Influências mútuas na emergência de obstruintes em Coda no PB-L1 e no Inglês-L2
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8026.2024.e100296Palavras-chave:
Apagamento, Epêntese, Atrito linguístico, Sistemas complexos e dinâmicosResumo
Esta pesquisa analisa a emergência de obstruintes em coda no português brasileiro (PB), devido ao apagamento da vogal pós-tônica final (por exemplo, sete [sɛt]), e no inglês como segunda língua (L2), quando não há emergência de epêntese vocálica (por exemplo, set [sɛt]). Analisamos a relação de ambos os fenômenos no PB como primeira língua (L1) e no inglês-L2, decorrentes de possíveis influências mútuas (Larsen-Freeman, 1997; De Bot et al., 2007; Beckner, et al. 2009; Chang, 2019; Linck; Kroll, 2019; Opitz, 2019). Também investigamos se a variante potiguar do PB é marcada por mais casos de apagamento, como reportado em pesquisas anteriores sobre o assunto (Nascimento, 2016; Silva, 2019). Para este fim, realizamos análises acústicas e ajustamos modelos de regressão para averiguar se a variante da L1, ser bilíngue, estar em imersão em um contexto no qual a L2 é a principal língua e o contexto de vozeamento são fatores que favorecem a produção de obstruintes em coda nas duas línguas. Os resultados indicam que o apagamento é um fenômeno emergente através da reorganização da própria L1, sem influências da L2. Entretanto, a emergência de obstruintes em coda no PB-L1 não favorece a produção dos padrões alvos do inglês-L2, já que produções com obstruintes em coda não são desafiadoras para falantes brasileiros.
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