O caso de Nicolas Leblanc e a produção da soda: elementos para compreensão da natureza da ciência
DOI:
https://doi.org/10.5007/1982-5153.2021.e71971Resumo
A inserção da História e Filosofia da Ciência no Ensino de Ciências é fundamental, pois remete à Natureza da Ciência (NdC).Entendendo que esse debate pode ser enriquecido por meio de um referencial teórico de interpretação da realidade, adotamos o materialismo histórico-dialético para analisar o caso de Nicolas Leblanc e a produção de soda para investigar a NdC. A síntese histórica se dá pela análise da particularidade do objeto considerando-a como campo de mediações entre os fatos universais e singulares inseridos na totalidade histórico-social. Analisamos as relações entre a química e a indústria no século XVIII e demonstramos, além das questões sobre NdC comumente destacadas, as dinâmicas entre o conhecimento artesanal e o industrial e as múltiplas relações entre a ciência e os aspectos sociais e naturais. O episódio explicita como a ciência é determinante e ao mesmo tempo determinada pela prática social.
Referências
ABRAHAN, J. Historical Review of Soap Manufacturing. The Journal of the American Pharmaceutical Association, v. 5, n. 3, p. 295-303, 1916.
ACADÉMIE ROYALE DES SCIENCES (France). Histoire de l'Académieroyaledes Sciences. Paris: L' imprimerie Royale, 1739.
ADÚRIZ-BRAVO, A.; ARIZA, Y. Lasimágenes de ciencia y de científico: una puerta de entrada a lanaturaleza de laciencia. In:ADÚRIZ-BRAVO, A., DIBARBOURE, M. &ITTURALDE, S. (org.).El quehacerdel científico al aula: pistas para pensar.Montevideo: Fondo Editorial Queduca, 2013. p. 13-20.
ALLCHIN, D. Evaluating knowledge of the nature of (whole) science. Science Education, v. 95, n. 3, p. 518-542, 2011.
ALMEIDA, B. C.; JUSTI, R. O caso histórico Marie Curie: investigando o potencial da história da ciência para favorecer reflexões de professores em formação sobre natureza da ciência. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 12, n. 1, p. 351-373, 2019.
ANASTASI, A. Nicolas Leblanc, savie, sestravaux, et l'histoire de lasoudeartificielle. Paris: Librarie Hachette Et C, 1884.
ARRIGO, V.; ASSAI, A. D. S.; LORENCINI JÚNIOR, Á.; ANDRADE, M. A. B. S.; BROIETTI, F. C. D. Análise dos Artigos Sobre “Natureza da Ciência” Publicados na Seção História da Química da Revista QNEsc entre 1995-2016. Química Nova na Escola, p. 178-185, 2018.
BEJARANO, N. R. R.; ADÚRIZ-BRAVO, A.; BONFIM, C. S. Natureza da Ciência (NOS): para além do consenso. Ciência & Educação (Bauru), v. 25, n. 4, p. 967-982, 2019.
BERNAL, J D. Ciência na história.Tradução de António Neves Pedro. Lisboa: Livros Horizonte, 1969.
BERTRAND, J. E. Descriptionsdesarts et métiersfaites ou approuvées par messieurs de l'Académieroyaledessciences de Paris. Neuchatel: De l’Imprimiere de la Société Typographique, 1783. Tomo 19.
BOSART, L.W. The early history of the soap industry. Journal of Oil & Fat Industries, New York, v. 1, n. 2, p. 76-80, 1924.
CHAGAS, A. P. Teorias ácido-base do século XX. Química nova na escola, v. 9, p. 28-30, 1999.
CHAPTAL, J. A. De l'industrefrançaise. Paris: Chez Antoine-Augustin Renouard, v. 2, 1819.
CLOW, A.; CLOW. N. The natural and economic history of kelp. Annals of Science, v. 5, n. 4, p. 297-316, jul. 1947.
COLTURATO, A. R; MASSI, L. Aportes teóricos e metodológicos para a história da ciência com base no materialismo histórico-dialético. Germinal: Marxismo e Educaçãoem Debate, v. 11, n. 3, p. 170-180, 2019.
CONNER, C. D. A people's history of science: Miners, midwives, and low mechanicks. New York: Nation Books, 2005.
CORDEIRO, M. D.; PEDUZZI, L. O. Q. Valores, métodos e evidências: objetividade e racionalidade na descoberta da fissão nuclear. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 9, n. 1, p. 235-262, 2016.
COMITÉ DE SALUT PUBLIC (France).Descriptiondes divers procédéspourextrairelasoudeduselmarin: Faiteenexécution d' unarzétédu Comité de Salutpublicdu 8 Pluviose, an 2 de Ia République Française. Paris: de L'imprimerie Du Comité de SalutPublic, 1794.
DE MORVEAU, L. B. G. Mémoiresurl’utilité d’uncourspublic de chimiedanslaville de Dijon: lesavantagesquienrésulteroientpourlaProvinceentiere, &lesmoyens de procurer à peu de fraiscetEtablissement. Dijon: Frontin, 1774.
DE MORVEAU, L. B. G.; LAVOISIER, A. L.; BERTHOLLET, C. L.; FOURCROY, A. F.; HASSENFRATZ, J. H.; ADET, P. A. Méthode de Nomenclature Chimique. Paris: Chez CUCHET, Libraire, rue &hôtel Serpente, 1787.
DE MORVEAU, L. B. G.; CARNY, J. A; DE FONTMARTIN, J. G. Constitution d'une société entre MM. Louis Bernard Guyton de Morveau, Jean Antoine Carny et Jacques Géraud de Fontmartin pour La fabrication de la soude artificielle. In:Minutes et répertoires du notaire Charles François MAINE, 28 mars 1789 – 23 novembre 1799 (étude CXVII). Paris: Archives Nationales, 1789.
DIDEROT, D.; D'ALEMBERT, J. R. Encyclopedia: selections [by] Diderot, D'Alembert and a society of men of letters. Bobbs-Merrill, 1965.
DUARTE, N. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Campinas: Autores Associados, 2013.
ENGELS, F. Do Socialismo utópico ao socialismo científico (1880). São Paulo: Editora Moraes, s/d, 1978.
FILGUEIRAS,C. A. L. Lavoisier: o estabelecimento da química moderna. Odysseus, 2002.
GILLISPIE, C. C. The Discovery of the Leblanc Process. Isis, v. 48, n. 2, p. 152-170, jun. 1957a.
GILLISPIE, C. C. The Natural History of Industry. Isis, v. 48, n. 4, p. 398-407, dez. 1957b.
HELLER, A. O cotidiano e a história. 11. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho Leandro Konder. Editora Paz e Terra, 2016.
HESSEN, B. The social and economic roots of Newton’s ‘principia’. In: Science at the Cross Roads: Papers Presented to the International Congress of the History of Science and Technology, 2. ed. London: Frank Cass. 1971. p. 151-209.
HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
HOBSBAWM, E. J. Sobre história: ensaios. Tradução de Cid Knipel Moreira.São Paulo Companhia das Letras, 2013.
HODSON, D. Nature of science in the science curriculum: origin, development, implications and shifting emphases. In: MATTHEWS, M. (Ed.), International Handbook of Research in History, Philosophy and Science Teaching. Springer, Dordrecht, 2014. p. 911-970.
IRZIK, G.; NOLA, R. A family resemblance approach to the nature of science for science education. Science & Education, v. 20, n. 7-8, p. 591-607, 2011.
KRAGH, H. Introdução à Historiografia da Ciência. Tradução de Carlos Grifo Babo. Porto: Porto Editora, 2001.
LAMBACH, M.; MARQUES, C. A. Lavoisier e a influência nos Estilos de Pensamento Químico: contribuições ao ensino de química contextualizado sócio-historicamente. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 14, n. 1, p. 9-30, 2014.
LEBLANC, N. Observations sur lainaniàre d'extrair el asoude du sulfate de soude, etc.; par le C. Leblanc, auteur de la cristallo technie. In: Bulletin de la Société d'Encouragement pour l'Industrie Nationale. Paris: Imprimerie de Madame Huzard (née Vallat La Chapelle), 1802. p. 167-170.
LEDERMAN, N. G. et al. Views of nature of science questionnaire: toward valid and meaningful assessment of learners’ conceptions of nature of science. Journal of research in science teaching, v.39, n. 6, p. 497–521, 2002.
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte,1978.
LEVEY. M. The early history of detergent substances: a chapter in babylonian chemistry. Journal of Chemical Education, Pennsylvania, v. 79, n. 10, p. 1172-1175, 1954.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. V. 1. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
MATTHEWS, M. R. Changing the focus: From nature of science (NOS) to features of science (FOS). In: KHINE, M. S. (org.). Advances in nature of science research. Springer, Dordrecht, 2012. p. 3-26.
MELZER, E. E. M.; AIRES, J. A. A História do desenvolvimento da teoria atômica: um percurso de Dalton a Bohr. Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, v. 11, n. 22, p. 62-77, 2015.
MOCELLIN, R. C. Estilo de raciocínio e capilaridade técnico-cultural na química no século XVIII. Scientiae Studia, v. 13, n. 4, p. 759-780, 2015.
OESPER, R. E. Nicolas Leblanc (1742-1806). Journal of Chemical Education, v. 19, n. 12, p. 567-572, dez. 1942.
OESPER, R. E. Nicolas Leblanc (1742-1806). Journal of Chemical Education, v. 20, n. 1, p. 11-20, jan. 1943.
PARTINGTON, J. R. A History of Chemistry. New York: St. Martin’s Press, 1961.
PAULO NETTO, J. Relendo a teoria marxista da história. In: SAVIANI, D.; LOMBARDI, J. C. História e história da educação: o debate teórico-metodológico atual. Autores Associados, 1998.
RAMOS, M.; MOCELLIN, R. C. Natureza e artefato: laboratório como teatro de operações e manipulações materiais. DoisPontos, v. 12, n. 1, 2015.
REILLY, D. Salts, Acids & Alkalis in the 19th Century. A Comparison between Advances in France, England & Germany. Isis, v. 42, n. 4, p. 287-296, dez. 1951.
ROUTH, H. B.; BHOWMIK, K. R.; PARISH, L. C.; WITKOWSKI, J. A. Soaps: from the Phoenicians to the 20th century - a historical review. Clinics in dermatology, New York, v. 14, n. 1, p. 3-6, 1996.
SCHUMMER, J. The notion of nature in chemistry. Studies in History and Philosophy of Science, v. 34, n. 4, p. 705-736, 2003.
SEABRA TELLES, V. C. Elementos de chimica. Coimbra: Imprensa Real da Universidade, 1788.
SEABRA TELLES, V. C. Nomenclatura Chimica Portugueza, Franceza e Latina, a que se ajunta os Caracteres Chimicos adaptados a esta nomenclatura por Hassenfratz e Adet. Lisboa: Casa Litteraria do Arco do Cego, 1801.
SMITH, J. G. The Origins and early development of the heavy Chemical Industry in France. Oxford: Clarendon Press, 1979.
VIDAL, P. H.; PORTO, P. A. Algumas contribuições do episódio histórico da síntese artificial da ureia para o ensino de química. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 4, p. 13-23, 2011.
VILLANI, A.; DIAS, V. S.; VALADARES, J. M. The Development of Science Education Research in Brazil and Contributions from the History and Philosophy of Science. International Journal of Science Education, v. 32, n. 7, p. 907-937, 2010.
WARTHA, E. J.; SILVA, E. L.; BEJARANO, N. R. R. Cotidiano e contextualização no ensino de química. Química nova na escola, v. 35, n. 2, p. 84-91, 2013.
YOUNG, R. M. Marxism and history of science. In: OLBY, R.C. et al. (eds.) Companion to the history of modern science. London: Routledge, 1996. p. 77-86.
Arquivos adicionais
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os autores cedem à revista Alexandria os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico.
Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.