Corpos marcados nos tempos da história: infâncias negras na literatura e na imprensa

Autor/innen

DOI:

https://doi.org/10.5007/1980-4512.2023.e90911

Schlagworte:

Infâncias negras, Racismo, Literatura, História, Imprensa

Abstract

Sob as lentes da história, da literatura e da imprensa, apresenta-se neste artigo a questão da infância negra e o impacto do racismo dialogando com dois contos que têm duas meninas negras como protagonistas, a saber: Negrinha, de Monteiro Lobato (1994), e Nota – De como acabou, em Goiás, o castigo dos cacos quebrado no pescoço, de Cora Coralina (2011). Com essas duas escritas literárias, busca-se dialogar com matérias encontradas em páginas da imprensa que abordam casos de racismo cometidos contra crianças nos sete primeiros meses do ano de 2022. A análise desta temática se sustenta em estudos bibliográficos na literatura, história da infância e da atualidade, uma incursão que possibilitou constatar que, apesar das especificidades de cada conto, assim como a atualidade de parte da realidade, as narrativas se convergem e fornecem ao trabalho historiográfico o retrato da criança negra, vivendo em um espaço marcado pelo vestígio da escravidão, logo, lugar de opressão. Ao confrontar a literatura feita no século XX com os casos de racismo divulgados na imprensa, percebem-se os corpos marcados das crianças pelo racismo e, ainda que os movimentos antirracistas tenham conquistado espaço, são visíveis as marcas que atingem, com sequelas, as vidas das crianças negras.

Autor/innen-Biografien

Diane Valdez , Universidade Federal de Goiás - UFG

Graduada em História pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB - 1990), Mestra em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG - 1999), Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp - 2006), realizou um estágio de Pós Doutorado na Universidad Nacional de La Plata (UNLP 2012-2013). Professora Associada II da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, tem experiência de docência, pesquisa e extensão na área de História, com ênfase em História da Educação, principalmente nos seguintes temas: infância e educação, impressos escolares, biografias de educadoras/es, instrução e educação regional, livros seriados de leitura, ensino primário, literatura e história. Autora de livros didáticos de História para o Ensino Fundamental e de livros literários para crianças. Ativista e militante de movimentos dos Direitos Humanos.

Elis Regina da Silva Oliveira, Universidade Federal de Goiás - UFG

Mestre em Educação. Universidade Federal de Goiás. Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação. Secretaria Municipal de Educação de Goiânia. Secretaria de Estado da Educação de Goiás.

Danielly Cardoso da Silva, Universidade Federal de Goiás - UFG

Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFG. Mestra em Educação (PPGE/FE/UFG), linha Estado Políticas e História da Educação. Pedagoga pela Universidade Federal de Goiás (2012), Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultura (2014). Técnica em Assuntos Educacionais da Universidade Federal de Goiás, lotada no Centro de Pesquisa e Ensino Aplicada à Educação - CEPAE/ UFG. Foi Coordenadora Pedagógica da Faculdade Brasileira de Educação e Cultura - FABEC Brasil entre março de 2019 de outubro de 2020. Tem experiência na área de Educação como professora regente e auxiliar de atividades educativas na Educação Infantil. Participou dos projetos "Centro Memória Viva: Documentação e Referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais do Centro Oeste" e "Educação como direito de todos: produção de conhecimento e valorização da diversidade para inclusão social" na Faculdade de Educação da UFG no período de 2010 a 2016. Atuou como chefe da divisão Administrativa da Secretaria do CEPAE. Atualmente participa do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação na Faculdade de Educação da UFG.

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Veröffentlicht

2023-05-03

Ausgabe

Rubrik

Dossiê - Infâncias, racismos e educação infantil