A Inteligência Artificial frente ao fascismo: uma discussão a partir do ChatGPT
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2025.e101322Palavras-chave:
Inteligência Artificial, Ciberfascismo, Tecnologias digitaisResumo
Este artigo busca problematizar a suposta neutralidade da ferramenta de Inteligência Artificial (IA) generativa ChatGPT por meio de uma discussão na literatura crítica acerca da governamentalidade algorítmica e do ciberfascismo, bem como um experimento de conversa com o chatbot sobre temas sensíveis. Na primeira parte, são apresentadas definições do conceito de fascismo e discute-se a relação entre cibernética e fascismo, enfatizando a sua vertente contemporânea impulsionada pela mediação algorítmica. Depois, contextualiza-se o surgimento do ChatGPT, cotejando algumas experiências anteriores de IAs evidenciadas como ferramentas de diálogo que se viram obrigadas a lidar com a radicalização política e a alimentação da inteligência artificial com conteúdos sintonizados a um ethos fascista por parte de alguns usuários. Refletimos, também, sobre a presença de IAs generativas na educação, postulando sobre a proximidade do conceito freireano de Educação Bancária com o contemporâneo cibertecnicismo. Na parte empírica, destacamos dados de uma experimentação em formato de entrevista realizada com ChatGPT, na qual são formuladas perguntas que tentam induzir a inteligência artificial a responder se posicionando em determinados debates controversos. Na análise desse experimento, apontamos afinidades dessas respostas com a ideologia política fascista. Ao final, discutimos esses dados à luz do conceito de mediação e de cultura técnica em Gilbert Simondon.
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