Guerrilheiras (in)visibilizadas: o olhar do Estadão sobre as militantes do Araguaia
DOI:
https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.100571Palavras-chave:
Mulheres, Ditadura, JornalismoResumo
Este artigo examina como O Estado de S. Paulo noticiou a participação feminina na Guerrilha do Araguaia do início do conflito, durante a ditadura civil-militar, até 2023. A perspectiva generificada permite observar o apagamento do protagonismo das guerrilheiras que se processa nas matérias do jornal. Nota-se como o periódico geralmente relega essas mulheres a aparições pontuais e muitas vezes anonimizadas, traz uma abordagem que as objetifica e as coloca à sombra de homens com os quais se relacionaram ou produz biografias que não dão conta de suas trajetórias e são narradas a partir da voz dos algozes, em um enfoque que revitimiza as militantes. Discute-se, com isso, como a cobertura do Estadão se constitui enquanto uma violência política de gênero fundada na própria prática jornalística.
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