Movimentos sociais e infâncias: a presença das crianças no cotidiano e sua configuração em formas de luta política

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2025.e105870

Palabras clave:

Infâncias, Movimentos sociais, Presença, Bebês, Cotidiano

Resumen

Este artigo apresenta estudos sobre movimentos sociais e infância desenvolvidos por suas autoras num período compreendido entre os anos de 2019 aos dias atuais. O argumento central se sustenta na afirmação de que a presença das crianças impulsiona o Movimento, conferindo-lhe um ritmo variável na construção de uma infância que não apenas os integra, mas também habita e produz os espaços ocupados. Para tal, buscou-se relacionar a presença das crianças, desde bebês, na dinâmica da produção e da vida cotidiana em um edifício e um terreno ocupado por dois movimentos sociais Movimento de Moradia na Luta por Justiça (MMLJ): a Ocupação Ipiranga e o acampamento Marielle Vive! Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Na estruturação procuramos destacar os movimentos sociais urbanos e os rurais e suas relações com as crianças. Isso nos forneceu formas de compreender a presença e a produção do espaço pelos bebês no cotidiano de uma Ocupação, fruto da luta por moradia, em São Paulo, assim como, a presença das crianças de variadas idades na luta pela terra numa perspectiva intergeracional em um acampamento do MST, em Valinhos. Palavras de ordem, gestuais, expressões de desejos, aceitação ou não de pontos de vista adultos são manifestações infantis entendidas como importantes sinais de presença e desta como motivação de atos políticos implicados à criação de espaços de brincadeiras e relações para e com as crianças. Evidencia-se que se trata de práticas que são também forjadas nas relações adultocentradas, ainda frequentes, que nos remetem ao poder exercido por pessoas adultas para com as crianças envolvendo escolhas em processos decisórios e, de modo complexo, concomitante ao entendimento dos direitos das crianças. Lembram-nos de não idealizar ou universalizar a infância.  Pretendemos promover reflexões e alguns tensionamentos nos estudos das infâncias, estudos urbanos e dos movimentos sociais, revelando que a presença de crianças altera, ainda que sutilmente, a dinâmica do movimento social e da vida.  

Biografía del autor/a

Márcia Aparecida Gobbi, Universidade de São Paulo

Possui graduação e licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1992), mestrado em Educação, na área de Ciências Sociais, Cultura e Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1997) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, atuando na licenciatura em Ciências Sociais, Pedagogia e junto Programa de Pós-Graduação em Educação. Atualmente dedica-se a investigar representações e criações da infância em luta por moradia em ocupações na cidade de São Paulo e atua em formação de professores e ensino de sociologia.com ênfase em práticas e metodologia do ensino,volta-se ainda para Extensão coordenando projetos voltados à escola pública e ensino de sociologia.

Juliana Diamente Pito , Universidade de São Paulo

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2005), mestrado em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2010) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2023). É professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico da Universidade Federal de São Paulo, atuando principalmente nos seguintes temas: educação infantil, educação e cultura, bebês e desigualdades sociais.

Vanessa Marques D´ ´´Albuquerque , Universidade de São Paulo

Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2001), mestrado em Educação e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009), master na Abordagem Educativa de Reggio Emilia pelo Centro Internacional Loris Malaguzzi (IT). Atua na área de formação continuada de educadores/as e coordenadores/as da primeira Infância e das séries inicias do EFI em diversos municípios brasileiros. Faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas Crianças, Práticas Urbanas, Gênero e Imagens, na FE- USP.

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Publicado

2025-11-03

Número

Sección

Dossiê: Parâmetros de qualidade da educação infantil: disputas, conflitos e desafios