O sentido solidário e sua relação com os limites éticos em pesquisa etnográfica com crianças cronicamente enfermas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2019v21n40p415

Resumo

Por meio dos referenciais teóricos e práticos da etnografia, a partir de uma perspectiva fenomenológica, este artigo desenvolve reflexões sobre os limites éticos da pesquisa com crianças cronicamente enfermas. A partir da apresentação de uma narrativa ambulatorial de uma criança acometida por dermatite atópica, desenvolve-se o conceito de sentido solidário como requisito para a parrhesía a fim do estabelecimento de uma troca genuína entre pesquisador e informante. Nesse caso, para além de uma escuta ética, o pesquisador deve considerar que o atual estado da criança enferma exige uma percepção e cuidados distintos daqueles relativos ao desenvolvimento de pesquisas etnográficas em outros contextos.

Biografia do Autor

Katerina Volcov, Universidade Federal de São Paulo

Doutora em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (2017), realizou Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Paulo (2019). É Mestra em Ciências - Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela Unifesp (2011) e bacharel em Comunicação Social - habilitação Relações Públicas - pela Universidade Estadual Paulista (1998). As pesquisas desenvolvidas no mestrado, doutorado e pós-doutorado são interdisciplinares, envolvendo os saberes das grandes áreas da Saúde e das Ciências Humanas e Sociais. Seus principais interesses, focos de pesquisa e trabalho estão nos campos da antropologia, comunicação, educação, saúde mental, saúde coletiva, sociologia e terapias complementares em saúde. Os corpos, as múltiplas manifestações do sofrimento e da violência e suas relações na e com a sociedade fazem parte de suas investigações acadêmicas, em especial, o corpo encarcerado, o corpo entorpecido e o corpo enfermo. .

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Publicado

2019-11-19