Corpos marcados nos tempos da história: infâncias negras na literatura e na imprensa
DOI:
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2023.e90911Palavras-chave:
Infâncias negras, Racismo, Literatura, História, ImprensaResumo
Sob as lentes da história, da literatura e da imprensa, apresenta-se neste artigo a questão da infância negra e o impacto do racismo dialogando com dois contos que têm duas meninas negras como protagonistas, a saber: Negrinha, de Monteiro Lobato (1994), e Nota – De como acabou, em Goiás, o castigo dos cacos quebrado no pescoço, de Cora Coralina (2011). Com essas duas escritas literárias, busca-se dialogar com matérias encontradas em páginas da imprensa que abordam casos de racismo cometidos contra crianças nos sete primeiros meses do ano de 2022. A análise desta temática se sustenta em estudos bibliográficos na literatura, história da infância e da atualidade, uma incursão que possibilitou constatar que, apesar das especificidades de cada conto, assim como a atualidade de parte da realidade, as narrativas se convergem e fornecem ao trabalho historiográfico o retrato da criança negra, vivendo em um espaço marcado pelo vestígio da escravidão, logo, lugar de opressão. Ao confrontar a literatura feita no século XX com os casos de racismo divulgados na imprensa, percebem-se os corpos marcados das crianças pelo racismo e, ainda que os movimentos antirracistas tenham conquistado espaço, são visíveis as marcas que atingem, com sequelas, as vidas das crianças negras.
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