O modelo genético e o movimento dinâmico entre abstrato e concreto como instrumentos para o planejamento de sequências didáticas para o ensino de ciências

Autores

  • Leonardo Lago Universidade de Cambridge
  • José Luis Ortega Universidade de São Paulo
  • Cristiano Mattos Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.5007/1982-5153.2020v13n1p123

Resumo

Este trabalho discute as bases teóricas do método da “ascensão do abstrato ao concreto” como processo de formação de conceitos e desenvolve uma proposta didática com base nele. A noção de célula germe é expandida para modelo genético, quando consideramos o sistema de conceitos da disciplina escolar e o uso dele para a modelização de determinado fenômeno. A construção das atividades didáticas tem como ponto de partida a determinação do modelo genético para as fases da Lua, isto é, o conjunto de conceitos e relações que suportam o modelo científico e explicativo do fenômeno. A partir deste modelo, elaboramos e organizamos uma sequência de cinco atividades para o Ensino Fundamental em que cada uma delas reduz e sintetiza uma relação conceitual específica do modelo. O resultado da intervenção didática foi avaliado por meio de registros escritos dos alunos. Concluímos que a atividade proposta ofereceu oportunidades para que os estudantes mobilizassem os conceitos relevantes e construíssem modelos científicos adequados. Além disso, entendemos o modelo genético como uma ferramenta para a organização da atividade de ensino, auxiliando no planejamento de situações didáticas.

Biografia do Autor

Leonardo Lago, Universidade de Cambridge

Doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge. Mestre em Ensino de Ciências pelo Programa Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC) e mestre em Astrofísica pelos Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel e licenciado em Física pelo Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP).

José Luis Ortega, Universidade de São Paulo

Doutorando em Ensino de Ciências e mestre em Ensino de Ciências pelo Programa Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC) da Universidade de São Paulo (USP). Licenciado em Física pelo Instituto de Física (IF) e bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

Cristiano Mattos, Universidade de São Paulo

Doutor em Física pelo Instituto de Física (IF) e Mestre em Ensino de Ciências pelo Programa Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC) da Universidade de São Paulo (USP). Professor Doutor II, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e bolsista CNPq de produtividade 1d. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências e Complexidade.

Referências

BENACCHIO, L. The importance of the moon in teaching astronomy at the primary school. Earth, Moon, and Planets, v. 85, p. 51–60, 1999.

BISCH, S. Astronomia no Ensino Fundamental: Natureza e Conteúdo do Conhecimento de Estudantes e Professores. Tese de doutorado em Educação – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

CACHAPUZ, A.; GIL-PEREZ, D.; CARVALHO, A. M. P.; PRAIA, J.; VILCHES, A. A necessária renovação do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

CALLISON, P.; WRIGHT, E. The Effect of Teaching Strategies Using Models on Preservice Elementary. In: THE ANNUAL MEETING OF THE NATIONAL ASSOCIATION FOR RESEARCH IN SCIENCE TEACHING, 1993, Atlanta. Anais... Atlanta, 1993. Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED360171.pdf. Último acesso em 16 ago. 2019.

DAFERMOS, M. Activity theory: theory and practice. In: PARKER, I. (Ed.). Handbook of critical psychology. London: Routledge, 2015. p. 261–270.

DAVYDOV, V. V. Activity, the Mind, and Consciousness. Russian Education & Society, v. 30, n. 8, p. 24–43, 1988a.

DAVYDOV, V. V. Learning Activity in the Younger School-age Period. Soviet Education, v. 30, n. 9, p. 3–47, 1988b.

DAVYDOV, V. V. Soviet Studies in Mathematics Education Volume 2. Reston: National Council of Teachers of Mathematics, 1990.

DAVYDOV, V. V. The Concept of Developmental Teaching. Journal of Russian and East European Psychology, v. 36, n. 4, p. 11–36, 1998.

DAVYDOV, V. V.; MARKOVA, A. K. A Concept of Educational Activity for Schoolchildren. Journal of Russian and East European Psychology, v. 21, n. 2, p. 50–76, 1982.

ENGESTRÖM, Y. The development of theoretical generalization in instruction: a case study of history teaching. In: ENGESTRÖM, Y. (Ed.). Learning, working and imagining twelve studies in activity theory. Helsinki: Orienta-Konsultit Oy, 1990. p. 25–47.

ENGESTRÖM, Y. Non scolae sed vitae discimus: Toward overcoming the encapsulation of school learning. Learning and instruction, v. 1, n. 3, p. 243–259, 1991.

ENGESTRÖM, Y.; NUMMIJOKI, J.; SANNINO, A. Embodied Germ Cell at Work: Building an Expansive Concept of Physical Mobility in Home Care. Mind, Culture, and Activity, v. 19, n. 3, p. 287–309, 2012.

GALPERIN, P. Y. Mental Actions as a Basis for the Formation of Thoughts and Images. Soviet Psychology, v. 27, n. 3, p. 45–64, 1989.

HEDEGAARD, M. How Instruction Influences Children’s Concepts of Evolution. Mind, Culture, and Activity, v. 3, n. 1, p. 11–24, 1996.

HEDEGAARD, M. Activity theory and history teaching. In: ENGESTROM, Y.; MIETTINEN, R.; PUNAMAKI, R.-L. (Eds.). Perspectives on activity theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. p. 282–297.

HEDEGAARD, M. The development of children’s conceptual relation to the world, with a focus on concept formation in pre-school children’s activity. In: DANIELS, H.; COLE, M.; WERTSCH, J. V. (Eds.). The Cambridge Companion to Vygotsky. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. p. 246–275.

HOBOLD; E. S. F.; ROSA; J. E. O ensino da tabuada no contexto das ações de estudo propostas por Davydov e colaboradores. Revista Brasileira de Educação, v. 22, n. 71, e227158, 2017.

HOWE, K. R. Isolating Science from the Humanities: The Third Dogma of Educational Research. Qualitative Inquiry, v. 15, n. 4, p. 766–784, 2008.

HOWE, K. R. Positivist Dogmas, Rhetoric, and the Education Science Question. Educational Researcher, v. 38, n. 6, p. 428–440, 2009.

KAVANAGH, C.; AGAN, L.; SNEIDER, C. Learning about phases of the moon and eclipses: A guide for teachers and curriculum developers. Astronomy Education Review, v. 4, n. 1, p. 19-52, 2005.

KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.

KRINER, A. Las Fases De La Luna? Cómo Y Cuando Enseñarlas? Phases of the moon: how and when teach them? Ciência & Educação, v. 10, n. 1, p. 111–120, 2004.

LAGO, L. G. Lua: fases e facetas de um conceito. Dissertação de mestrado em Ensino de Ciências – Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

LAGO, L.; MATTOS, C.R. Fases da Lua: uma aproximação do sistema de conceitos (Vygotsky) com o sistema de atividade (Leontiev). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM ASTRONOMIA (SNEA), 2, 2012, São Paulo. Atas... São Paulo, 2012. Disponível em: https://www.sab-astro.org.br/wp-content/uploads/2017/03/SNEA2012_TCO12.pdf. Último acesso em 16 ago. 2019.

LAGO, L.; ORTEGA, J. L; MATTOS, C.R. Lua na mão: mediação e conceitos complexos no Ensino de Astronomia. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, 20 (e10388), 2018.

LAGO, L.; ORTEGA, J. L.; MATTOS, C.R. A investigação científica-cultural como forma de superar o encapsulamento escolar: uma intervenção com base na Teoria da Atividade para o caso do ensino das fases da Lua. Investigações em Ensino de Ciências, v. 24, n. 1, p. 239-260, 2019.

LEITE, C. Formação do professor de ciências em Astronomia: uma proposta com enfoque na espacialidade. Tese de doutorado em educação - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.

LELLIOTT, A.; ROLLNICK, M. Big Ideas: A review of astronomy education research 1974–2008. International Journal of Science Education, v. 32, n. 13, p. 1771–1799, 2010.

LEONTIEV, A. Lecture 36. Thinking and Activity. Journal of Russian & East European Psychology, v. 43, n. 5, p. 41–52, 2005.

LEONTIEV, A. Activity and consciousness. Pacifica: Marxists Internet Archive, 2009a.

LEONTIEV, A. The development of mind. Pacifica: Marxists Internet Archive, 2009b.

LORENZ, K. M. O Positivismo no ensino de ciências naturais na escola secundária brasileira: 1890-1900. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 7, 2008, Porto. Anais... Porto, 2008. CD-ROM.

MATTOS, C.; ORTEGA, J. L.; LAGO, L. G.; RODRIGUES, A. Scientific-cultural inquiry in school scientific activity. In: GIREP CONFERENCE, 2018, San Sebastian. Anais… San Sebastian, 2018. Disponível em: https://www.girep2018.com/contenidos/files/abstracts/resumen/autor/111_abs_con_v1.pdf. Último acesso em 16 ago. 2019.

PARKER, J.; HEYWOOD, D. The earth and beyond: developing primary teachers’ understanding of basic astronomical events. International Journal of Science Education, v. 20, n. 5, p. 503–520, 1998.

PLUMMER, J. D.; ZAHM, V. M. Covering the Standards: Astronomy Teachers’ Preparation and Beliefs. Astronomy Education Review, v. 9, n. 1, p. 010110, 2010.

RODRIGUES, A.; CAMILLO, J.; MATTOS, C. Quasi-appropriation of dialectical materialism: a critical reading of Marxism in Vygotskian approaches to cultural studies in science education. Cultural Studies of Science Education, v. 9, n. 3, p. 583–589, 2014.

ROTH, W.-M. Cultural-historical activity theory: Vygotsky’s forgotten and suppressed legacy and its implication for mathematics education. Mathematics Education Research Journal, v. 24, n. 1, p. 87–104, 2012.

ROTH, W.-M.; LEE, Y.; HSU, P. A tool for changing the world: possibilities of cultural‐historical activity theory to reinvigorate science education. Studies in Science Education, v. 45, n. 2, p. 131–167, 2009.

SADLER, P. The Initial Knowledge State of High School Astronomy Students. Tese (Doutorado em Educação) - School of Education, University of Harvard, Cambridge, 1992.

SANNINO, A. The principle of double stimulation: A path to volitional action. Learning, Culture and Social Interaction, v. 6, p. 1–15, 2015.

SANNINO, A.; DANIELS, H.; GUTIERREZ, K. D. Activity Theory between Historical Engagement and Future-Making Practice. In: SANNINO, A.; DANIELS, H.; GUTIÉRREZ, K. D. (Eds.). Learning and Expanding with Activity Theory. New York: Cambridge University Press, 2009. p. 1–15.

SANTOS, F. P. P.; MATTOS, C. Rumo à Construção de um modelo dialético-complexo para o ensino-aprendizagem humano. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS, 8, 2011, Campinas. Atas... Campinas, 2011. Disponível em: http://abrapecnet.org.br/atas_enpec/viiienpec/resumos/R1166-1.pdf. Último acesso em 16 ago. 2019.

SARAIVA, M. F.; AMADOR, C. B.; KEMPER E.; GOULART, P.; MULLER, A. As fases da Lua numa caixa de papelão. Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia, n. 4, p. 9–26, 2007.

STAHLY, L. L.; KROCKOVER, G. H.; SHEPARDSON, D. P. Third grade students’ ideas about the lunar phases. Journal of Research in Science Teaching, v. 36, n. 2, p. 159–177, 1999.

STARAKIS, J.; HALKIA, K. Primary School Students’ Ideas Concerning the Apparent Movement of the Moon. Astronomy Education Review, v. 9, n. 1, p. 010109–1, 2010.

TRUNDLE, K.; ATWOOD, R. K.; CHRISTOPHER, J. E.; SACKES, M. The Effect of Guided Inquiry-Based Instruction on Middle School Students’ Understanding of Lunar Concepts. Research in Science Education, v. 40, n. 3, p. 451–478, 2010.

VYGOTSKY, L. The Collected Works of L. S. Vygotsky. Volume 1: Problems of general psychology. New York: Plenum Press, 1987.

VYGOTSKY, L. Развитие житейских и научных понятий в школьном возрасте [Development of everyday and scientific concepts in school age children]. Психологическая наука и образование [Psychological Science and Education], v. 1, p. 5–19, 1996.

VYGOTSKY, L. The Collected Works of L. S. Vygotsky. Volume 5: Child psychology. New York: Plenum Press, 1998.

Downloads

Publicado

2020-05-13

Edição

Seção

Artigos