Crianças pequenas terena: reencontros ancestrais em tempos de pandemia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2020v22nespp1332

Resumo

A pandemia, provocada pela Covid-19, tem provocado complexas e contraditórias reações, gestadas pelo cerceamento das liberdades. Os tempos e os espaços urbanos se mostram apartados de significados e, ao mesmo tempo, são absolutizados. E nas aldeias indígenas? Como esse momento está sendo vivido? Como as crianças estão passando por esses tempos? Seus cotidianos mudaram? Este texto tem como objetivo registrar as narrativas vividas e construídas com crianças pequenas indígenas residentes em quatro aldeias Terena de Miranda (MS): Cachoeirinha, Babaçu, Lalima e Passarinho. A pesquisa tem inspiração na antropologia da infância e se fundamenta em observações, conversas e registros, com o apoio e a mediação de mães, pais, avós, professoras, professores e lideranças indígenas. Parte do pressuposto de que há tempos, espaços e sabedorias ancestrais, presentes no cotidiano das aldeias, que trazem questionamentos e jeitos outros de viver essa inquietante e exigente experiência. Há riscos. Há ensinamentos. 

 

Biografia do Autor

Mirian Lange Noal, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil

Sou Professora Primária/Curso Normal de Grau Colegial (1971), licenciada em Educação Física (1973) e em Pedagogia (1980) pela Universidade Federal de Santa Maria, mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1994) e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (2006). Sou professora desde 1974 e atuo como docente no ensino superior desde 1980 (UNIFRA/RS; UCDB/MS;UFMS/MS). Desenvolvo e oriento pesquisas sobre os seguintes temas: formação inicial e continuada de professores/as; crianças pequenas indígenas; diversidade cultural; espaços e tempos urbanos para o brincar; corporeidade; educação do campo. Participo, como pesquisadora, do Grupo de Estudos em Formação de Professores na Educação a Distância (GEForPED) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo (NEPECAMPO). Estou Presidente da COESE do Curso de Especialização em Educação do Campo/EaD/UFMS e Presidente do Colegiado do Curso de Licenciatura em Educação do Campo/CCHS/UFMS. Luto pela educação, se se quer, intencionalmente, aliada com as lutas das classes trabalhadoras. Educação que compartilha vida, conhecimentos, contradições, magias. Creio nas possibilidades de entendimento entre os seres humanos. 

Denise Silva, UFMS e IPED

Pós-doutora em Linguística e Língua Portuguesa

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural/Miranda/MS/Brasil

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Publicado

2020-12-28