Infância e estrangeiridade: duas alteridades, a mesma minoridade
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2021.e72762Resumo
Este artigo trata da relação dialética entre infância e estrangeiridade, considerando a infância como uma forma de migração para uma nova fase da vida e o migrante como um tipo de criança que precisa de amparo para se integrar ao novo espaço. De que maneira as duas condições de alteridade se aproximam em seus aspectos simbólicos e subjetivos? A partir da acepção de minoria / minoridade de Deleuze e Guattari, refletimos sobre o que faz da criança um não sujeito social e do estrangeiro um não cidadão. De um lado está o estrangeiro que desconhece os códigos que devem ser assimilados para sua integração, sem direito à fala plena, que demanda proteção. Do outro, a criança que chega ao mundo na condição de ser frágil, precário e inferior. Pelo método abdutivo, levantamos questões sobre a situação da criança migrante nos aspectos psicológico, político e filosófico. Será que, assim como o bárbaro (leia-se: estrangeiro, migrante, refugiado), que sabe apenas balbuciar na sociedade que o acolhe, essa criança tem reforçada sua dimensão de sujeito menor, invisível e sem voz? Afinal, que tipo de estrangeiro a criança migrante é?
Referências
ARAÚJO, Denilson Cardoso de. A emancipação civil e suas relações com o Estatuto da Criança e do Adolescente. In: Jus.com.br. 3/2008. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/11069/a-emancipacao-civil-e-suas-relacoes-com-o-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente. Acesso em: 3/4/2020.
ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1983.
BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à nossa porta. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
BECKER, Simone; ROCHA, Taís Cássia Peçanha. Notas sobre a “tutela indígena” no Brasil (legal e real), com toques de particularidades do sul de Mato Grosso do Sul. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, PR, Brasil, v. 62, n. 2, p. 73 – 105, maio/ago. 2017.
BHABHA, Jacqueline. The Child: What sort of human? PMLA, Vol. 121, n. 5 (Oct. 2006), p. 1526-1535. 2006.
BRAZÃO, José Carlos Chaves. Os sensos de si e a intersubjetividade: uma perspectiva desenvolvimentista não-linear. Estudos e Pesquisas em Psicologia. v. 13, n. 1, p. 254-278, Rio de Janeiro, 2013.
CARVALHO, Alexandre Filordi de. Por uma ontologia política da (d)eficiência no governo da infância. In: RESENDE, Haroldo de. Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. (Kindle).
CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA. 20 nov. 1989. Unicef. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca. Acesso em: 17/2/2020.
DELEUZE, Gilles. Foucault. Trad. Claudia Sant’Anna Martins. São Paulo: Editora Brasiliense, 2005.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia. Vol.2. Trad. Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.
DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo império perecerá. Trad. Ane Lize Spaltemberg de S. Magalhães. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. 484 p.
ELHAJJI, Mohammed. Migrantes, uma minoria transacional em busca de cidadania universal. Interin, v. 22, n.1, jan/jun. p. 203-220. 2017.
GRAJZER, Deborah Esther. Crianças refugiadas: Um olhar para infância e seus direitos. 2018. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.
KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
KOHAN, Walter O. Da maioridade à minoridade: filosofia, experiência e afirmação na infância. In: KOHAN, Walter O. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
MOSCOSO, Maria Fernanda. “Nuevos sujetos, nuevas voces: ¿Hay lugar para la infancia en el pensamiento transnacional?”, In: Retos epistemológicos de las migraciones transnacionales, Anthropos, Barcelona: Enrique Santamaría (ed.), pp. 261-281. 2008.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Ed. Ridendo Castigat Mores, 2001.
PIOLET, Vincent. Les émirats et royaumes arabes: les travaillerus migrants au pays des free zones. Hérodote. 2009/2 (n. 133), pp. 136-151. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-herodote-2009-2-page-136.htm. Acesso em: 28/3/2020.
RESENDE, Haroldo de. (org.). Apresentação para Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica Editora, (Kindle). 2015.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
SAYAD, Abdelmalek. “O que é um imigrante?” In: SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade, Edusp, São Paulo, 1998.
SCHÜTZ, Alfred. O Estrangeiro: Um ensaio em Psicologia Social. Revista Espaço Acadêmico, ano X, n. 113, p. 117-129, out. 2010.
SIMMEL, Georg. O estrangeiro. In: MORAES FILHO, Evaristo de (Org.). 1983. Simmel – Sociologia. São Paulo: Ática. Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 34. p.182-188.
SODRÉ, Muniz. Por um conceito de minoria. In: PAIVA, R.; BARBALHO, A. (Orgs.). Comunicação e cultura das minorias. São Paulo: Paulus, 2005.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
STERN, Daniel. El mundo interpersonal del infante. 1a. ed. Buenos Aires: Paidós, 2005.
VESCHI, Jorge Luiz. O que é o humano? Paradigma da semelhança x paradigma da diferença. In: VI Simpósio de Pesquisa sobre Migrações: Caderno de resumos, UFRJ. Rio de Janeiro: Periplos, 2019.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais referentes aos artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.