A infância medicalizada: um estudo sobre a constituição da criança com queixa escolar
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2022.e90445Palavras-chave:
Infância, Medicalização, Queixa escolarResumo
Este trabalho apresenta um recorte sobre os sentidos produzidos pela criança com queixa escolar, tendo como pressupostos a Psicologia Escolar Crítica. Participaram do estudo, cinco crianças/estudantes com idade entre 12 e 13 anos, encaminhados para atendimento psicológico no serviço de psicologia de uma universidade comunitária, bem como as famílias e professoras/es dessas crianças. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e o processo metodológico enfatiza o sentido pessoal que as crianças percebem, nos atravessamentos marcados pela queixa escolar. O foco da investigação foi, assim, o ponto de vista da criança, sendo privilegiadas as mediações vividas no espaço da escola e da família. O estudo demonstra que sucessivas experiências de humilhação, exclusão e medicalização produzem sofrimento, além de atribuírem sentidos às histórias de pouco sucesso escolar. Por outro lado, evidencia-se que, quando as crianças/estudantes contam com experiências que validam a sua potência, há uma possibilidade de se estranhar no habitual lugar de incapaz e de imprimir novos sentidos a sua história.
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