A evasão no contexto da expansão da pós-graduação stricto sensu: uma discussão necessária
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e62019Resumo
A pós-graduação stricto sensu brasileira teve seu marco conceitual e regulatório a partir dos anos de 1960, quando passa a ser organizada no formato de sistema, que veio a ser gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Esse contexto permitiu que ocorresse significativa expansão e institucionalização da pós-graduação no Brasil nesse período de pouco mais de 50 anos. No entanto, esse crescimento é acompanhado de outras questões, como, por exemplo, a evasão, que para esse nível vem sendo pouco discutida. Com isso, o presente artigo possui como objetivo contribuir para as discussões acerca da evasão e da permanência na pós-graduação, a partir da análise das políticas que induzem o seu controle pelo órgão gestor. Para tanto, utiliza documentos oficiais de planejamento e avaliação, bem como números relativos ao ingresso, titulação e evasão presentes nas estatísticas oficiais. Como resultados, obteve-se que as políticas adotadas pela CAPES, por meio da avaliação, mostram a concepção de pós-graduação do órgão gestor voltada para a manutenção de um sistema de elite, na medida em que busca a permanência baseada na meritocracia. Infere-se, também, que esse fato pode comprometer as políticas que vêm sendo implementadas para a ampliação desse nível, inclusive por meio da indução de ações afirmativas, que ainda não tem registro de avaliação de efeitos em razão de sua adoção recente.
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