A infância medicalizada: um estudo sobre a constituição da criança com queixa escolar
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2022.e90445Palavras-chave:
Infância, Medicalização, Queixa escolarResumo
Este trabalho apresenta um recorte sobre os sentidos produzidos pela criança com queixa escolar, tendo como pressupostos a Psicologia Escolar Crítica. Participaram do estudo, cinco crianças/estudantes com idade entre 12 e 13 anos, encaminhados para atendimento psicológico no serviço de psicologia de uma universidade comunitária, bem como as famílias e professoras/es dessas crianças. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e o processo metodológico enfatiza o sentido pessoal que as crianças percebem, nos atravessamentos marcados pela queixa escolar. O foco da investigação foi, assim, o ponto de vista da criança, sendo privilegiadas as mediações vividas no espaço da escola e da família. O estudo demonstra que sucessivas experiências de humilhação, exclusão e medicalização produzem sofrimento, além de atribuírem sentidos às histórias de pouco sucesso escolar. Por outro lado, evidencia-se que, quando as crianças/estudantes contam com experiências que validam a sua potência, há uma possibilidade de se estranhar no habitual lugar de incapaz e de imprimir novos sentidos a sua história.
Referências
BELTRAME, Rudinei Luiz. Medicalização da educação: sentidos produzidos por estudantes com diagnóstico relacionado a dificuldades no processo de aprendizagem e de comportamento. 2019. 168 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.
DERMATINI, Zeila de Brito Fabri. Infância, Pesquisa e Relatos Orais. In: FARIA Ana Lúcia Goulart de; DERMATINI, Zeila de Brito Fabri; PRADO, Patrícia Dias (orgs.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 1–17.
CAPONI, Sandra. O conceito de doença e a reconfiguração dos transtornos mentais na infância. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 53-78.
COLAÇO, Lorena Carrillo. A produção de conhecimento e a implicação para a prática do encaminhamento, diagnóstico e medicalização de crianças: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural. 2016. 117 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.
FÓRUM SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Carta do IV Seminário Internacional A Educação Medicalizada: desver o mundo, perturbar os sentidos. In: SEMINÁRIO SOBRE A EDUCAÇÃO MEDICALIZADA, 4, 2015, Salvador-BA. Anais... Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, 2016, v.1, n.1, p. 12-20. Disponível em: <http://anais.medicalizacao.org.br/index.php/educacaomedicalizada/article/view/235/205>. Acesso em 18 nov. 2020.
FÓRUM SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Manifesto Desmedicalizante e Interseccional: “existirmos, a que será que se destina?”. SEMINÁRIO SOBRE A EDUCAÇÃO MEDICALIZADA, 5, 2019, Salvador-BA. Anais... Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, 2019, v.1, n.1, p. 12-20. Disponível em: <http://anais.medicalizacao.org.br/index.php/educacaomedicalizada/article/view/235/205>. Acesso em 18 nov. 2020.
GUARIDO, Renata. A biologização da vida e algumas implicações do discurso médico sobre a educação. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; GRUPO INTERINSTITUCIONAL QUEIXA ESCOLAR (orgs.). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 27–39.
GONÇALVES FILHO, José Moura. Humilhação Social - um Problema Político em Psicologia. Psicologia USP, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 11-67, 1998. DOI: 10.1590/psicousp. v9i2.107818. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/107818. Acesso em: 15 out. 2022.
GONÇALVES FILHO, José Moura. Humilhação política. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2020. P. 187-222.
GONÇALVES FILHO, José Moura. Medicalização e humilhação social. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 137-159.
GUSSO, Raquel Souza Lobo. Saúde psicológica, sucesso escolar e eficácia da escola: desafios do novo milênio para a psicologia escolar. In: PRETTE, Zilda Aparecida Pereira Del (org.). Psicologia Escolar e Educacional: saúde e qualidade de vida. 3. ed. Campinas, SP: Editora Alínea, 2008, p. 25-42.
HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2017.
ILLICH, Ivan. A Expropriação da Saúde: nêmesis da medicina. Tradução de José Kosinski de Cavalcanti. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
MACHADO, Roberto, et al. Danação da norma: a medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.
OLIVEIRA, Elaine Cristina de; Harayama, Rui Massato, VIÉGAS, Lygia de Sousa. Drogas E Medicalização Na Escola: Reflexões Sobre Um Debate Necessário. Revista Teias, v. 17, n. 45, p. 99–118, 2016.
MELLO, Suely Amaral. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva histórico-cultural. Perspectiva, [S. l.], v. 25, n. 1, p. 83–104, 2007. DOI: 10.5007/%x. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/1630. Acesso em: 15 out. 2022.
PATTO, Maria Helena Souza. A família pobre e a escola pública: anotações sobre um desencontro. In: PATTO, Maria Helena Souza (org.). Introdução à Psicologia Escolar. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. p. 281-296.
PATTO, Maria Helena Souza. O mal-estar na educação. In.: PATTO, Maria Helena Souza. Exercícios de Indignação: escritos de educação e psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 141-154.
PATTO, Maria Helena Souza. A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia. 4. ed. São Paulo: Intermeios, 2015.
PRESTES, Zoia. A teoria histórico-cultural, a ciência e a medicalização da educação. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 45-52.
QUINTEIRO, Jucirema, CARVALHO, Diana Carvalho. O ensino fundamental de nove anos e o direito à infância na escola não são sinônimos! Revista Pedagógica. v. 17 n. 35: Mai./Ago. 2015. Disponível em: https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/pedagogica/article/view/3058
REY, Fernando Luis González. Epistemología cualitativa: sus implicaciones metodologicas. Psicología Revista. PUC-SP: São Paulo. v. 5, p. 13-32, dez. 1997. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/ 234683 > Acesso em: 10 de jul. 2013.
REY, Fernando Luis González. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. Tradução Marcel Aristides Ferrada. São Paulo: Pioneira Thompson, 2002.
REY, Fernando Luis González. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: os processos de construção da informação. Tradução Marcel Aristides Ferrada. São Paulo: Pioneira Thompson, 2005.
SOUZA, Beatriz de Paula. Funcionamentos escolares e a produção do fracasso escolar e sofrimento. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2020. p. 241-278.
SOUZA, Beatriz de Paula; SOBRAL, Kelly Regina. Características da clientela da orientação à queixa escolar: revelações, indicações e perguntas. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 119-134.
SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Problemas de aprendizagem ou problemas de escolarização? Repensando o cotidiano escolar à luz da perspectiva histórico-crítica em psicologia. In: OLIVEIRA, Marta Kohl de; SOUZA, Denise Trento R.; REGO, Teresa Cristina (orgs.). Psicologia, educação e as temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002. p. 177-195.
SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Retornando à patologização para justificar a não aprendizagem escolar: a medicalização e o diagnóstico de transtornos de aprendizagem em tempos de neoliberalismo. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; grupo interinstitucional queixa escolar (orgs). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2010, p. 57-68.
SOUZA, Simone Vieira de. O estudante (in)visível na queixa escolar visível: um estudo sobre a constituição do sujeito na trajetória escolar. 2013. 203 p. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima; MENDONÇA Fernando Wolff; FERRACIOLI, Marcelo Ubiali; EIDT, Nadia Mara. Tem remédio para a educação? considerações da psicologia histórico-cultural. Práxis Educacional, [S. l.], v. 15, n. 36, p. 154-177, 2019. DOI: 10.22481/praxisedu.v15i36.5863. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/article/view/5863. Acesso em: 15 out. 2022.
VIÉGAS, Lygia de Souza. Dificuldades de escolarização e Progressão Continuada: uma relação complexa. In: SOUZA, Beatriz de Paula. Orientação à Queixa Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 307-328.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais referentes aos artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.