic of war.” Philosophy of War and Peace. Praet, D. (ed.). Brussel: VUBPress, 2017. p. 105-119.

Paganini, G. Introduzione alle filosofie clandestine. Roma/Bari: Laterza, 2008.

Schröder, W. Ursprünge des Atheismus. Stuttgart-Bad Cannstatt: frommann-holzboog, 2012 (particulièrement “§8. Traité des trois imposteurs / L’esprit de Spinoza.” p. 452-464).

_____. “Panthéisme – spinozisme – matérialisme athée. La métaphysique du Traité des trois imposteurs.” La Lettre clandestine 24, 2016. p. 133-140.

Venuti, L. “Retranslations: The Creation of Value”. Bucknell Review 47 (1), 2003. p. 133-140.

Vernière, P. Spinoza et la pensée française avant la révolution. Paris: PUF, 1954 (particulièrement “Panthéisme ou matérialisme?” t. II, p. 355-375).

Vercruysse, J. “Bibliographie descriptive des éditions du Traité des trois imposteurs.” Tijdschrift van de Vrije Universiteit Brussel 17, 1974/75. p. 65-70.

Downloads

Publicado

10-01-2019

Como Citar

Lavaert, S. (2019). O tratado dos três impostores: Um enredo filosófico, ou a (Re)tradução como estratégia do iluminismo. Cadernos De Tradução, 39(1), 73–93. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n1p73

Edição

Seção

Edição Retranslation in context