O conceito de atividade epilinguística em proposições pedagógico-curriculares de base sociointeracionista e construtivista para a alfabetização
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2025.e98671Palavras-chave:
Alfabetização, Análise linguística, CurrículoResumo
Na década de 1980, no Brasil, diferentes concepções de linguagem e proposições de ensino-aprendizagem de língua portuguesa se encontram em concorrência em contexto acadêmico. Essas concepções e proposições são então apropriadas pelos discursos pedagógico-curriculares para a produção de propostas de ensino de português na escola básica. Objetiva-se, neste trabalho, com base no quadro conceitual da Análise do Discurso de linha francesa, caracterizar os efeitos que a concorrência entre diferentes proposições teórico-metodológicas produz na constituição da alfabetização em objeto dos discursos pedagógico-curriculares e acadêmico-científicos, observadas suas relações interconstitutivas. Foi analisada a Proposta curricular para o ensino de língua portuguesa – 1º grau, documento representativo dos processos interdiscursivos observados por ser uma das primeiras publicações de um conjunto de propostas pedagógico-curriculares em bases sociointeracionistas produzidas em diferentes estados da federação no momento histórico em estudo. Dada a centralidade que a análise linguística ocupa na reordenação proposta para o ensino de língua portuguesa na escola desde a década de 1980, no país, focaliza-se, nesta investigação, o conceito de atividade epilinguística quanto aos modos de sua apropriação e os efeitos que produz na proposta pedagógico-curricular analisada, em que se aproximam perspectiva de caráter sociointeracionista, estudos sobre a psicogênese da língua escrita e concepção enunciativa de base culioliana. Os resultados mostram que o conceito de atividade epilinguística, apropriado em bases sociointeracionistas, segundo as regras semânticas do discurso pedagógico-curricular observado, constitui dispositivo que possibilita conciliar concepções de sujeito, de ensino e de aprendizagem epistemologicamente divergentes por princípio.
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