Ensaio e gesto em Jonas Mekas: da sobrevivência ao exílio, do exílio à aculturação na América

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8026.2021.e75907

Resumo

Este artigo explora o diálogo entre Lost Lost Lost (1976), filme do cineasta lituano Jonas Mekas, e seu diário escrito, I Had Nowhere to Go. Diary of a Displaced Person (1991), a partir do problema do exílio de um sobrevivente dos DP camps, da Segunda Guerra Mundial, tendo em vista discussões que perpassam uma epistemologia do ensaio enquanto gesto político a legitimar um novo regime de visibilidade no cinema tanto quanto problematizar a experiência da subjetividade do ser deslocado. Sob esse ponto de vista, Lost Lost Lost, filme mais autobiográfico de Mekas, oferece um singular registro de reconstrução da memória e do processo de aculturação na América. O diário de Mekas, escrito entre 1944 e 1955, constitui-se como matéria fundacional na compreensão de um projeto estético fundado na urgência da primeira pessoa escritural

Biografia do Autor

Barbara Cristina Marques, Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Professora de Teoria literária do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas, da Universidade Estadual de Londrina. Professora de Literatura e Cinema no Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Estadual de Londrina. É membro do GT Intermidialidades: literatura, artes e mídias, da ANPOLL, e pesquisadora da RED Latinoamericana de Investigaciones en Prácticas y Medios de la Imagen.

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Filmografia

LETTRES de Sibérie. Dir. Chris Marker. FRA, cor/pb, 1958, 61'

LOST lost lost. Dir. Jonas Mekas. EUA. 1976, 16 mm, cor/pb, 180’

NUIT et brouillard. Dir. Alain Resnais. FRA, pb, 1955, 33'

OUTTAKES from the life of a happy man. Dir. Jonas Mekas. EUA/Inglaterra, 2012, 16 mm, cor, 68’

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WALDEN – Diaries notes and sketches. Dir. Jonas Mekas, EUA, 1969, 16 mm, cor, 2h56'

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Publicado

2021-06-07

Edição

Seção

II. Interseções de alteridades nas escritas de vida