Forças neoliberais e a constituição do sujeito professor de matemática que busca fazer sempre algo diferente
DOI:
https://doi.org/10.5007/1981-1322.2024.e97108Palavras-chave:
Fazer Diferente, Neoliberalismo, Constituição Do SujeitoResumo
Este artigo problematiza os discursos de docentes de Matemática acerca da constante necessidade de fazer algo diferente no exercício da docência. Nele procuramos às indagações: “Quais discursos contemporâneos sustentam o movimento docente que busca sempre fazer algo diferente no exercício da docência? Que relações guardam com o neoliberalismo?” Para isso foram realizadas entrevistas com professores de Matemática em escolas de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, Brasil. A análise dos resultados acorreu numa perspectiva foucaultiana de análise de discurso. Observamos que as enunciações apresentam reverberações de uma lógica neoliberal e que o conceito de “fazer diferente” muitas vezes é associado com inovação e que procuram romper com abordagens de ensino já consolidadas. Compreendemos esse rompimento com as práticas educacionais como um dos resultados da subjetivação das docentes por uma lógica neoliberal e uma lógica de fluidez que tem a instantaneidade e o curto prazo como características necessárias para atender as demandas atuais do mercado. Foi possível notar que a ideia do movimento de “fazer diferente” manifestada nas falas das docentes é impulsionada pela busca de motivação dos estudantes e, como consequência desse processo, tem-se a motivação do docente. Observamos ainda nas enunciações que as docentes vivem um regime de autocoerção e autoculpabilização, pois se culpam quando não podem fazer diferentes e vivem um regime de autoexploração, pois demonstraram se submeter voluntariamente a um regime de trabalho no qual exigem de si um grande esforço na busca de maximização de seu desempenho.
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