Etnografia de um laboratório de parasitologia: o que gavetas e armários nos dizem sobre o processo formativo de uma cientista?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1982-5153.2023.e91112

Palavras-chave:

Etnografia de laboratório, Teoria Ator-Rede, Formação de cientistas

Resumo

O artigo apresenta parte de um estudo etnográfico sobre a formação de uma cientista em um laboratório de pesquisas em Parasitologia, situado em uma grande universidade do sudeste brasileiro. Com referencial teórico e metodológico da Teoria Ator-Rede (TAR), investigamos as associações entre atores humanos e não humanos e as performances produzidas, que configuram o que é o laboratório, a ciência e as pesquisas, assim como o que é preciso aprender para se tornar cientista nesse lugar. Em nossas análises, notamos que gavetas e armários, por exemplo, trazem elementos de pertencimento e da carreira profissional dos cientistas. Além disso, o objeto de estudo da doutoranda que acompanhamos no laboratório, o ascaris, participa de uma divisão entre o mundo interno e o externo ao laboratório. Dessa forma, consideramos necessário perceber as produções de realidades no laboratório nas condições e possibilidades em que o(a) cientista vive, considerando com quem e com o quê ele (a) interage.

Biografia do Autor

Bárbara Martinez, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduada em Antropologia (Bacharelado) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e cursou parte da graduação no Instituto Universitário de Lisboa -ISCTE -IUL. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) atuando na linha de Educação em Ciências. Mestra em Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Tem interesse em pesquisas relacionadas as áreas de Educação, Antropologia da Ciência, Divulgação Científica, Infâncias e abordagens Antropológicas e Etnográficas.

Gabriel Menezes Viana, Universidade Federal São João del-Rei

Doutor e Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG). Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) onde leciona no curso de licenciatura em Ciências Biológicas e no Mestrado em Educação (PPEdu). Coordenador de um grupo de pesquisas que investiga diferentes processos de educação científica e tecnológica por meio da Teoria Ator-Rede e de outros aportes teóricos propostos por Latour e colaboradores. Tem interesse nos processos de ensino-aprendizagem na formação de professores e de cientistas no campo das Ciências da Natureza. Atualmente, coordena um projeto de pesquisas financiado pela Fapemig com foco na produção de realidades durante a pandemia da Covid-19.

Francisco Coutinho, Universidade Federal de Minas Gerais

Francisco Ângelo Coutinho é graduado em licenciatura em Ciências Biológicas, mestre em Filosofia (na área de Lógica e Filosofia da Ciência) e doutor em Educação, pela UFMG. É professor associado da Faculdade de Educação da UFMG, onde atua na graduação e na pós-graduação. É líder do grupo Cogitamus - Educação e Humanidades Científicas.

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Publicado

2023-11-24

Edição

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Artigos