O Experimento como uma Rede Estabilizada: associações, negociações e algumas implicações na Educação em Ciências

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7941.2021.e65907

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo problematizar um tema tradicional na pesquisa em Educação em Ciências: as atividades experimentais. Coloca-se em questão a recorrente utilização de epistemologias racionalistas, que privilegiam uma relação hierarquizada entre a teoria e o experimento e esquecem-se de que a experimentação é uma atividade relacionada a intervenção e manipulação de realidades específicas e artificialmente construídas. Defende-se aqui uma abordagem que enfoque as controvérsias emergentes no trato com o concreto e as diferentes negociações impostas pelo processo de criação e estabilização de fenômenos experimentais. Utilizando-se os conceitos da Teoria Ator-Rede, essa posição é discutida a partir da análise qualitativa de um estudo de caso: a construção de um aparato experimental didático por um licenciando em Física, com a finalidade de compor o seu Trabalho de Conclusão de Curso. Os dados analisados foram obtidos a partir de registros escritos realizados pelo próprio licenciando, fotografias da construção do aparato experimental e por uma entrevista estruturada realizada com ele ao final de todo o processo. A análise destacou as situações controversas provocadas pelo processo de construção do aparato experimental e as negociações realizadas, evidenciando que este processo também consiste na criação e estabilização de fenômenos e de atores, cujas identidades são sempre (re)definidas contingencialmente. Desse modo, é evidenciado que, tanto na ciência quanto no ensino de ciências, criar e manter um fenômeno estável é torná-lo mais social e coletivo ainda. Por fim, são discutidas algumas implicações importantes para a Educação em Ciências. 

Biografia do Autor

Thiago Vasconcelos Ribeiro, Colégio Estadual Colemar Natal e Silva, Goiânia, GO

Licenciado em Física (2011), mestre em Educação em Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Goiás (2015) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática também pela Universidade Federal de Goiás. Atualmente é professor efetivo P III da rede pública do Governo do Estado de Goiás, lecionando a disciplina de Física para o Ensino Médio no Colégio Estadual Colemar Natal e Silva e professor das disciplinas de Física básica dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia de Produção da Faculdade FacUnicamps. É membro do Grupo de Pesquisa Formação Crítica de Pesquisadores, Professores e Alunos no Ensino da Tecnociência e a Sociologia da Tecnociência desde de 2010. Tem experiência na área de Educação em Ciências, com ênfase em Ensino de Física, trabalhando principalmente com os seguintes temas: Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS), Campo Brasileiro de Pesquisa em Educação CTS, a sociologia de Pierre Bourdieu nas pesquisas em Educação em Ciências; Sociologia da Tecnociência e a Sociologia da Tecnociência no Ensino de Ciências e controvérsias tecnocientíficas.

Cláudio Morais Silvano, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO

Estudante de Bacharelado em Física no Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás. Licenciado em Física (2019) também pelo Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás. Em 2002, concluiu com êxito, o curso de Eletrônica Básica oferecido pelo Centro Federal de Educação Tecnológico de Goiás, CEFET-GO. Antes disso, em 1995, concluiu o curso de Eletrônica, Rádio e TV, oferecido pelo Instituto Monitor-SP. Atuou profissionalmente, por vários anos, como Técnico de Reparos Eletrônicos e Instalações elétricas. Desde 2013, tem concentrado seus esforços aos estudos, aproveitando uma oportunidade que surgiu após sofrer um grave acidente, que o deixara com sequelas irreversíveis.

Aliny Tinoco Santos, Colégio Estadual João Barbosa Reis, Aparecida de Goiânia, GO

Licenciada em Física pela Universidade Federal de Goiás (2014), mestra em Educação em Ciências e Matemática também pela Universidade Federal de Goiás (2020). Atualmente, é professora sob regime de contrato temporário da Rede Estadual de Goiás desde 2014 e professora substituta no Instituto Federal de Goiás IFG, Campus Goiânia, desde 2019. É membro do Grupo de Pesquisa Formação Crítica de Pesquisadores, Professores e Alunos no Ensino da Tecnociência e a Sociologia da Tecnociência desde 2013. Foi professora formadora do PIBID/IF/UFG de 2015 a 2017. Tem experiência na área de Educação em Ciências, com ênfase em Ensino de Física, atuando principalmente na Formação de Professores, realizando pesquisas que buscam caracterizar a influência do campo educacional brasileiro na formação inicial e continuada de professores, utilizando o aporte teórico de Pierre Bourdieu.

Luiz Gonzaga Roversi Genovese, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO

Graduado em Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro (Unesp), em 1998. Doutorado e Mestrado em Educação para a Ciência pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Bauru), obtidos nos anos de 2008 e 2002, respectivamente. Atuou como Professor Efetivo da Educação Básica II (Física e Química – Secretaria de Estado da Educação de São Paulo) entre os anos de 1998 e 2009. Atualmente é Professor Associado do Instituto de Física da UFG e do Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Matemática da UFG. Tem experiência na área de Educação em Ciências, com ênfase em Sociologia da Ciência, da Tecnologia e da Tecnociência e Formação de Professores pertencentes à interseção do Campo Escolar e do Campo Universitário, o Grande Grupo de Pesquisa-Física.

Referências

ALVES-FILHO, J. P. Atividades experimentais: do método à prática construtivista. 2000. 370 f. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

BARBERÀ, O.; VALDÉS, P. El trabajo práctico en la enseñanza de las ciencias: una revisión. Enseñanza de las ciencias: revista de investigación y experiencias didácticas, v. 14, n. 3, p. 365-379, 1996.

BOXALL, J. Arduino WorkShop. San Francisco: Starch Press, 2013.

CRUZ, S. M. S. C. S.; ZYLBERSZTAJN, A. O enfoque ciência, tecnologia e sociedade e a aprendizagem centrada em eventos. In: PIETROCOLA, M. (Org.). Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia em uma concepção integradora. Florianópolis: UFSC, 2001. p. 171-196.

DEWEY, J. Experiência e natureza. São Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.

ECHEVERRÍA, J. Filosofía de la ciencia. Madrid: Ediciones Akal, 1995.

GENOVESE, L. G. R.; CUNHA, J. A. R. Plano inclinado: um experimento galileano na Educação Básica. Física na Escola, v. 14, n. 2, p. 48-51, 2016.

GIORDAN, M. O papel da experimentação no ensino de ciências. Química nova na escola, v. 10, n. 10, p. 43-49, 1999.

HACKING, I. Representar e Intervir: tópicos introdutórios de filosofia da ciência natural. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012. p. 7-38.

HAMMES, O.; SCHUHMACHER, E. O. Plano Inclinado: uma atividade de modelização matemática. Experiências em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 66-85, 2011.

HODSON, D. Experiments in science and science teaching. Educational philosophy and theory, v. 20, n. 2, p. 53-66, 1988.

HOFSTEIN, A.; LUNETTA, N. The role of the laboratory in Science Teaching: neglected aspects of research. Review of Educational Research, v. 52, p. 201-207, 1982.

KOYRÉ, A. Estudos Galilaicos. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.

KNORR-CETINA, K. D. La fabricación del conocimiento: un ensayo sobre el carácter constructivista y contextual de la ciencia. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes. 2005.

LATOUR, B.; WOOLGAR, S. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.

LATOUR, B. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2011.

LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: Edufba; Bauru: Edusc, 2012.

LATOUR, B. Cogitamus: seis cartas sobre as humanidades científicas. São Paulo: Editora 34, 2016.

LATOUR, B. Investigação sobre os modos de existência: uma antropologia dos modernos. Petrópolis: Vozes, 2019.

LAW, J. Networks, relations, cyborgs: on the social study of technology. In.: READ, S.; PINILLA, C. (Ed.) Visualizing the Invisible: Towards an Urban Space. Spacelab, 1. Amsterdam: Techne Press, 2006. p. 84-97.

LEAL, R. R.; SCHETINGER, M. R. C.; PEDROSO, G. B. Experimentação Investigativa em Eletroquímica e Argumentação no Ensino Médio. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 10, n. 6, p. 142-162, 2019.

MENDONÇA, A. L. O. Ian Hacking – uma ponte entre a tradição e a pós-modernidade. In.: HACKING, I. Representar e Intervir: tópicos introdutórios de filosofia da ciência natural. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012. p. 7-38.

PEREIRA, R. S. G.; DOS SANTOS JUNIOR, G. A calibração de um micrômetro: uma experiência no ensino por meio da modelagem matemática. Experiências em Ensino de Ciências, Cuiabá, v. 6, n. 2, p. 124-132, 2011.

POZO, J. I.; CRESPO, M. Á. G. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Porto Alegre: Artmed, 2009.

PRAIA, J. F.; CACHAPUZ, A. F. C.; GIL-PÉREZ, D. Problema, teoria e observação em ciência: para uma reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência & Educação, Bauru, v. 8, n. 1, p. 127-145, 2002a.

PRAIA, J. F.; CACHAPUZ, A. F. C.; GIL-PÉREZ, D. A hipótese e a experiência científica em educação em ciência: contributos para uma reorientação epistemológica. Ciência & Educação, Bauru, v. 8, n. 2, p. 253-262, 2002b.

REZZADORI, C. B. D. B.; DE OLIVEIRA, M. A. A Rede Sociotécnica de um Laboratório de Química do Ensino Médio. Experiências em Ensino de Ciências, Cuiabá, v. 6, n. 3, p. 16-37, 2011.

ROSITO, B. A. O ensino de ciências e a experimentação. In: MORAES, R (Org). Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas, 2008. v. 3. p. 195-208.

SCHAFFER, S. Trabalho com vidros. In.: COHEN, I. B.; WESTFALL, R. S. Newton: textos, antecedentes, comentários. Rio de Janeiro: Contraponto/EDUERJ, 2002.

SHINN, T.; RAGOUET, P. Controvérsias sobre a ciência: por uma sociologia transversalista da atividade científica. São Paulo: Editora 34, 2008.

TANG, K. Scientific Practices as an Actor-Network of Literacy Events: Forging a Convergence Between Disciplinary Literacy and Scientific Practices. In: PRAIN, V.; HAND, B. (ed.). Theorizing the Future of Science Education Research, v. 49, Springer, p. 83-98, 2019.

THUILLIER, P. De Arquimedes a Einstein: a face oculta da invenção científica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

VINCK, D. Epílogo: posturas para uma etnografia das técnicas. In: VINCK, D. (Org.). Engenheiros no Cotidiano: etnografia da atividade de projeto e de inovação. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2013. p. 273-305.

VINCK, D. (Org.). Engenheiros no Cotidiano: etnografia da atividade de projeto e de inovação. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2013. p. 273-305.

YIN, R. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.

Downloads

Publicado

2021-03-25

Como Citar

Ribeiro, T. V., Silvano, C. M., Santos, A. T., & Genovese, L. G. R. (2021). O Experimento como uma Rede Estabilizada: associações, negociações e algumas implicações na Educação em Ciências. Caderno Brasileiro De Ensino De Física, 38(1), 108–138. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2021.e65907

Edição

Seção

Ensino e aprendizagem de Ciências/Física