Interpretação jurídica para língua de sinais: repensando as dimensões históricas, sociológica, políticas e de formação profissional
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2020v40n2p252Resumo
Neste artigo, proponho discutir a interpretação jurídica entre línguas de sinais e línguas faladas sob os aspectos históricos, sociológicos, políticos e de formação profissional. Dentro dessa perspectiva, este trabalho se caracteriza como uma pesquisa exploratória, pela qual se estabelece o estado da arte dessa especialidade. A partir de textos legais e projetos de formação, que são discutidos e interpretados com base nos argumentos de autores como Santos (2016); Santos e Francisco (2018); Russell (b); Roberson, Russell e Shaw (2011), é possível elencar as necessidades e dificuldades que devem ser contornadas por políticas de tradução e políticas linguísticas adequadas. Chega-se, então, à conclusão de que é imprescindível: (i) reparar as incoerências que se encontram nos dispositivos legais; (ii) construir políticas de tradução juntamente com os profissionais, agentes surdos e entidades que os representam; (iii) favorecer a profissionalização, a fim de responder às necessidades e dificuldades encontradas na prática dos intérpretes. Este trabalho reforça, assim, outros discursos e esforços que têm sido realizados nesse âmbito, acrescentando informações à construção de um design curricular que contemple as especificidades dessa especialização, de forma que o profissional adquira confiança e competências para desempenhar um trabalho capaz de promover a justiça social e o direito linguístico.
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