Memória da colonização em tradução e performance

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7968.2020v40n3p34

Resumo

O artigo tem o objetivo de analisar a cena inaugural da conquista da América como “ato reiterativo” e suas traduções intersemióticas como conformadoras de um arquivo que o restaura e repete em um presente em constante renovação, constituindo-se as traduções como reperformances dessa cena inaugural e de seus desdobramentos. Ao observar os movimentos que acompanham o momento inaugural da conquista territorial, vem à baila a condenação de práticas incorporadas de indígenas (língua falada e ritos, em particular) e a funcionalidade da tentativa de seu apagamento para efeitos de dominação. O trabalho de transcrição e tradução de parte do repertório de culturas ameríndias, levado a cabo por missionários como Diego de Landa e Bernardino de Sahagún, discute-se como duplo movimento onde se enfrentam memória e apagamento. Se, por um lado, deixam um registro de memória arquival que permite reconhecer as performances indígenas banidas pelo poder colonial, por outro lado, a concepção monológica da tradução faz prevalecer o objetivo da conversão da cultura de partida, redundando em uma forma de apagamento por sua subjugação aos paradigmas da cultura de chegada.

Biografia do Autor

Eleonora Frenkel Barretto, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina,

Professora de Literatura na Universidade Federal de Sana Catarina (UFSC), nos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Letras Espanhol, Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Realizou estágio pós-doutoral junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, da UNIOESTE, com bolsa do PNPD/CAPES. Possui Doutorado em Literatura pela UFSC (2011, bolsista Capes/CNPq), com pesquisa sobre as crônicas de Roberto Arlt e as gravuras de Francisco de Goya. Autora do livro Roberto Arlt e Goya: crônicas e gravuras à água-forte (Florianópolis: EDUFSC, 2015). Realizou mestrado em Estudos da Tradução (UFSC, 2007), com ênfase em Tradução Literária. Tem graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1999, bolsista FAPESP). Experiência docente na área de Letras, com atuação no ensino de Teoria Literária, Literatura, Teoria da Tradução e Língua Estrangeira. Publica na mesma área, com ênfase em Literatura Latino-Americana, Tradução e Estudos Culturais.

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Publicado

11-09-2020

Como Citar

Barretto, E. F. (2020). Memória da colonização em tradução e performance. Cadernos De Tradução, 40(3), 34–57. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2020v40n3p34