Trans-formando a universidade: um estudo sobre o acesso e a permanência de pessoas trans no ensino superior
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e65334Resumo
O presente artigo trata do acesso e da permanência da população trans junto ao ensino superior. Paralelamente a uma revisão bibliográfica concernente ao tema, é apresentada uma pesquisa de campo composta por seis entrevistas abertas com mulheres trans e travestis e uma entrevista com um homem trans. Os sujeitos abordados pertencem a diferentes raças/etnias, classes sociais e frequentam diferentes universidades. Os resultados apontam que o acesso à universidade foi facilitado por conquistas específicas do movimento trans – como a implementação legal e o direito de utilização do nome social para travestis e transexuais em instituições de ensino que aderiram à legislação e nas avaliações nacionais como o ENEM – e por conquistas mais amplas, destacadas as políticas governamentais voltadas ao acesso de minorias étnicas e raciais de baixa renda, via oferta de vagas em universidades públicas federais e estaduais pelo sistema SISU, e oferta de bolsas de estudos em universidades privadas e confessionais, pelo PROUNI. Também foi fundamental o recurso de projetos sociais, como o “cursinho preparatório”, voltados a travestis e transexuais. Por outro lado, ainda são isolados os casos de políticas públicas de permanência relacionadas à população trans, inexistindo oferta e manutenção de políticas públicas específicas. Foram relatadas dificuldades relativas ao pagamento de matrícula e mensalidades da universidade; à utilização de banheiro segundo o gênero de identificação; ao acesso à moradia estudantil e a bolsas de auxílio-alimentação; e a falta de trato adequado por parte de docentes e funcionárias/os não capacitadas/os a lidarem com pessoas trans. Desta forma, conclui-se que a participação na militância trans no contexto universitário constitui elemento importante para a transformação deste ambiente, contribuindo para a mudança de paradigmas; a aceitação das subjetividades; o reconhecimento de direitos; e o respeito à diversidade humana.Referências
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