XXY de Lucía Puenzo: o corpo seccionado ou o duplo proibido no cinema latino-americano
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2022.e91172Palavras-chave:
XXY, Gênero, Filosofia, Cinema latino-americanoResumo
XXY é um longa-metragem de Lucía Puenzo, de 2007. Conta a história de Alex (Inés Efron), 15 anos, cuja vida no interior litorâneo do Uruguai já significa algo: o refúgio de sua família de Buenos Aires. Em razão de um acontecimento: a intersexualidade de Alex, reconhecida fisicamente desde seu nascimento, mesmo antes. O ensaio tem em vista quatro hipóteses fundamentais: 1. O drama de Alex não está propriamente na indecisão de seu sexo, mas na obrigação de defini-lo, e o quanto antes: pelo masculino ou pelo feminino. 2. A escolha de Alex é uma circunstância imposta a seu corpo: recusá-la não parece possível e decidi-la pressupõe uma cisão de sua dupla natureza (proibida). 3. A dupla natureza de Alex enfrenta, como herança histórica, uma ordem jurídica e biológica: contraria a lei das instituições civis e resiste à normalização do corpo; 4. O caso de Alex se insere em três grandes modelos ou domínios de corpos na história do pensamento moderno ocidental: o corpo-máquina (da metafísica cartesiana); o corpo-partido das “práticas divisórias” (Michel Foucault); e o corpo-duplicado, segundo sua ambiguidade ou biformidade. O ensaio propõe uma análise filosófica de tais problematizações a partir das relações estéticas e políticas em XXY.
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