Predição Leitora e Consciência Textual: um estudo com alunos do Ensino Fundamental

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8026.2019v72n3p139

Resumo

Apoiado em estudos psicolinguísticos, este artigo trata da compreensão leitora com foco no uso da predição e no nível de consciência textual no uso dessa estratégia. Para tanto, realizou-se uma pesquisa com 55 alunos, entre 11 e 13 anos, que cursavam o 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de Porto Alegre. Para examinar o uso da predição, aplicou-se uma tarefa de leitura, na qual uma fábula foi apresentada em fichas que continham uma parte da história e perguntas que estimulavam o uso dessa estratégia. Para verificar o nível de consciência textual dos participantes, utilizou-se o protocolo verbal de autorrevelação. Os resultados mostraram que a maioria dos alunos manejou bem o uso da predição leitora, fazendo antecipações pertinentes, embora 27% deles ainda não tenham tido sucesso nesse empreendimento. Com relação à consciência textual no uso dessa estratégia, pouco mais da metade dos alunos evidenciaram comportamento metalinguístico, tendo sido capaz de explicar com eficiência as bases geradoras de suas predições com informações intratextuais ou extratextuais, enquanto 47% não alcançou esse êxito, uma vez respondiam de forma confusa e equivocada ou, quando apresentavam indícios de como processaram a questão, o faziam com vagas ou imprecisas. Considerando-se o contexto escolar, os resultados da pesquisa sugerem que tanto o uso da predição leitora quanto a consciência sobre esse uso são tópicos de trabalho inadiáveis nas aulas de Língua Portuguesa, pois oferecem ao professor informações sobre o processo de leitura dos alunos, em suas possibilidades e dificuldades.

Biografia do Autor

Danielle Baretta, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Doutoranda em Linguística no PPGL da PUCRS.

Vera Wannmacher Pereira, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Professora do PPGL da PUCRS.

Referências

ANÇÃ, M. H. S. (2015). Revisitando a consciência linguística: apropriação do conceito por parte de futuros professores de Português. Calidoscópio. São Leopoldo: Unisinos, v. 13, n. 1., p. 83 – 91.

BARRERA, S. D. (2003) Papel facilitador das habilidades metalinguísticas na aprendizagem da linguagem escrita. In: MALUF, M. R. (org). Metalinguagem e aquisição da escrita: contribuições de pesquisa para a prática da alfabetização. São Paulo: Casa do Psicólogo.

BROWN, A. L. (1980). Metacognitive developmente and reading. In: SPIRO, R. J.; BRUCE, B. C.; BREWER, W. F. Theoretical issues in reading comprehension. New Jersey: Hillsdale.

CASTRO, J. S. e PEREIRA, V. W. (2004). Leitor e texto: a preditibilidade faz a interação. Calidoscópio. São Leopoldo: Unisinos, v. 2, n. 1. p. 55 – 60.

CHAROLLES, M. (1998). Introdução aos problemas de coerência dos textos: abordagem teórica e estudo das práticas pedagógicas. In: GALVES, C; ORLANDI, E. P e OTONI, P. (Orgs.) O texto: leitura e escrita. Campinas: Pontes, p. 39 – 85.

COLL, C. (1987). Psicología y curriculum. Una aproximación psicopedagógica de la elaboración del curriculum escolar. Barcelona: Laira.

COLOMER, T. e CAMPS, A. (2002). Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.

FERNANDES, M. T. (2001). Trabalhando com gêneros do discurso: fábula. São Paulo: FTD.

FLORES, O. C. (1998). Ação-reflexão linguística e consciência. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 33, n. 4, p. 109-140.

FOUCAMBERT, J. (2008). Modos de ser leitor: aprendizagem e ensino da leitura no Ensino Fundamental. Curitiba: Editora da UFPR.

FULGÊNCIO, L. e LIBERATO, Y. (2004). Como facilitar a leitura. São Paulo: Contexto.

GIASSON, J. (2000). A compreensão na leitura. Lisboa: ASA.

GOMBERT, J. E. (1992). Metalinguistic development. Chicago: The University of Chicago Press.

GOODMAN, K. S. (1976). Reading, a psycholinguist guessing game. In: SINGER, H.; RUDDELL, R. Theoretical models and processes of reading. Newark: International Reading Association, p. 497 – 508.

GOODMAN, K. S. (1991). Unidade na leitura: um modelo psicolinguístico transacional. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 26, n. 4, p. 9 – 43.

KATO, M. A. (2007). O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes.

KINTSCH, W. (1998). Comprehension: a paradigm for cognition. Cambridge: Cambridge University Press.

KLEIMAN, A. (2013). Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes.

KOCH, I. V. e ELIAS, V. M. (2011). Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.

LEFFA, V. J. (1996). Aspectos da leitura: uma perspectiva psicolinguística. Porto Alegre: Sagra-Luzzato.

LORANDI, A.. MENEZES, J. T.; SILVA, I. L; SILVA, L. B.; MARQUES, D. M. (2012). Consciência linguística: diferentes olhares. Letrônica. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 5, n. 3, p. 21 – 44.

MALUF, M. R. E GOMBERT, J. E. (2008). Habilidades implícitas e controle cognitivo na aprendizagem da linguagem escrita. In: MALUF, M. R. e GUIMARÃES, S. R. K. (Eds.). Desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Curitiba: Editora da UFPR, p. 123 – 135.

MARCUSCHI, L. A. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial.

PEDROSA, R. C. (1984). Desenvolvimento da leitura em alunos da 2ª, 3ª e 4ª séries de Escola Rural. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUCSP.

PEREIRA, V. W. (2002). Arrisque-se... Faça o seu jogo. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 37, n. 128, p. 47-64.

PEREIRA, V. W. (2003). Preditibilidade nas séries iniciais: materiais e procedimentos de leitura. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 39, n. 3, p. 151-164.

PEREIRA, V. W. (2009). Predição leitora: procedimentos e desempenhos em ambiente virtual e em ambiente não virtual. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 44, n. 3, p. 22 – 27.

PEREIRA, V. W. (2011). Predição, compreensão e situação de compreensão. Desenredo. Passo Fundo: Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UPF, v. 7, n. 1, p. 91-103.

PEREIRA, V. W. (2012). A predição na teia de estratégias de compreensão leitora. Confluência. Rio de Janeiro: Instituto de Língua Portuguesa. v. 1, p. 81-91.

PEREIRA, V. W. (2013). Compreensão da leitura e consciência textual nos anos iniciais. In: Revista Signo. Santa Cruz do Sul: UNISC, v. 38. Especial, p. 29-43.

PEREIRA, V. W. e SANTOS, T. V. dos. (2017). Consciência linguística no uso de estratégias de leitura na escola em tecnologia virtual e tecnologia não virtual. Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 66-82.

PINHEIRO, L. R. e GUIMARÃES, S. R. K. (2013). O processo de ensino-aprendizagem da leitura e o uso de estratégias metacognitivas na compreensão de textos. In: MOTA, M. P. da e SPINILLO, A. G. (Orgs.). Compreensão de textos. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 151-170.

POERSCH, J. M. (1991). Por um nível metaplícito na construção do sentido textual. Letras de Hoje. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 26, n. 4, p. 127-143.

POERSCH, J. M. (1998). Uma questão terminológica: consciência, metalinguagem, metacognição. Letras de Hoje. v. 33, n. 4, p.7 – 12.

PRADO, L. L. do e PEREIRA, V. W. (2014). Leitura de textos literários e não literários no ensino de Língua Portuguesa, com mediação do computador, nos anos finais do Ensino Fundamental. Língu@ Nostr@, Canoas, v. 2, n. 1, p. 4-16.

ROYSTON, P. (1992). Approximatong the Shapiro-Wilk W-test for non-normality. Statistics and Computing. v. 2, n. 3, p. 117–119.

SCLIAR-CABRAL, L. (2008). Processamento bottom-up na leitura. Revista de Estudos Linguísticos Veredas: Psicolinguística. Juiz de Fora: UFJF, v. 12, n. 2, p. 24-33.

SIEGEL, S. (1988). Non-parametric statistics for the behavioral sciences. Nova Iorque: McGraw-Hill.

SMITH, F. (2003). Compreendendo a leitura: uma análise psicolinguística da leitura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artes Médicas.

SOLÉ, I. (1998). Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed.

SOUSA, L. B. de e HÜBNER, L. C. (2015). Desafios na avaliação da compreensão leitora: demanda cognitiva e leiturabilidade textual. Revista NeuropsicologiaLatinoamericana. v. 7, n. 1, p. 34 – 46.

SPINILLO, A. G. e SIMÕES, P. U. (2003). O desenvolvimento da consciência metatextual em crianças: questões conceituais, metodológicas e resultados de pesquisas. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 16, n. 3, p. 537 – 548.

SPINILLO, A. G. (2009). A consciência metatextual. In: MOTA, M. da (Org.). Desenvolvimento metalinguístico: questões contemporâneas. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 77 – 113.

SPINILLO, A. G. (2013). A dimensão social, linguística e cognitiva da compreensão de textos: considerações teóricas e aplicadas. In: MOTA, M. P. da e SPINILLO, A. G. (Orgs.). Compreensão de textos. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 171-198.

SPINILLO, A. G. e ALMEIDA, D. D. (2014). Compreendendo textos narrativo e argumentativo: há diferenças? Arquivos Brasileiros de Psicologia. Rio de Janeiro. v. 66, n. 33, p. 115-132.

SPINILLO, A. G. e MAHON, E. da R. (2015). “O que você acha que vai acontecer agora? Um estudo sobre inferências de predição na compreensão de textos. In: NASCHOLD, A.; PEREIRA, A.; GUARESI, R. e PEREIRA, V. W. (Orgs.). Aprendizado da leitura e da escrita: a ciência em interfaces. Natal: EDUFRN, p. 163 – 188.

SPINILLO, A. G.; MOTA, M. M. P. e CORREA, J. (2010). Consciência metalinguística e compreensão de leitura: diferentes facetas de uma relação complexa. Educar em revista. V. 38, p. 157 - 171.

STANKE, R. C. S. F. (2007). O papel do conhecimento de mundo na aula de língua estrangeira. Caderno de Letras. Rio de Janeiro: UFRJ, n. 23, p. 131 – 151.

TOMITCH, L. M. B. (2007). Desvelando o processo de compreensão leitora: protocolos verbais na pesquisa em leitura. Revista Signo. Santa Cruz do Sul: UNISC, v. 32. n. 53, p. 42 – 53.

TUNMER, W. PRATT, C. e HERRIMAN, M. (1984). Metalinguistic awareness in children: theory, research and implications. Nova York: Springer-Verlag.

VIEIRA, N. M. C. (2014). As dificuldades de aprendizagem na leitura de textos literários no Ensino Médio. 66ª Reunião Anual da SBPC, 2014.

Downloads

Publicado

2019-10-07