Mutações no governo da infância no Brasil contemporâneo
DOI :
https://doi.org/10.5007/1980-4512.2021.e81100Résumé
Na perspectiva de que uma das características centrais da infância é sua tutela pelo mundo adulto, que a mantém longe de qualquer perspectiva de emancipação, sustentada na filosofia de René Schérer, o artigo investiga as formas do governo da infância no Brasil contemporâneo. Tomando por referência a análise feita por Foucault dos processos de governamentalização dos Estados modernos, apresenta a hipótese que se instituiu no Brasil pós-ditadura militar uma “governamentalidade democrática”, centrada na promoção da cidadania e no governo dos cidadãos. Neste contexto, constituiu-se um governo democrático da infância, sendo as crianças erigidas ao estatuto de “sujeitos de direitos”, o que se pode depreender de políticas públicas como o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Política Nacional de Educação Infantil (2006), dentre outras. Por fim, são indicadas mutações no governo da infância desde 2016, com nítidas transformações em relação à governamentalidade democrática, lançando-se algumas interrogações.
Références
ALAIN. Propos sur l’Éducation suivi de Pédagogie Enfantine. 6ª ed. Paris : Presses Universitaires de France (Coll. Quadrige), 2007.
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.
ASSOCIAÇÃO NOVA ESCOLA. BNCC na prática – tudo o que você precisa saber sobre a educação infantil. São Paulo: Nova Escola/Fundação Lemann, 2020.
ACOSTA, Tassio; GALLO, Silvio. A educação em disputa no Brasil contemporâneo: entre os estudos de gênero, a dita ideologia de gênero e a produção de uma ‘ideologia de gênesis’. Educação (UFSM), 45, 2020. e92/ 1-28. doi:https://doi.org/10.5902/1984644443607. Acesso em 19 de abril de 2021.
AUGUSTO, Acácio. Política e polícia: cuidados, controles e penalizações de jovens. Rio de Janeiro: Lamparina, 2013.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 17 de abril de 2021).
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 15 fev. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à educação. Brasília: MEC/SEB, 2006.
BRASIL. Câmara de Educação Básica, Conselho Nacional de Educação, Ministério da Educação. Resolução n. 05, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 dez. 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
COLETIVO CENTELHA. Ruptura. São Paulo: n-1, 2019.
CORAZZA, Sandra Mara. História da infância sem fim. Ijuí: Editora Unijuí, 2000.
DELEUZE, Gilles; FOUCAULT, Michel. Os Intelectuais e o Poder. In: DELEUZE, Gilles. A Ilha Deserta e outros textos – textos e entrevistas (1953-1974). São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 265-273.
GALLO, Sílvio. Governamentalidade democrática e ensino de filosofia no Brasil contemporâneo. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), v.42, 2012, p.48 - 64.
GALLO, Sílvio. “O pequeno cidadão”: sobre a condução da infância em uma governamentalidade democrática. In: RESENDE, Haroldo (org.): Michel Foucault – o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica, 2015, p. 329-343.
GALLO, Sílvio. Políticas da diferença e políticas públicas em educação no Brasil. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 31, n. 63, p. 1497-1523, set./dez. 2017a.
GALLO, Sílvio. Biopolítica e Subjetividade: resistência? Educar em Revista, Curitiba, v. 33, n. 66, out./dez. 2017b, p. 77-94.
GALLO, Sílvio. René Schérer e a Filosofia da Educação: primeiras aproximações. Revista Educação e Filosofia, v.32, n. 65, mai./ago. -2018a. DOI: https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v32n65a2018-14. Acesso em 17 de abril de 2021.
GALLO, Sílvio. Da escola à rua: passos para uma filosofia da infância. In: RODRIGUES, Alexsandro (org.). Crianças em dissidências – narrativas desobedientes da infância. Salvador: Editora Devires, 2018b, p. 201-2016.
GALLO, Sílvio. Educação infantil: do dispositivo pedagógico ao “ir junto” com as crianças. In: ABRAMOWICZ, Anete; TEBET, Gabriela G. C. (org.). Infância e Pós-Estruturalismo. 2ª ed. São Carlos: Pedro & João Editores, 2019, p. 113-130.
GALLO, Sílvio. Um duplo contágio, ou contágios múltiplos: do governo pelo vírus e de lutas de resistência. In: COÊLHO, Plínio A. (org.). O mundo pós-pandemia – retorno à “normalidade distópica”? Reflexões libertárias. São Paulo: Intermezzo Editorial, 2021, p. 33-60.
GALLO, Sílvio. Gubernamentalidad y biopolítica en el Brasil contemporáneo. Reflexiones Marginales – Revista de Filosofía. México: UNAM, abril de 2021b. Disponível em: https://reflexionesmarginales.com.mx/blog/2021/04/03/gubernamentalidad-y-biopolitica-en-el-brasil-contemporaneo/. Acesso em 17 de abril de 2021.
GALLO, Sílvio; LIMONGELLI, Rafael Moraes. “Infância maior”: linha de fuga ao governo democrático da infância. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 46, e236978, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022020000100407&lng=en&nrm=iso. Epub Nov 11, 2020. https://doi.org/10.1590/s1678-4634202046236978. Acesso em 17 de abril de 2021.
FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1, 2018.
NARODOWSI, Mariano. Infância e Poder: conformação da pedagogia moderna. Bragança Paulista: Editora da USF, 2001.
PROUDHON, Pierre-Joseph. Textos escolhidos. Seleção e notas de Daniel Guérin. Porto Alegre: L&PM, 1983.
SCHÉRER, René. Infantis. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SCHÉRER, René. Vers une enfance majeure. Paris: La Fabrique, 2006.
SCHÉRER, René. Petit alphabet impertinant. Paris: Hermann, 2014.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
Os direitos autorais referentes aos artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.