Medicalização na infância: disciplinamento, controle e punição

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1518-2924.2022.e82805

Palavras-chave:

Medicalização, Patologização, Patologização , Instituições educacionais

Resumo

Este artigo objetiva analisar os discursos produzidos nos registros de crianças com deficiência que frequentam a Sala Multimeios da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. A leitura e análise da documentação pedagógica compilada pela Sala Multimeios ocorreram com idas semanais à escola realizando um trabalho contínuo em relação ao material produzido e armazenado nesse espaço. A análise do discurso teve base nos estudos de Foucault considerando as singularidades e condições de existência dos enunciados. Três eixos analíticos revelam a medicalização em ação:  Diagnóstico via laudo médico, Presença no laudo de indicações de práticas pedagógicas à instituição e queixa de condutas das crianças consideradas incompatíveis com sua faixa etária. Os resultados evidenciam a falta de informações pedagógicas em relação ao processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Há prevalência dos discursos médicos enfatizando a perspectiva médico-clínica de aprendizagem fortalecendo uma visão biologicista e patologizante produzindo barreiras ao desenvolvimento infantil como potência criativa e em constante transformação.

Biografia do Autor

Ana Carolina Christofari, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Desde 2016 é professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no Departamento de Estudos Especializados em Educação (EED) do Centro de Ciências da Educação. Coordenou o Grupo de Estudos em Michel Foucault (UFSC). De julho de 2017 a agosto de 2018 atuou como vice-chefe do Departamento EED. Doutora em Educação pelo PPGEdu/UFRGS na área de Educação Especial e Processos Inclusivos (2014). Tese intitulada:Modos de ser e de aprender na escola: medicalização (in)visível?. Mestre pelo programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS (2008). Dissertação intitulada: Avaliação da Aprendizagem e Inclusão Escolar: trajetórias nos Ciclos de Formação. Especialização em Psicopedagogia Institucional e Tecnologias da Informação e Comunicação PPGEDU-UFRGS (2016). Graduação em Pedagogia com ênfase em Séries Iniciais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005). Experiência na área de Educação. Integrante do NEPIE -Núcleo de Estudos em Políticas de Inclusão Escolar (Núcleo vinculado ao PPGEDU/UFRGS) e do Grupo de Estudos em Educação Especial ( GEEP) da UFSC. De 2006 a 2008 organizou reuniões da pesquisa sobre Políticas Públicas de Inclusão Escolar no Estado do Rio Grande do Sul. Trabalhou como professora tutora da Universidade do Programa Pró-Licenciatura do MEC, PROLICENMUS/UFRGS - Licenciatura em Música Modalidade a Distância (MOODLE), na Interdisciplina: Educação Brasileira 2009/0. Em 2015/1 atuou como professora substituta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Faculdade de Educação. Atuou de 2009 a 2016 como professora de Educação Básica na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Trabalhou como professora convidada na IERGS em cursos de especialização envolvendo temáticas como: alfabetização e dificuldades de aprendizagem, currículo e avaliação escolar. Tem publicações na área da educação com as temáticas: medicalização, avaliação da aprendizagem, inclusão escolar e políticas públicas de inclusão escolar. Trabalha com formação de professores em cursos de licenciatura.

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Publicado

2022-07-22

Edição

Seção

Dossiê: Bebês e Crianças com Deficiência na Educação Infantil