O caso de Nicolas Leblanc e a produção da soda: elementos para compreensão da natureza da ciência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1982-5153.2021.e71971

Resumo

A inserção da História e Filosofia da Ciência no Ensino de Ciências é fundamental, pois remete à Natureza da Ciência (NdC).Entendendo que esse debate pode ser enriquecido por meio de um referencial teórico de interpretação da realidade, adotamos o materialismo histórico-dialético para analisar o caso de Nicolas Leblanc e a produção de soda para investigar a NdC. A síntese histórica se dá pela análise da particularidade do objeto considerando-a como campo de mediações entre os fatos universais e singulares inseridos na totalidade histórico-social. Analisamos as relações entre a química e a indústria no século XVIII e demonstramos, além das questões sobre NdC comumente destacadas, as dinâmicas entre o conhecimento artesanal e o industrial e as múltiplas relações entre a ciência e os aspectos sociais e naturais. O episódio explicita como a ciência é determinante e ao mesmo tempo determinada pela prática social.

Biografia do Autor

Andriel Rodrigo Colturato, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Cursa mestrado acadêmico no Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência, da Faculdade de Ciências (UNESP) campus de Bauru; Licenciado em Química pelo Instituto de Química de Araraquara (UNESP). Foi bolsista de iniciação científica financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com projeto na área de História da Química, tendo feito pesquisas na Universidade de Aveiro, Portugal, com financiamento da mesma agência de fomento. Atua principalmente na área de História, Filosofia e Sociologia da Ciência, com ênfase na teoria da pedagogia histórico-crítica no ensino de ciências.

Luciana Massi, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Doutora em Ensino de Química pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências (USP); mestre em Ciências pelo Instituto de Química de São Carlos (USP), tendo desenvolvido dissertação na área de Educação Química; Licenciada em Química pelo Instituto de Química (UNESP). É professora assistente doutora do Departamento de Didática da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara e do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Faculdade de Ciências de Bauru (UNESP). Tem experiência na área de Educação Química, com ênfase em linguagem, sociologia da educação e formação de professores.

Referências

ABRAHAN, J. Historical Review of Soap Manufacturing. The Journal of the American Pharmaceutical Association, v. 5, n. 3, p. 295-303, 1916.

ACADÉMIE ROYALE DES SCIENCES (France). Histoire de l'Académieroyaledes Sciences. Paris: L' imprimerie Royale, 1739.

ADÚRIZ-BRAVO, A.; ARIZA, Y. Lasimágenes de ciencia y de científico: una puerta de entrada a lanaturaleza de laciencia. In:ADÚRIZ-BRAVO, A., DIBARBOURE, M. &ITTURALDE, S. (org.).El quehacerdel científico al aula: pistas para pensar.Montevideo: Fondo Editorial Queduca, 2013. p. 13-20.

ALLCHIN, D. Evaluating knowledge of the nature of (whole) science. Science Education, v. 95, n. 3, p. 518-542, 2011.

ALMEIDA, B. C.; JUSTI, R. O caso histórico Marie Curie: investigando o potencial da história da ciência para favorecer reflexões de professores em formação sobre natureza da ciência. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 12, n. 1, p. 351-373, 2019.

ANASTASI, A. Nicolas Leblanc, savie, sestravaux, et l'histoire de lasoudeartificielle. Paris: Librarie Hachette Et C, 1884.

ARRIGO, V.; ASSAI, A. D. S.; LORENCINI JÚNIOR, Á.; ANDRADE, M. A. B. S.; BROIETTI, F. C. D. Análise dos Artigos Sobre “Natureza da Ciência” Publicados na Seção História da Química da Revista QNEsc entre 1995-2016. Química Nova na Escola, p. 178-185, 2018.

BEJARANO, N. R. R.; ADÚRIZ-BRAVO, A.; BONFIM, C. S. Natureza da Ciência (NOS): para além do consenso. Ciência & Educação (Bauru), v. 25, n. 4, p. 967-982, 2019.

BERNAL, J D. Ciência na história.Tradução de António Neves Pedro. Lisboa: Livros Horizonte, 1969.

BERTRAND, J. E. Descriptionsdesarts et métiersfaites ou approuvées par messieurs de l'Académieroyaledessciences de Paris. Neuchatel: De l’Imprimiere de la Société Typographique, 1783. Tomo 19.

BOSART, L.W. The early history of the soap industry. Journal of Oil & Fat Industries, New York, v. 1, n. 2, p. 76-80, 1924.

CHAGAS, A. P. Teorias ácido-base do século XX. Química nova na escola, v. 9, p. 28-30, 1999.

CHAPTAL, J. A. De l'industrefrançaise. Paris: Chez Antoine-Augustin Renouard, v. 2, 1819.

CLOW, A.; CLOW. N. The natural and economic history of kelp. Annals of Science, v. 5, n. 4, p. 297-316, jul. 1947.

COLTURATO, A. R; MASSI, L. Aportes teóricos e metodológicos para a história da ciência com base no materialismo histórico-dialético. Germinal: Marxismo e Educaçãoem Debate, v. 11, n. 3, p. 170-180, 2019.

CONNER, C. D. A people's history of science: Miners, midwives, and low mechanicks. New York: Nation Books, 2005.

CORDEIRO, M. D.; PEDUZZI, L. O. Q. Valores, métodos e evidências: objetividade e racionalidade na descoberta da fissão nuclear. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 9, n. 1, p. 235-262, 2016.

COMITÉ DE SALUT PUBLIC (France).Descriptiondes divers procédéspourextrairelasoudeduselmarin: Faiteenexécution d' unarzétédu Comité de Salutpublicdu 8 Pluviose, an 2 de Ia République Française. Paris: de L'imprimerie Du Comité de SalutPublic, 1794.

DE MORVEAU, L. B. G. Mémoiresurl’utilité d’uncourspublic de chimiedanslaville de Dijon: lesavantagesquienrésulteroientpourlaProvinceentiere, &lesmoyens de procurer à peu de fraiscetEtablissement. Dijon: Frontin, 1774.

DE MORVEAU, L. B. G.; LAVOISIER, A. L.; BERTHOLLET, C. L.; FOURCROY, A. F.; HASSENFRATZ, J. H.; ADET, P. A. Méthode de Nomenclature Chimique. Paris: Chez CUCHET, Libraire, rue &hôtel Serpente, 1787.

DE MORVEAU, L. B. G.; CARNY, J. A; DE FONTMARTIN, J. G. Constitution d'une société entre MM. Louis Bernard Guyton de Morveau, Jean Antoine Carny et Jacques Géraud de Fontmartin pour La fabrication de la soude artificielle. In:Minutes et répertoires du notaire Charles François MAINE, 28 mars 1789 – 23 novembre 1799 (étude CXVII). Paris: Archives Nationales, 1789.

DIDEROT, D.; D'ALEMBERT, J. R. Encyclopedia: selections [by] Diderot, D'Alembert and a society of men of letters. Bobbs-Merrill, 1965.

DUARTE, N. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Campinas: Autores Associados, 2013.

ENGELS, F. Do Socialismo utópico ao socialismo científico (1880). São Paulo: Editora Moraes, s/d, 1978.

FILGUEIRAS,C. A. L. Lavoisier: o estabelecimento da química moderna. Odysseus, 2002.

GILLISPIE, C. C. The Discovery of the Leblanc Process. Isis, v. 48, n. 2, p. 152-170, jun. 1957a.

GILLISPIE, C. C. The Natural History of Industry. Isis, v. 48, n. 4, p. 398-407, dez. 1957b.

HELLER, A. O cotidiano e a história. 11. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho Leandro Konder. Editora Paz e Terra, 2016.

HESSEN, B. The social and economic roots of Newton’s ‘principia’. In: Science at the Cross Roads: Papers Presented to the International Congress of the History of Science and Technology, 2. ed. London: Frank Cass. 1971. p. 151-209.

HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

HOBSBAWM, E. J. Sobre história: ensaios. Tradução de Cid Knipel Moreira.São Paulo Companhia das Letras, 2013.

HODSON, D. Nature of science in the science curriculum: origin, development, implications and shifting emphases. In: MATTHEWS, M. (Ed.), International Handbook of Research in History, Philosophy and Science Teaching. Springer, Dordrecht, 2014. p. 911-970.

IRZIK, G.; NOLA, R. A family resemblance approach to the nature of science for science education. Science & Education, v. 20, n. 7-8, p. 591-607, 2011.

KRAGH, H. Introdução à Historiografia da Ciência. Tradução de Carlos Grifo Babo. Porto: Porto Editora, 2001.

LAMBACH, M.; MARQUES, C. A. Lavoisier e a influência nos Estilos de Pensamento Químico: contribuições ao ensino de química contextualizado sócio-historicamente. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 14, n. 1, p. 9-30, 2014.

LEBLANC, N. Observations sur lainaniàre d'extrair el asoude du sulfate de soude, etc.; par le C. Leblanc, auteur de la cristallo technie. In: Bulletin de la Société d'Encouragement pour l'Industrie Nationale. Paris: Imprimerie de Madame Huzard (née Vallat La Chapelle), 1802. p. 167-170.

LEDERMAN, N. G. et al. Views of nature of science questionnaire: toward valid and meaningful assessment of learners’ conceptions of nature of science. Journal of research in science teaching, v.39, n. 6, p. 497–521, 2002.

LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte,1978.

LEVEY. M. The early history of detergent substances: a chapter in babylonian chemistry. Journal of Chemical Education, Pennsylvania, v. 79, n. 10, p. 1172-1175, 1954.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. V. 1. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. Tradução de Florestan Fernandes. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

MATTHEWS, M. R. Changing the focus: From nature of science (NOS) to features of science (FOS). In: KHINE, M. S. (org.). Advances in nature of science research. Springer, Dordrecht, 2012. p. 3-26.

MELZER, E. E. M.; AIRES, J. A. A História do desenvolvimento da teoria atômica: um percurso de Dalton a Bohr. Amazônia: Revista de Educação em Ciências e Matemáticas, v. 11, n. 22, p. 62-77, 2015.

MOCELLIN, R. C. Estilo de raciocínio e capilaridade técnico-cultural na química no século XVIII. Scientiae Studia, v. 13, n. 4, p. 759-780, 2015.

OESPER, R. E. Nicolas Leblanc (1742-1806). Journal of Chemical Education, v. 19, n. 12, p. 567-572, dez. 1942.

OESPER, R. E. Nicolas Leblanc (1742-1806). Journal of Chemical Education, v. 20, n. 1, p. 11-20, jan. 1943.

PARTINGTON, J. R. A History of Chemistry. New York: St. Martin’s Press, 1961.

PAULO NETTO, J. Relendo a teoria marxista da história. In: SAVIANI, D.; LOMBARDI, J. C. História e história da educação: o debate teórico-metodológico atual. Autores Associados, 1998.

RAMOS, M.; MOCELLIN, R. C. Natureza e artefato: laboratório como teatro de operações e manipulações materiais. DoisPontos, v. 12, n. 1, 2015.

REILLY, D. Salts, Acids & Alkalis in the 19th Century. A Comparison between Advances in France, England & Germany. Isis, v. 42, n. 4, p. 287-296, dez. 1951.

ROUTH, H. B.; BHOWMIK, K. R.; PARISH, L. C.; WITKOWSKI, J. A. Soaps: from the Phoenicians to the 20th century - a historical review. Clinics in dermatology, New York, v. 14, n. 1, p. 3-6, 1996.

SCHUMMER, J. The notion of nature in chemistry. Studies in History and Philosophy of Science, v. 34, n. 4, p. 705-736, 2003.

SEABRA TELLES, V. C. Elementos de chimica. Coimbra: Imprensa Real da Universidade, 1788.

SEABRA TELLES, V. C. Nomenclatura Chimica Portugueza, Franceza e Latina, a que se ajunta os Caracteres Chimicos adaptados a esta nomenclatura por Hassenfratz e Adet. Lisboa: Casa Litteraria do Arco do Cego, 1801.

SMITH, J. G. The Origins and early development of the heavy Chemical Industry in France. Oxford: Clarendon Press, 1979.

VIDAL, P. H.; PORTO, P. A. Algumas contribuições do episódio histórico da síntese artificial da ureia para o ensino de química. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 4, p. 13-23, 2011.

VILLANI, A.; DIAS, V. S.; VALADARES, J. M. The Development of Science Education Research in Brazil and Contributions from the History and Philosophy of Science. International Journal of Science Education, v. 32, n. 7, p. 907-937, 2010.

WARTHA, E. J.; SILVA, E. L.; BEJARANO, N. R. R. Cotidiano e contextualização no ensino de química. Química nova na escola, v. 35, n. 2, p. 84-91, 2013.

YOUNG, R. M. Marxism and history of science. In: OLBY, R.C. et al. (eds.) Companion to the history of modern science. London: Routledge, 1996. p. 77-86.

Arquivos adicionais

Publicado

2021-05-21

Edição

Seção

Artigos