Sobre a Revista

A outra travessia tem como missão difundir reflexões atuais sobre temáticas relacionadas aos campos da Literatura e da Teoria Literária. Recebe originais de artigos e ensaios relativos a esses campos, assim como resenhas de livros, entrevistas, traduções. O fluxo de edição se dá por chamadas de publicações temáticas, abertas duas vezes ao ano.

Publica: originais de artigos, ensaios, resenhas de livros, entrevistas e traduções. 

Idiomas: português; inglês.

Notícias

Aporias e fluxos do tempo e da tradução

2022-02-22

Dossiê: Aporias e fluxos do tempo e da tradução

Prazo (prorrogado): até 15 de maio de 2022.

 

O número 33 (1.2022), da revista outra travessia, volta-se a indagações acerca da natureza da temporalidade e sua relação com a teoria e a prática tradutória.

A pergunta basilar de Agostinho de Hipona sobre a natureza do tempo impõe-se como partida teórica sobre a construção temporal enquanto “ser ou não ser”, possibilidade ou impossibilidade categorial. Assim como formulada no décimo primeiro livro das Confissões, a questão sobre o tempo é compreendida em seu caráter de aporia pelos principais comentadores. Ora, também a reflexão e a prática da tradução deparam-se com a condição aporética de seu objeto, derivada justamente do intervalo temporal que se insere entre texto original e desdobramentos em diversos momentos posteriores, na forma de texto a traduzir, texto em processo de tradução, texto traduzido e retraduzido. Essa sucessão de momentos, que se inscreve anacronicamente a cada nova tradução, foi descrita por Walter Benjamin no ensaio “A tarefa do tradutor” como a sobrevivência (Überleben) e a pervivência (Fortleben) das obras em sua condição essencialmente póstera ou póstuma – nas traduções. A história dos comentários desse ensaio é também marcada por uma aporia: a simultânea impossibilidade e necessidade da tradução, como reiteraram Jacques Derrida e Haroldo de Campos, o teórico da tradução como “transcriação”, uma teoria plenamente consciente do caráter póstero, deslocado e anacrônico de toda tradução.

Se a tradução, como disse Walter Benjamin, é uma forma, e, enquanto tal, tentativa de fixar algo fundamentalmente móvel, ela é por isso mesmo escansão rítmica. Propomos aqui, portanto, retomar a reflexão sobre o tema dos trânsitos e fluxos, aprofundando a investigação acerca do vínculo aporético e rítmico entre temporalidade e tradução em obras literárias, fílmicas e artísticas do universo cultural lusófono. São bem vindos artigos acerca da tradução de obras voltadas para experiências de exílio e das dificuldades advindas do transcurso temporal e de sua fixação na linearidade da linguagem. Nesse sentido, são igualmente esperadas reflexões que tratem da tradução de obras de caráter memorial-autobiográfico, considerando, sobretudo, as torções de sentido que seu registro necessariamente anacrônico engendra. Tendo em vista o papel desempenhado pelos suportes das obras literárias e artísticas em processos de tradução literária ou intermedial, o número da Outra Travessia espera contar também com propostas acerca do lugar da edição e das edições (ou o lugar do curador e da curadoria no caso de transposições artísticas) e do arquivo na articulação temporal das obras, seja no transcurso histórico de sua recepção, seja no tempo do agora – no Jetztzeit benjaminiano, tempo eminentemente vivo e criador.

Homenagem

O número presta uma homenagem ao poeta e tradutor brasileiro Augusto de Campos, unindo-se às celebrações em torno de seu aniversário de 90 anos.

Organização

Susana Kampff Lages (Universidade Federal Fluminense)  susanakl@id.uff.br

Maria Aparecida Barbosa (Universidade Federal de Santa Catarina) aparecidabarbosaheidermann@gmail.com

Johannes Kretschmer (Universidade Federal Fluminense) jk@id.uff.br

Saiba mais sobre Aporias e fluxos do tempo e da tradução

Edição Atual

v. 2 n. 32 (2021): n 32
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Nas últimas décadas, a centralidade do conceito de arquivo tornou-se inegável. Claro, trata-se de uma centralidade excêntrica, se assim pudermos dizer, já que situa e vincula, a um só tempo, a ausência e a presença, a epistemologia e a ontologia, a dispersão e a consignação, a fragmentação e a combinação, de maneira que os mais dissímeis fenômenos da cultura e, no limite, os sujeitos e a história mesma, tornam-se legíveis ou são obliterados em razão de um funcionamento aporético incontornável, funcionamento que é próprio do logos a-lógico do arquivo.

Publicado: 2022-10-03
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