Infância e estrangeiridade: duas alteridades, a mesma minoridade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2021.e72762

Resumo

Este artigo trata da relação dialética entre infância e estrangeiridade, considerando a infância como uma forma de migração para uma nova fase da vida e o migrante como um tipo de criança que precisa de amparo para se integrar ao novo espaço. De que maneira as duas condições de alteridade se aproximam em seus aspectos simbólicos e subjetivos? A partir da acepção de minoria / minoridade de Deleuze e Guattari, refletimos sobre o que faz da criança um não sujeito social e do estrangeiro um não cidadão. De um lado está o estrangeiro que desconhece os códigos que devem ser assimilados para sua integração, sem direito à fala plena, que demanda proteção. Do outro, a criança que chega ao mundo na condição de ser frágil, precário e inferior. Pelo método abdutivo, levantamos questões sobre a situação da criança migrante nos aspectos psicológico, político e filosófico. Será que, assim como o bárbaro (leia-se: estrangeiro, migrante, refugiado), que sabe apenas balbuciar na sociedade que o acolhe, essa criança tem reforçada sua dimensão de sujeito menor, invisível e sem voz? Afinal, que tipo de estrangeiro a criança migrante é?

Biografia do Autor

Mohammed ElHajji, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mohammed ElHajji é Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Pós-doutorado pela UNISINOS (Mídia e Migrações). Professor nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (POS-ECO) e Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS).

Fernanda Paraguassu, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fernanda Paraguassu é jornalista, mestranda em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Orientanda do Prof. Dr. Mohammed ElHajji.

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Publicado

2021-03-12