Plano de ação pessoal, cartão de crise/SOS e Recovery: Uma experiência brasileira

Conteúdo do artigo principal

Sara Letícia Bessa
Camila Rosa Santos Souza

Resumo

Os anos 70 foram marcados por movimentos sociais e de cidadania em diversos países do mundo e muitos foram os avanços nas políticas públicas de saúde, em especial na saúde mental e na luta por direitos humanos. Alinhada a esse contexto, surge nos Estados Unidos, a abordagem recovery que avança e reconhece o direito de pessoas em sofrimento psíquico, ainda que severo, de participação plena na sociedade, constatando que essas pessoas podem melhorar significativamente de seus sintomas, retomando suas atividades pessoais, sociais e se recuperando de seu adoecimento. Este artigo apresenta relato de duas experiências de implantação da ferramenta plano pessoal de ação e cartão de crise/SOS como instrumento de recovery já utilizado em diversos países com grande sucesso. Trata-se de uma experiência vivida em um centro de convivência em saúde mental, álcool e outras drogas e a outra em uma equipe de acompanhantes terapêuticos, ambas em Brasília-DF. Através das experiências foi possível identificar que o plano de ação e cartão de crise/SOS é uma ferramenta muito potente e sua implantação no contexto da rede de atenção psicossocial brasileira pode trazer grandes benefícios, já que é uma ferramenta com foco na retomada da autonomia, cidadania e empoderamento, garantindo direitos e corroborando com a abordagem recovery. Notou-se também que é uma ferramenta provocadora de transformações ainda mais amplas nas lógicas hierárquicas e institucionais que atravessam os serviços e os modos de promover saúde mental em nosso país.

Detalhes do artigo

Como Citar
BESSA, Sara Letícia; ROSA SANTOS SOUZA, Camila. Plano de ação pessoal, cartão de crise/SOS e Recovery: Uma experiência brasileira. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health, [S. l.], v. 13, n. 36, p. 143–155, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/79479. Acesso em: 18 abr. 2024.
Seção
Artigos originais

Referências

AMARANTE, P.; TORRE, E.H.G.Direitos humanos, cultura e loucura no Brasil: um novo lugar social para a diferença e a diversidade. In:OLIVEIRA, W, PITTA, A., AMARANTE, P. (Org.). Direitos Humanos e Saúde Mental. P.107-133. 1ª ed. São Paulo: Hucitec, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental em Dados–12, ano 10, nº 12. Informativo eletrônico. Brasília: outubro de 2015 (acesso em 20/01/2021).

COMPAIJEN, J., NEDERVEEN, A., OBERMAN, H., SPAANS, A.; SMULDERS, R; VOORBIJ C. De ontwikkeling van de crisiskaart in Rijnmond, Roterdã: Basisberaad Rijnmond, 2004.

COOK, J. A., JONIKAS, J. A., HAMILTON, M. M., GOLDRICK, V., STEIGMAN, P. J., GREY, D. D., BURKE, L., CARTER, T. M., RAZZANO, L. A., COPELAND, M. E. Impact of Wellness Recovery Action Planning on service utilization and need in a randomized controlled trial. Psychiatric Rehabilitation Journal, 36(4), 250–257.2013. https://doi.org/10.1037/prj0000028

COPELAND CENTER (2016). History of WRAP. Disponível em https://copelandcenter.com/what-wrap/history-wrap -

DAVIDSON, L. The recovery movement: Implications for mental health care and enabling people to participate fully in life. Health Affairs, 35(6), 1091-1097, 2016.The Recovery Movement: Implications For Mental Health Care And Enabling People To Participate Fully In Life (healthaffairs.org)

DAVIDSON, L.; BELLAMY, C.; GUY, K., MILLER, R. Peer support among persons with severe mental illnesses: a review of evidence and experience. World Psychiatry, 11(2): 123-28, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22654945/

DAVIDSON, L., ROWE, D. Recovery from versus recovery in serious mental illness: One strategy for lessening confusion plaguing recovery. Journal of Mental Health, 16(4): 459-470, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1080/09638230701482394

DELGADO, P. G. Limites para a inovação e pesquisa na reforma psiquiátrica. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 25 [1 ]: 13-18, 2015.

FREITAS, C. A participação e preparação prévia do usuário para situações de crise mental: a experiência holandesa do plano/cartão de crise e desafios para sua apropriação no contexto brasileiro. In: VASCONCELOS, Eduardo Mourão (org.). Abordagens psicossociais: Reforma Psiquiátrica e Saúde Mental na ótica da cultura e das lutas populares. São Paulo: Hucitec: v. 2, p. 142-70, 2008.

GRIGOLO, T.M.; ALVIM, S.; CHASSOT, C.S.; SILVA, V.V.S. Plano de ação para bem-estar e recovery: experimentando o “WRAP” no Brasil. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 9(21): 300-20, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/69552

GRUSKA, V.; DIMENSTEIN, M. Reabilitação Psicossocial e Acompanhamento Terapêutico: equacionando a reinserção em saúde mental. Psicologia clínica, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 101-122, July 2015 . doi: http://dx.doi.org/10.1590/0103-56652015000100006.

MIRANDA, Ana Clara de Azevedo. Implementação do cartão de crise em um centro de convivência: cogestão e empoderamento. 2017. 77 f. Monografia (Graduação) - Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2017.

OLIVEIRA, W. F. Recovery: o desvelar da práxis e a construção de propostas para aplicação no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil. Revista Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, ISSN 1984-2147, Florianópolis, v.9, n.21, p.321-330, 2017.

PALOMBINI, A. L. et al. Acompanhamento terapêutico na rede pública: a clínica em movimento. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2004.

SILVA, M. B.B. Responsabilidade e reforma psiquiátrica brasileira: sobre a relação entre saberes e políticas no campo de saúde mental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 2, n. 8, p . 303-321, 2005.

THORNICROFT, G. e TANSELLA, M. Quais são os argumentos a favor da atenção comunitária à saúde mental? Pesquisas e Práticas Psicossociais, 3(1), 2008.

VASCONCELOS, E. M. Diretivas antecipadas e o plano e cartão de crise em saúde mental: fundamentos para sua apropriação e implementação no Brasil. Rio de Janeiro. Projeto Transversões/ Escola de Serviço Social da UFRJ. Texto provisório de discussão interna, 2014.

VASCONCELOS, E. M.; LOFTI, G.; BRAZ, R.; DI LORENZO, R.; REIS, T. R. . Manual de ajuda e suporte mútuos em saúde mental.Brasília: Ministério da Saúde, 2013a.

VASCONCELOS, E. M.; LOFTI, G.; BRAZ, R.; DI LORENZO, R.; REIS, T. R. . Cartilha Ajuda e Suporte Mútuos em saúde mental.Brasília: Ministério de Saúde, 2013b

VENTURINI, E. O consentimento informado e a recusa do tratamento. In: OLIVEIRA, W., PITTA, A., AMARANTE, P. (org.) Direitos Humanos e Saúde Mental. p: 92-106. São Paulo: Hucitec, 2017.