Entre a retórica do cuidado e a burocracia esportiva: infâncias trans em jogo
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-8042.2022.e86465Palavras-chave:
Infâncias trans, Corpo, Esporte, GêneroResumo
Neste ensaio, discutimos a participação de pessoas trans no esporte de alto rendimento. Nos serviremos de um caso divulgado na mídia, consistindo em material de domínio público, como fio condutor da discussão. O discurso psicobiomédico, assentado no pressuposto de unidade do sujeito e organizado numa matriz cis-heteronormativa binária, contribui para produzir e operar a noção de coerência na classificação dos corpos. No esporte, um de seus efeitos se apresenta na objeção à participação de atletas trans nas arenas esportivas, recorrendo a critérios biofisiológicos que consideram os hormônios andrógenos determinantes para o aumento do desempenho. Argumento que pode ser questionado ao olharmos para casos de crianças trans impossibilitadas ou dificultadas de participar do esporte. Aqui, os hormônios cedem lugar ao aparelho jurídico-institucional para fazer funcionar a burocracia esportiva e seu controle sobre os corpos. Ao expor os limites deste argumento, encontramos as razões biopolíticas que atravessam a gestão dos corpos.
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