Múltiplos sentidos da violência sexual contra meninas com deficiência intelectual
DOI:
https://doi.org/10.1590/1806-9584-2024v32n3101141Palavras-chave:
deficiência intelectual, escuta participante, violência sexual, violência física, violência psicológicaResumo
Neste artigo, examino as situações de violência sexual perpetradas contra Camila, 13 anos, e Bárbara, 15 anos, que foram atendidas num Centro de Saúde de uma cidade do Estado de São Paulo durante o ano de 2015. Para tal, ancoro-me em uma pesquisa etnográfica realizada por meio de uma escuta participante a partir da especialidade da psiquiatria do referido Centro. Com isso, objetivo explicitar como o atendimento da situação de violência sexual trouxe à tona uma série de outras violências experienciadas pelas duas garotas e, também, espraiada e experimentada por familiares e responsáveis. Dessa maneira, o artigo sustenta que, devido à fragilidade de garantias e proteção dispensadas às meninas com deficiência intelectual, um dispositivo complexo de violências emerge e se espraia para além dos corpos das garotas afetadas diretamente pelas situações. Este atravessa indiretamente os corpos e as vidas dos pais e/ou responsáveis por meio de violências físicas, violências psicológicas ou, ainda, pela necessidade de mudança de moradia por conta das ameaças.
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