A infância medicalizada: um estudo sobre a constituição da criança com queixa escolar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2022.e90445

Palavras-chave:

Infância, Medicalização, Queixa escolar

Resumo

Este trabalho apresenta um recorte sobre os sentidos produzidos pela criança com queixa escolar, tendo como pressupostos a Psicologia Escolar Crítica. Participaram do estudo, cinco crianças/estudantes com idade entre 12 e 13 anos, encaminhados para atendimento psicológico no serviço de psicologia de uma universidade comunitária, bem como as famílias e professoras/es dessas crianças. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e o processo metodológico enfatiza o sentido pessoal que as crianças percebem, nos atravessamentos marcados pela queixa escolar. O foco da investigação foi, assim, o ponto de vista da criança, sendo privilegiadas as mediações vividas no espaço da escola e da família. O estudo demonstra que sucessivas experiências de humilhação, exclusão e medicalização produzem sofrimento, além de atribuírem sentidos às histórias de pouco sucesso escolar. Por outro lado, evidencia-se que, quando as crianças/estudantes contam com experiências que validam a sua potência, há uma possibilidade de se estranhar no habitual lugar de incapaz e de imprimir novos sentidos a sua história.

Biografia do Autor

Simone Vieira de Souza, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Possui graduação e licenciatura em Psicologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1995), Especialização em Psicologia e Saúde Coletiva pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1996), Formação Clínica em Gestalt-Terapia pelo Centro de Estudos e Formação em Gestalt-Terapia do Paraná (1998), mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (2003); doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2013) e pós-doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2021). Trabalhou como psicóloga clínica dentro do contexto hospitalar e consultório de 1996 a 2013. Professora Adjunta no Departamento de Metodologia de Ensino, do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina e do Programa de Pós-Graduação em Educação. Membro do Laboratório de Psicologia Escolar e Educacional (LAPEE), do Núcleo de Estudos sobre Violências (NUVIC), do Instituto de Memória e Direitos Humanos (IMDH-UFSC) e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Educação e Escola (GEPIEE), cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq desde 2001, sediado na UFSC. Desenvolve trabalhos e pesquisas nas seguintes áreas e/ou temas: infância, trajetórias de escolarização, queixa escolar, medicalização da vida escolar e psicologia escolar e educacional.

Referências

BELTRAME, Rudinei Luiz. Medicalização da educação: sentidos produzidos por estudantes com diagnóstico relacionado a dificuldades no processo de aprendizagem e de comportamento. 2019. 168 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.

DERMATINI, Zeila de Brito Fabri. Infância, Pesquisa e Relatos Orais. In: FARIA Ana Lúcia Goulart de; DERMATINI, Zeila de Brito Fabri; PRADO, Patrícia Dias (orgs.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 1–17.

CAPONI, Sandra. O conceito de doença e a reconfiguração dos transtornos mentais na infância. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 53-78.

COLAÇO, Lorena Carrillo. A produção de conhecimento e a implicação para a prática do encaminhamento, diagnóstico e medicalização de crianças: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural. 2016. 117 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2016.

FÓRUM SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Carta do IV Seminário Internacional A Educação Medicalizada: desver o mundo, perturbar os sentidos. In: SEMINÁRIO SOBRE A EDUCAÇÃO MEDICALIZADA, 4, 2015, Salvador-BA. Anais... Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, 2016, v.1, n.1, p. 12-20. Disponível em: <http://anais.medicalizacao.org.br/index.php/educacaomedicalizada/article/view/235/205>. Acesso em 18 nov. 2020.

FÓRUM SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Manifesto Desmedicalizante e Interseccional: “existirmos, a que será que se destina?”. SEMINÁRIO SOBRE A EDUCAÇÃO MEDICALIZADA, 5, 2019, Salvador-BA. Anais... Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, 2019, v.1, n.1, p. 12-20. Disponível em: <http://anais.medicalizacao.org.br/index.php/educacaomedicalizada/article/view/235/205>. Acesso em 18 nov. 2020.

GUARIDO, Renata. A biologização da vida e algumas implicações do discurso médico sobre a educação. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; GRUPO INTERINSTITUCIONAL QUEIXA ESCOLAR (orgs.). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 27–39.

GONÇALVES FILHO, José Moura. Humilhação Social - um Problema Político em Psicologia. Psicologia USP, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 11-67, 1998. DOI: 10.1590/psicousp. v9i2.107818. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/107818. Acesso em: 15 out. 2022.

GONÇALVES FILHO, José Moura. Humilhação política. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2020. P. 187-222.

GONÇALVES FILHO, José Moura. Medicalização e humilhação social. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 137-159.

GUSSO, Raquel Souza Lobo. Saúde psicológica, sucesso escolar e eficácia da escola: desafios do novo milênio para a psicologia escolar. In: PRETTE, Zilda Aparecida Pereira Del (org.). Psicologia Escolar e Educacional: saúde e qualidade de vida. 3. ed. Campinas, SP: Editora Alínea, 2008, p. 25-42.

HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2017.

ILLICH, Ivan. A Expropriação da Saúde: nêmesis da medicina. Tradução de José Kosinski de Cavalcanti. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

MACHADO, Roberto, et al. Danação da norma: a medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.

OLIVEIRA, Elaine Cristina de; Harayama, Rui Massato, VIÉGAS, Lygia de Sousa. Drogas E Medicalização Na Escola: Reflexões Sobre Um Debate Necessário. Revista Teias, v. 17, n. 45, p. 99–118, 2016.

MELLO, Suely Amaral. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva histórico-cultural. Perspectiva, [S. l.], v. 25, n. 1, p. 83–104, 2007. DOI: 10.5007/%x. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/1630. Acesso em: 15 out. 2022.

PATTO, Maria Helena Souza. A família pobre e a escola pública: anotações sobre um desencontro. In: PATTO, Maria Helena Souza (org.). Introdução à Psicologia Escolar. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. p. 281-296.

PATTO, Maria Helena Souza. O mal-estar na educação. In.: PATTO, Maria Helena Souza. Exercícios de Indignação: escritos de educação e psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 141-154.

PATTO, Maria Helena Souza. A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia. 4. ed. São Paulo: Intermeios, 2015.

PRESTES, Zoia. A teoria histórico-cultural, a ciência e a medicalização da educação. In: OLIVEIRA, Eliane Cristina de; VIÉGAS, Lygia de Souza; MESSEDER NETO, Hélio da Silva (orgs.). Desver o mundo, perturbar os sentidos: caminhos na luta pela desmedicalização da vida. Salvador: EDUFBA, 2021. p. 45-52.

QUINTEIRO, Jucirema, CARVALHO, Diana Carvalho. O ensino fundamental de nove anos e o direito à infância na escola não são sinônimos! Revista Pedagógica. v. 17 n. 35: Mai./Ago. 2015. Disponível em: https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/pedagogica/article/view/3058

REY, Fernando Luis González. Epistemología cualitativa: sus implicaciones metodologicas. Psicología Revista. PUC-SP: São Paulo. v. 5, p. 13-32, dez. 1997. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/ 234683 > Acesso em: 10 de jul. 2013.

REY, Fernando Luis González. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. Tradução Marcel Aristides Ferrada. São Paulo: Pioneira Thompson, 2002.

REY, Fernando Luis González. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: os processos de construção da informação. Tradução Marcel Aristides Ferrada. São Paulo: Pioneira Thompson, 2005.

SOUZA, Beatriz de Paula. Funcionamentos escolares e a produção do fracasso escolar e sofrimento. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2020. p. 241-278.

SOUZA, Beatriz de Paula; SOBRAL, Kelly Regina. Características da clientela da orientação à queixa escolar: revelações, indicações e perguntas. In: SOUZA, Beatriz de Paula (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 119-134.

SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Problemas de aprendizagem ou problemas de escolarização? Repensando o cotidiano escolar à luz da perspectiva histórico-crítica em psicologia. In: OLIVEIRA, Marta Kohl de; SOUZA, Denise Trento R.; REGO, Teresa Cristina (orgs.). Psicologia, educação e as temáticas da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002. p. 177-195.

SOUZA, Marilene Proença Rebello de. Retornando à patologização para justificar a não aprendizagem escolar: a medicalização e o diagnóstico de transtornos de aprendizagem em tempos de neoliberalismo. In: CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; grupo interinstitucional queixa escolar (orgs). Medicalização de crianças e adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2010, p. 57-68.

SOUZA, Simone Vieira de. O estudante (in)visível na queixa escolar visível: um estudo sobre a constituição do sujeito na trajetória escolar. 2013. 203 p. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

TULESKI, Silvana Calvo; FRANCO, Adriana de Fátima; MENDONÇA Fernando Wolff; FERRACIOLI, Marcelo Ubiali; EIDT, Nadia Mara. Tem remédio para a educação? considerações da psicologia histórico-cultural. Práxis Educacional, [S. l.], v. 15, n. 36, p. 154-177, 2019. DOI: 10.22481/praxisedu.v15i36.5863. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/article/view/5863. Acesso em: 15 out. 2022.

VIÉGAS, Lygia de Souza. Dificuldades de escolarização e Progressão Continuada: uma relação complexa. In: SOUZA, Beatriz de Paula. Orientação à Queixa Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 307-328.

Publicado

2022-10-27