Melhorar a espécie humana desde a infância: eugenia e higiene mental no Brasil e em Portugal (primeira metade do século XX)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2023.e93212

Palavras-chave:

Eugenia, Criança, Família, Escola/Instituições, Preconceito

Resumo

Este artigo contribui para o estudo da eugenia e da higiene mental tendo como foco o contexto infantil na família, escola e instituições, no Brasil e em Portugal, na primeira metade do século XX. Partindo da análise sobretudo de fontes documentais, publicadas e não publicadas, as autoras buscaram propostas para o melhoramento da espécie humana desde a infância. No Brasil, foram encontradas várias intervenções de ordem intelectual e política, como aconteceu no Laboratório de Pedagogia Experimental da Escola Normal Secundária de São Paulo (1914) e na Clinica de Euphrenia (1932) no Distrito Federal, Rio de Janeiro. Em Portugal, constatou-se que as formulações do pensamento higiénico e eugénico foram influentes na atuação de várias instituições de acolhimento, como aconteceu na Tutoria de Infância do Porto. As propostas presentes nas fontes analisadas, sobretudo produzidas por figuras ligadas ao poder – médicos, educadores, legisladores e políticos – permitiram identificar preocupações comuns com a saúde física e mental das crianças e, portanto, com a suposta regeneração nacional em ambos os países, mas denunciaram preconceitos sociais, que contribuíram para a disseminação de discriminações.

Biografia do Autor

Maria Julieta Weber, Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG

Graduada em História e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutora em Sociologia e Pós-Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná. Professora Associada da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vinculada ao Departamento de Educação e aos Programas de Pós-Graduação em Educação e em História . Pesquisadora do Grupo de Pesquisa História, Intelectuais e Educação no Brasil e no contexto internacional (GEPHIED - CNPq) e do Núcleo de Pesquisas em História Intelectual (PPGH - UEPG). Investigadora Visitante no ICS - Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Portugal, no período de fevereiro de 2022 a janeiro de 2023.

Patrícia Ferraz de Matos, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa

Patrícia Ferraz de Matos é Investigadora Auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, editora associada de Anthropological Journal of European Cultures (2020-2024), coordenadora da Europeanist Network da EASA (European Association of Social Anthropologists) (2020-2024) e directora-adjunta da revista Análise Social (2021-2024). É autora de The Colours of the Empire: Racialized Representations during Portuguese Colonialism (Berghahn Books, 2013), cujo trabalho original foi distinguido com o Prémio Victor de Sá de História Contemporânea 2005, e de Anthropology, Nationalism and Colonialism: Mendes Correia and the Porto School of Anthropology (Berghahn Books, 2023).

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Publicado

2023-05-03

Edição

Seção

Dossiê - Infâncias, racismos e educação infantil