O assédio sexual laboral durante a pandemia de covid-19: reflexões acerca das desigualdades de gênero no trabalho a partir do paradigma da justiça relacional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2177-7055.2023.e91417

Palavras-chave:

Assédio sexual laboral, Pandemia da COVID-19, Desigualdade de gênero, Justiça Relacional

Resumo

A presente investigação tem como objetivo geral identificar quais os motivos ou as razões que permitiram o aumento vertiginoso dos casos de assédio sexual laboral contra as trabalhadoras a partir da deflagração da pandemia da COVID-19. Como hipótese provisória indica-se que no âmbito das relações trabalhistas nas quais a mulher figura como empregada hierarquicamente subordinada a homens ou grupo de homens, houve um aumento alarmante dos casos de violência de assédio sexual, principalmente porque a pandemia do Coronavírus evidenciou as situações violência já existentes na sociedade brasileira, gerando uma espécie de pandemia sistêmica, cuja ocorrência se dá quando uma pandemia virótica interage diretamente com outras doenças e/ou problemas sociais. Os objetivos específicos são apresentar o instituto do assédio sexual laboral, apresentar a relação entre a pandemia de COVID-19 e o aumento do número de casos de assédio sexual nas relações trabalhistas praticado contra as mulheres e propor uma reflexão acerca desse fenômeno sociojurídico a partir do paradigma relacional de Pierpaolo Donati e da Justiça Relacional de Antonio Márquez Prieto. O método de abordagem utilizado foi o dedutivo; a técnica de pesquisa foi a documental e o método de procedimento o monográfico. Concluiu-se que a única forma de acabar com a hierarquia da desigualdade de gênero no trabalho é a partir da vinculação coletiva à reciprocidade e à boa-fé, no âmbito da cultura jurídica.

Biografia do Autor

Clarindo Epaminondas De Sá Neto, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutor em Direito - UFSC, Professor Adjunto I do Centro de Ciências Jurídicas da UFSC, Coordenador do NEDD: Núcleo de Estudos em Direito e Diversidades (CNPQ) Coordenador do DEFRAGEM: Grupo de Pesquisa em Direito, Fraternidade, Gênero e Migrações (CNPQ). Na graduação atua no Escritório Modelo de Assistência Jurídica - EMAJ, com especial destaque para as áreas de Família, Civel, Consumidor, Penal e Trabalhista. Coordena o Grupo de Pesquisa e o Núcleo de Estudos em Direitos e Diversidades (projeto de extensão). Na Pós-graduação strictu sensu atua nas áreas de Direitos e Diversidades e Metodologia da Pesquisa Jurídica.

Referências

BRUNI, Luigino. Le nuove virtù del marco nelléra dei beni comuni. Roma: Città Nuova, 2012.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. Ed. Selo Negro Edições: Rio de Janeiro, 2017.

CODOÑER, Javier Ros. Hacia una sociedad más humana. El paradigma relacional de Pierpaolo Donati. Ánfora, 24(43), 165-187. Universidad Autónoma de Manizales. ISSN 0121-6538.

CORBIN, Alain. Os bastidores: gritos e murmurios. In.: PERROT, Michelle (Org.). História da Vida Privada: da revolução à grande guerra. Porto: Afrontamento, 1990.

DAMIAN, Sérgio Antônio dos Santos; OLIVEIRA, Joabe Teixeira de. Assédio sexual: dano e indenização. [s.l.]: CL Edijur, 1999. 406 p.

DEL PRIORE, Mary (org.) & BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Ed. UNESP, 1997, 678 p.

DONATI, Pierpaolo. Manuale di sociologia della famiglia. Bari: Laterza (Nova edição revisada e corrigida), 2006b.

DONATI, Pierpaolo. Teoria relazionale della societá. Milano: Franco Angeli, 1991.

DONATI, P.; TERENZI, P. Invito alla sociologia relazionale. Teoria e applicazioni. 2° edizione, Milano: Franco Angeli, 2006.

DONATI, P.; COLOZZI, I. (Orgs.) Il paradigma relazionale nelle scienze sociali: le prospettive sociologiche. Bologna: Il Mulino, 2006.

DONATI, Pierpaolo. Repensar la sociedad. Madrid: Ediciones Internacionales Universitárias, 2006a.

DONATI, Pierpaolo. Manuale di sociologia della famiglia. Bari: Laterza (Nova edição revisada e corrigida), 2006b.

DONATI, Pierpaolo; SCABINI, Eugenia. (Orgs.). Nuovo lessico familiare. Milano: Vita e Pensiero, 1995.

DONATI, Pierpaolo. Família no século XXI: abordagem relacional. São Paulo: Paulinas, 2008.

ELUF, Luiza Nagib. Crimes contra os costumes e assédio sexual. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1999.

ENGEL, Magali. Psiquiatria e Feminilidade. In: DEL PRIORE, Mary (org.) & BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Ed. UNESP, 1997, 678 p.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1977. v. 1: A vontade do saber.

FUKUDA, Rachel Franzan. Assédio Sexual: Uma releitura a partir das relações de gênero. Simbiótica, Vitória, v. , n. 1, p.119-135, jun. 2012. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/simbiotica/article/view/4512/3516. Acesso em: 23 mar. 2022.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

GROSSI, Miriam Pillar. Novas/Velhas Violências contra a Mulher no Brasil. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, p.473-483, 1994. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16179/14730. Acesso em: 23 mar. 2022.

HIRIGOYEN, Marie-france. Assédio, coacção e violência no quotidiano. Tradução de António Marques. Lisboa: Pergaminho, 1999. 223 p. (Série Ciências Sociais). Título original: Le harcèlement moral: La violence perverse au quotidien.

ICIZUKA, Atilio de Castro; ABDALLAH, Rhamice Ibrahim Ali Ahmad. A trajetória da descriminalização do adultério no direito brasileiro: uma análise à luz das transformações sociais e da política jurídica. Revista Eletrônica Direito e Política, Itajaí, v.2, n.3, 3º quadrimestre de 2007. Disponível em: www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791. Acesso em 31 mar. 22

ICIZUKA, Atilio de Castro; ABDALLAH, Rhamice Ibrahim Ali Ahmad. Mal-estar no Trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução de Rejane Janowitzer. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 350 p. Título original: Malaise dans le travail.

LEIRIA, Maria de Lourdes. Assédio sexual laboral, agente causador de doenças do trabalho: reflexos na saúde do trabalhador. São Paulo: LTr, 2012. 214 p.

LIPPMANN, Ernesto. Assédio sexual nas relações de trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2004. 149 p.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. Assédio Sexual no Trabalho: perguntas e respostas. Brasília, 2017. Disponível em: https://goo.gl/nczyiz. Acesso em: 23 abr. 2022.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo. O assédio sexual na relação de emprego. São Paulo: LTr, 2001. 254 p.

PEDRO, Joana Maria. Mulheres do Sul. In: DEL PRIORE, Mary (org.) & BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Ed. UNESP, 1997, 678 p.

MÁRQUEZ PRIETO, Antonio. Justicia Relacional y Fraternidad. In.: BAGGIO, Antonio Maria; COSSEDU, Adriana; PRIETO, Antonio Márquez. Fraternidad y Justicia. Granada: Comares, 2012, p. 55-89.

MÁRQUEZ PRIETO, Antonio. Repensar la justicia social. Enfoque relacional, teoria de juegos y relaciones laborales en la empresa. Pamplona: Thomson-Aranzadi, en la colección The Global Law Collection, 2006.

MÁRQUEZ PRIETO, Antonio. Calidad ambiental en las relaciones laborales. Granada: Comares, 2010.

MÁRQUEZ PRIETO, Antonio. La justicia relacional como círculo virtuoso. RECERCA, Revista de Pensament I Namàlisi. N. 14. 2014. ISSN: 1130-6149, p. 117-134.

ROCCA, Antonio. La Posmodernidad. Nuevo régimen de verdad, violencia metafísica y fin de los metarrelatos. Nómadas, 29(1), 1-16, 2011.

ROMIO, J. A. F. Sobre o feminicídio, o direito da mulher de nomear suas experiências. Plural, [S. l.], v. 26, n. 1, p. 79-102, 2019. DOI: 10.11606/issn.2176-8099.pcso.2019.159745. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/159745. Acesso em: 15 jun. 2022.

RUBIN, Gayle; BUTLER, Judith. “Sexual traffic”, Differences: A Journal of Feminist Culture Studies, vol. 6, nº 2-3, 1994, p. 62-99 (Trad. Bras. Cadernos Pagu, n º 21, Campinas, 2003, p.157-209)

SAFFIOTI, Heleieth I. B.. Violência de Gênero no Brasil Atual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, p.443-461, 1994. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16177. Acesso em: 23 abr. 2022.

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p.71-99, jul./dez. 1995.

SILVA, Juliana Franchi da; COPETTI, Francieli Venturini; BORGES, Zulmira Newlands. Uma discussão sobre os direitos humanos e a violência de gênero na sociedade contemporânea. Revista Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 22, n. 2, p.97-111, jul./dez. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1183. Acesso em: 12. mar 2022.

SPENCER, Colin. Homossexualidade: Uma história. Rio de Janeiro: Record, 1996.

STREY, Marlene Neves. Violência e Gênero: um casamento que tem tudo para dar certo. In: GROSSI, Patricia Krieger; WERBA, Graziela C. (Org.). Violências e gênero: coisas que a gente não gostaria de saber. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. p. 47-69.

STREY, Marlene Neves; WINCK, Gustavo Espíndola. "A Voz Mais alta, Mas na Hora Certa”: a naturalização da violência de gênero enquanto recurso legitimado ao homem. Revista Ártemis, João Pessoa, v. 9, p.113-133, dez. 2008. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/artemis/article/view/11815/6870. Acesso em: 12. mar 2022.

TREVISAN, João Silvério. Seis balas num buraco só: a crise do masculino. 2ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Objetiva, 2021.

TOVAR, Ligia Sánchez et al. Consideraciones psicosociales sobre el acoso sexual en el trabajo. In: PORTERO, Maria Teresa Velasco (Org.). Mobbing, acoso laboral y acoso por razón de sexo: guía para la empresa y las personas trabajadoras. Madrid: Tecnos, 2010. Cap. 2. p. 43-59.

VIVOT, Julio J. Martínez. Acoso sexual en las relaciones laborales. Buenos Aires: Astrea, 1996. 141 p.

YANNOULAS, Silvia Cristina. Dossiê: Políticas públicas e relações de gênero no mercado de trabalho. Brasília: CFEMEA; FIG/CIDA, 2002. 93 p.

Downloads

Publicado

2024-02-02

Como Citar

DE SÁ NETO, Clarindo Epaminondas. O assédio sexual laboral durante a pandemia de covid-19: reflexões acerca das desigualdades de gênero no trabalho a partir do paradigma da justiça relacional. Seqüência Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, v. 44, n. 94, p. 1–38, 2024. DOI: 10.5007/2177-7055.2023.e91417. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/91417. Acesso em: 18 dez. 2024.