Quando as (hetero)normas estremecem o cotidiano da Educação Infantil: conversas com professoras sobre as marcas de gênero expressas nas interações entre crianças
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2018v20n37p246Resumo
Fruto de pesquisa recentemente concluída, o estudo apresentado neste texto teve como objetivo investigar, sob a ótica de professoras da Educação Infantil, como as marcas de gênero se fazem presentes nos momentos de interação entre crianças de uma escola da rede pública de Itaperuna/Rio de Janeiro. Haja vista a necessidade de se desestabilizar o regime heterocentrado que busca, incansavelmente, normatizar corpos, gêneros e sexualidades, esta pesquisa é ancorada numa proposta que busca fomentar outras formas de olhar/(re)pensar o mundo em prol da necessidade de se criar estratégias de enfrentamento à heteronormatividade. Para isso, foram realizadas conversas com professoras da Educação Infantil dessa escola pública, que evidenciaram a forte presença das marcas de gênero no cotidiano educacional. Os achados da pesquisa apontaram para a necessidade de se buscar estratégias/brechas capazes de promover diálogos mais abertos entre a escola, as crianças e as famílias, com o objetivo de negociar sentidos que possam ser potentes para diminuir a incidência de preconceitos e discriminações em torno das questões de gênero que estremecem o cotidiano da Educação Infantil.
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