Guerrilheiras (in)visibilizadas: o olhar do Estadão sobre as militantes do Araguaia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-6924.2024.100571

Palavras-chave:

Mulheres, Ditadura, Jornalismo

Resumo

Este artigo examina como O Estado de S. Paulo noticiou a participação feminina na Guerrilha do Araguaia do início do conflito, durante a ditadura civil-militar, até 2023. A perspectiva generificada permite observar o apagamento do protagonismo das guerrilheiras que se processa nas matérias do jornal. Nota-se como o periódico geralmente relega essas mulheres a aparições pontuais e muitas vezes anonimizadas, traz uma abordagem que as objetifica e as coloca à sombra de homens com os quais se relacionaram ou produz biografias que não dão conta de suas trajetórias e são narradas a partir da voz dos algozes, em um enfoque que revitimiza as militantes. Discute-se, com isso, como a cobertura do Estadão se constitui enquanto uma violência política de gênero fundada na própria prática jornalística.

Biografia do Autor

Tatiane Moreira Análio, Universidade Federal de Juiz de Fora

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto.

Ana Carolina Lima Santos, Universidade Federal de Ouro Preto

Professora do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto. Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestra em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia e graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe.

Referências

ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. São Paulo: Cia das Letras, 2016.

APOIO ao golpe (de 64) foi um equívoco. O Globo, 1° set. 2013.

AQUINO, Maria Aparecida. Censura, imprensa, Estado autoritário (1968-1978): o exercício cotidiano da dominação e da resistência. Bauru: Edusc, 1999.

ARAGUAIA: efetivo chegou a 6 mil. O Estado de São Paulo, 14 set. 1978.

BENJAMIM, Walter. Sobre o conceito da História. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Comissão Nacional da Verdade: relatório. Brasília: CNV, 2014.

BRASIL: nunca mais. Petrópolis: Vozes, 1985.

COLLING, Ana Maria. Uma questão de gênero na ditadura militar no Brasil. In: ANDÚJAR, Andrea; DOMÍNGUEZ, Nora; RODRÌGUEZ, María Inés (org.). Historia, género y política en los '70. Buenos Aires: Feminaria, 2005.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. O preço de uma reconciliação extorquida. In: TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (org.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.

GILL, Rosalind; TOMS, Katie. Trending now: feminism, postfeminism, sexism, and misogyny in British journalism. In: CARTER, Cynthia; STEINER, Linda; Allan, STUART (org.). Journalism, gender and power. Abingdon: Routledge, 2019.

INSTITUIÇÕES em frangalhos. O Estado de São Paulo, 13 dez. 1968.

KATZ, Helena. Violência e morte desenham a rota de 12 mulheres. O Estado de São Paulo, 29 jan. 2016.

KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa. São Paulo: Ed. Página Aberta, 1991.

KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988. São Paulo: Boitempo, 2004.

LARANGEIRA, Álvaro Nunes. A mídia e o regime militar. Porto Alegre: Sulina, 2014.

LINHARES, Juliana. Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”. Veja, 18 abr. 2016. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/marcela-temer-bela-recatada-e-do-lar. Acesso em: 14 nov. 2024.

MADUEÑO, Denise. Sessão na Câmara exalta repressão no Araguaia. O Estado de São Paulo, 26 mai. 2005.

MOLICA, Fernando (org.). 10 reportagens que abalaram a ditadura. Rio de Janeiro: Record, 2005.

MORAES, Marcelo. Generais da reserva defendem Ustra. O Estado de São Paulo, 22 nov. 2006.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Entre a liberdade e a ordem: o jornal O Estado de São Paulo e a ditadura (1969-1973). Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 43, p. 367-379, 2017. Disponível em: revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/iberoamericana/article/view/26037. Acesso em: 18 abr. 2024.

NOSSA, Leonencio. “Não se corta erva daninha pelo caule”. O Estado de São Paulo, 22 jun. 2009a.

NOSSA, Leonencio. Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 no Araguaia. O Estado de São Paulo, 21 jun. 2009b.

NOSSA, Leonencio. X2, um esqueleto no armário da Justiça, incomoda os amigos do presidente. O Estado de São Paulo, 31 mar. 2005.

NOSSA, Leonencio; SAMPAIO, Dida. Após 30 anos, Curió rompe silêncio sobre a guerrilha. O Estado de São Paulo, 4 mar. 2004.

NUNES, Leandro. Uma terra fértil sob o cuidado das mulheres. O Estado de São Paulo, 15 jan. 2016.

NUNES, Leandro. Guerrilha do Araguaia debanda para o palco. O Estado de São Paulo, 8 out. 2015.

O ESTADO de revolução em Pernambuco. O Estado de São Paulo, 5 mar. 1964.

PAIVA, Fred Melo. “Ela vai aparecer por essa porta”. O Estado de São Paulo, 8 mai. 2005.

PERLATTO, Fernando. Variações do mesmo tema sem sair do tom: imprensa, Comissão Nacional da Verdade e a Lei da Anistia. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 27, p. 78–100, 2019. Disponível em: revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311272019078. Acesso em: 8 maio. 2024.

PILAGALLO, Oscar. História da imprensa paulista: jornalismo e poder de D. Pedro I a Dilma. São Paulo: 3 Estrelas, 2012.

RAGO, Margareth. Memórias da clandestinidade: Criméia Alice de Almeida Schmidt e a Guerrilha do Araguaia. In: PEDRO, Joana Maria; WOLFF, Cristina Scheibe (org.). Resistências, gênero e feminismo contra as ditaduras no Cone Sul. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2010.

RIDENTI, Marcelo Siqueira. As mulheres na política brasileira: os anos de chumbo. Tempo Social, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 113–128, 1990. Disponível em: revistas.usp.br/ts/article/view/84806. Acesso em: 8 maio 2024.

RIOCO Kayano. Torre das donzelas. Disponível em: torredasdonzelas.com.br/vozes-da-memoria-videos/rioco-kayano-2/nel. Acesso em 8 maio 2024.

ROLDÃO, Arruda. A sofrida espera da confraria dos parentes de desaparecidos. O Estado de São Paulo, 12 dez. 2004.

SANGLARD, Fernanda; TRISTÃO, Marise. Relatos da ditadura: memórias divulgadas pela imprensa brasileira a partir dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Estudos em Jornalismo e Mídia, Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 51-65, 2014. Disponível em: periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/1984-6924.2014v11n1p51. Acesso em 20 maio 2024.

SÃO PAULO. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”: relatório. São Paulo: CV, 2015.

SILVA, Gislene; MAIA, Flávia Dourado. Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico. Rumores, v. 5, n. 10, p. 18-36, 2011. Disponível em: revistas.usp.br/Rumores/article/view/51250. Acesso em: 25 set. 2024.

SILVA, Marcia Veiga da. Masculino, o gênero do jornalismo: modos de produção das notícias. Florianópolis: Insular, 2014.

SOUSA, Reginaldo Cerqueira. Guerrilha do Araguaia: violência, memória e reparação. Projeto História, São Paulo, v. 66, p. 205-206, 2019. Disponível em: revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/43200. Acesso em: 19 abr. 2023.

STM: a anistia tem três etapas. O Estado de São Paulo, 1° set. 1979.

TUCHMAN, Gaye. Media, género, nichos. Media & Jornalismo, [S.l] v. 8, n. 15, p. 15-24, 2009. Disponível em: cicdigitalpolo.fcsh.unl.pt/pt/revista-media-jornalismo-no15-genero-media-espaco-publico. Acesso em 19 mai. 2024.

VILLALBA, Patrícia. Genoino aposta na militância para virar o jogo. O Estado de São Paulo, 27 out. 2002.

VILLAMÉA, Luiza. A torre: o cotidiano de mulheres encarceradas pela ditadura. São Paulo: Cia das Letras, 2023.

WOLFF, Cristina S. O Gênero da Esquerda em tempos de Ditadura. P. 138-155. WOLFF, Cristina S ; PEDRO, Joana M. (Orgs). Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul. 2010. Florianópolis-SC: Editora Mulheres, 2010.

Downloads

Publicado

2024-12-30