Trapacear a língua: o funcionamento discursivo do equívoco na novela Florim¸, de Ruth Ducaso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-8412.2025.e104259

Palavras-chave:

Discurso literário, Equívoco, Trapaça com a língua

Resumo

No presente artigo, tomamos como material de análise a novela Florim, escrita por Luciany Aparecida e assinada como Ruth Ducaso. A publicação, de 2020, implode as certezas lógicas relacionadas à autoria, à dominância ideológica tomada como natural e à língua. Nosso objeto de análise é a insurgência do equívoco como um saber que rege o discurso literário. Como ponto em que se encontram o real da língua, isto é, o impossível, e o real da história, ou seja, a contradição, o equívoco funciona sistematicamente em Florim como um princípio que insiste em não fechar a obra, não dar a ela um sentido único. A utilização de assinaturas estéticas, nesse sentido, expõe um real da autoria como descentrada, constituída por uma heterogeneidade irredutível. Já a forma peculiar como o interdiscurso incide na cadeia significante leva à visada de uma outra cena política e histórica, invisibilizada na formação social. Por fim, a trapaça com a língua, tanto quanto ao léxico, à semântica e à sintaxe, mostra-se a base material do equívoco, tal como ele se apresenta no discurso literário.

Biografia do Autor

Janaina Cardoso Brum, Universidade Federal de Pelotas

Professora Adjunta do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas. Mestre e Doutora em Letras pela Universidade Católica de Pelotas. Membro do Laboratório de Estudos em Análise de Discurso, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas.

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Publicado

2025-08-26

Edição

Seção

Dossiê | Gênero, silenciamento(s) e resistência pela análise de discurso materialista