Confluências entre deficiência e infância: um ensaio sobre opressões e políticas de cuidado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1518-2924.2022.e89898

Palavras-chave:

cuidado, deficiência, direitos humanos, infância

Resumo

Este ensaio tem por objetivo discutir algumas confluências entre as opressões que atingem pessoas com deficiência e crianças, articulando o conceito de capacitismo com as opressões que se dão em relação às crianças. Para isso, propõe-se uma perspectiva interseccional, que busca promover reflexões a partir da ética do cuidado para questionar a corponormatividade, o patriarcado e o capitalismo. Conclui-se que a ausência de políticas públicas de cuidado mantém essa demanda na esfera pessoal, privada, o que aprofunda desigualdades e contribui para a desumanização, experiências de violência e de negação de direitos para crianças, pessoas com deficiência e suas cuidadoras e cuidadores.

Biografia do Autor

Laureane Marília de Lima Costa, Universidade de São Paulo

Psicóloga, especialista em Psicoterapia Analítico-Comportamental pelo Instituto Goiano de Análise do Comportamento (IGAC), mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Jataí (PPGE/UFJ), integrante do grupo de estudos do Núcleo de Estudos sobre Deficiência da Universidade Federal de Santa Catarina (NED/UFSC) e do grupo de estudos do Laboratório de Educação Inclusiva da Universidade do Estado de Santa Catarina (LEdI/UDESC), pesquisa a interlocução dos campos da Educação Sexual Emancipatória e dos Estudos Feministas da Deficiência. Atualmente é psicóloga bolsista na Coordenação de Ações Pedagógicas Especiais da Universidade Federal de Jataí (CAPE/UFJ). Atua principalmente em: psicoterapia analítico-comportamental para adultos/as; supervisão clínica; orientação para pais e responsáveis; projetos de prevenção ao sexismo, ao heterossexismo, ao capacitismo e prevenção de violência sexual para escolas com Ensino Fundamental II e Ensino Médio; consultoria em saúde e educação sexual; formação de profissionais da Saúde e da Educação para uma atuação anticapacitista.

Carla Biancha Angelucci, Universidade de São Paulo - USP

É professora doutora no Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação - EDF na Faculdade de Educação - FE da Universidade de São Paulo - USP. É professora da graduação nas áreas de Sociologia da Educação e Educação Especial. Atua na pós graduação, coordenando a Área de Concentração Educação e Ciências Sociais - desigualdades e diferenças. Orienta mestrados e doutorados, supervisiona pós-doutorados na linha de pesquisa em Educação Especial. Participa do grupo de pesquisa de Políticas de Educação Especial, coordenando a linha Educação Especial - táticas de resistência à produção de um não lugar para as diferenças na escola. Possui graduação em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1997); mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (2002); doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2009). A ênfase de seus estudos está na garantia da Educação para todos/as e sua interface com as discussões sobre preconceito, atuando principalmente nos seguintes temas: direito à educação por parte de pessoas com diferenças funcionais e de pessoas com sofrimento psíquico intenso; políticas públicas em educação especial e medicalização da educação. Exerceu por dezesseis anos a atividade de psicoterapeuta, com formação winnicottiana.

Mariana Rosa, Universidade de São Paulo - USP

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Especialista em Gestão da Comunicação Empresarial. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo. Sócia fundadora do Instituto Cáue Rede de Inclusão. 

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Publicado

2022-07-22

Edição

Seção

Dossiê: Bebês e Crianças com Deficiência na Educação Infantil