Medicalização na infância: disciplinamento, controle e punição
DOI:
https://doi.org/10.5007/1518-2924.2022.e82805Palavras-chave:
Medicalização, Patologização, Patologização , Instituições educacionaisResumo
Este artigo objetiva analisar os discursos produzidos nos registros de crianças com deficiência que frequentam a Sala Multimeios da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. A leitura e análise da documentação pedagógica compilada pela Sala Multimeios ocorreram com idas semanais à escola realizando um trabalho contínuo em relação ao material produzido e armazenado nesse espaço. A análise do discurso teve base nos estudos de Foucault considerando as singularidades e condições de existência dos enunciados. Três eixos analíticos revelam a medicalização em ação: Diagnóstico via laudo médico, Presença no laudo de indicações de práticas pedagógicas à instituição e queixa de condutas das crianças consideradas incompatíveis com sua faixa etária. Os resultados evidenciam a falta de informações pedagógicas em relação ao processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Há prevalência dos discursos médicos enfatizando a perspectiva médico-clínica de aprendizagem fortalecendo uma visão biologicista e patologizante produzindo barreiras ao desenvolvimento infantil como potência criativa e em constante transformação.
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