Entre a retórica do cuidado e a burocracia esportiva: infâncias trans em jogo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2022.e86465

Palavras-chave:

Infâncias trans, Corpo, Esporte, Gênero

Resumo

Neste ensaio, discutimos a participação de pessoas trans no esporte de alto rendimento. Nos serviremos de um caso divulgado na mídia, consistindo em material de domínio público, como fio condutor da discussão. O discurso psicobiomédico, assentado no pressuposto de unidade do sujeito e organizado numa matriz cis-heteronormativa binária, contribui para produzir e operar a noção de coerência na classificação dos corpos. No esporte, um de seus efeitos se apresenta na objeção à participação de atletas trans nas arenas esportivas, recorrendo a critérios biofisiológicos que consideram os hormônios andrógenos determinantes para o aumento do desempenho. Argumento que pode ser questionado ao olharmos para casos de crianças trans impossibilitadas ou dificultadas de participar do esporte. Aqui, os hormônios cedem lugar ao aparelho jurídico-institucional para fazer funcionar a burocracia esportiva e seu controle sobre os corpos. Ao expor os limites deste argumento, encontramos as razões biopolíticas que atravessam a gestão dos corpos.

Biografia do Autor

Talita Machado Vieira, Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL/Professora Colaboradora

Graduação em Psicologia pela UEL; Mestra em Psicologia pela UNESP de Assis; Doutora em Psicologia pela UNESP de Assis com período sanduíche na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

José Sterza Justo, UNESP de Assis/Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Graduação em Psicologia pela UNESP

Mestrado em Psicologia Educacional pela PUC-SP

Doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP

Livre-Docente em Psicologia do Desenvolvimento pela UNESP de Assis

Pós-Doutorado em Psicologia pela Universitat Autònoma de Barcelona

Docente da Pós-Graduação em Psicoloigia da UNESP de Assis

 

Leonardo Lemos de Souza, UNESP de Assis/Professor Associado

Graduação em Psicologia pela UNESP de Assis

Mestrado em Psicologia pela UNESP de Assis

Doutorado em Educação pela UniCamp 

Livre-Docente em Psicologia do Desenvolvimento pela Unesp de Assis

Pós-Doutorado em Psicologia pela Universitat de Barcelona

Professor Associado da Unesp de Assis, atuando na Graduação e Pós-Graduação em Psicologia (UNESP/Assis) e na Pós-Graduação em Educação (UNESP/Marília).

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Publicado

2022-09-01

Como Citar

Machado Vieira, T., Sterza Justo, J., & Lemos de Souza, L. . (2022). Entre a retórica do cuidado e a burocracia esportiva: infâncias trans em jogo. Motrivivência, 34(65). https://doi.org/10.5007/2175-8042.2022.e86465

Edição

Seção

Porta Aberta