Etarismo e suas implicações sob a ótica dos servidores públicos mais velhos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8077.2025.e99109

Palavras-chave:

Etarismo, Envelhecimento, Gestão Universitária, Administração Pública

Resumo

Objetivo: Este artigo busca compreender as percepções sobre o etarismo dos servidores públicos mais velhos de uma Instituição de Ensino Superior. Sob a perspectiva do construcionismo social, a pesquisa busca explorar a maneira pela qual o etarismo se revela na prática dos trabalhadores mais velhos no contexto da administração pública brasileira. Método: A pesquisa qualitativa contou com entrevistas semiestruturadas de 16 servidores públicos com 45 anos ou mais. Para a análise dos dados foi adotada a análise de narrativas e biografias do tipo temática. Resultados: A análise das narrativas revelou que o etarismo comumente é um fenômeno silenciado, negado e incompreendido. Contudo, algumas narrativas indicaram o etarismo hostil e benevolente. Nesses casos, o etarismo articulou-se com o fantasma da inutilidade e obsolescência, invisibilidade e mobilidade para baixo na carreira e demissão ou aposentadoria simbólica. Além disso, o etarismo interage com o sexismo, o racismo e o preconceito contra as classes de trabalhadores. Essa interação é desvantajosa principalmente para as mulheres mais velhas. A fim de evitar o etarismo no ambiente organizacional, os servidores públicos mais velhos comumente buscam se manter proativos, produtivos, experientes, qualificados e atualizados. Contribuições: Os resultados apontam a necessidade de adaptação das organizações à força de trabalho envelhecida, assim como evidenciam a necessidade de políticas de gestão de pessoas voltadas aos servidores públicos mais velhos com o objetivo de prevenir e combater os efeitos negativos do etarismo nas organizações.

Biografia do Autor

Guilherme Gustavo Holz Peroni, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutor e Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Espírito Santo.

Priscilla de Oliveira Martins-Silva, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora, Mestre e graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora do Departamento de Administração e Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo

Referências

Butler, R. N. (1980). Ageism: a foreword. Journal of Social Issues, 36(2), 8-11. doi: https://doi.org/10.1111/j.1540-4560.1980.tb02018.x

Cary, L. A., Chasteen, A. L., & Remedios, J. (2017). The ambivalent ageism scale: developing and validating a scale to measure benevolent and hostile ageism. The Gerontologist, 57(2), 27-36. doi: https://doi.org/10.1093/geront/gnw118

Cepellos, V. M., & Tonelli, M. J. (2017). Envelhecimento profissional: percepções e práticas de gestão da idade. Revista Alcance, 24(1), 4-21. doi: https://doi.org/10.14210/alcance.v24n1.p004-021

Cepellos, V. M., Silva, G. T., & Tonelli, M. J. (2019). Envelhecimento: múltiplas idades na construção da idade profissional. Organizações & Sociedade, 26(89), 269-290. doi: https://doi.org/10.1590/1984-9260894

Chand, M., & Tung, R. L. (2014). The aging of the world's population and its effects on global business. Academy of Management Perspectives, 28(4), 409-429. doi: https://doi.org/10.5465/amp.2012.0070

Costa, B. R. L. (2018). Bola de neve virtual: o uso das redes sociais virtuais no processo de coleta de dados de uma pesquisa científica. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, 7(1), 15-37. doi: https://doi.org/10.9771/23172428rigs.v7i1.24649

Dinnerstein, M., & Weitz, R. (1994). Jane Fonda, Barbara Bush and other aging bodies: femininity and the limits of resistance. Feminist Issues, 14(3), 3-24. doi: https://doi.org/10.1007/BF02685654

Fineman, S. (2014). Age matters. Organization Studies, 35(11), 1719-1723. doi: https://doi.org/10.1177/0170840614553771

Fraboni, M., Saltstone, R., & Hughes, S. (1990). The Fraboni Scale of Ageism (FSA): an attempt at a more precise measure of ageism. Canadian Journal on Aging/La revue canadienne du vieillissement, 9(1), 56-66. doi: https://doi.org/10.1017/S0714980800016093

França, L. H. F. P., Menezes, G. S., Bendassoli, P. F., & Macedo, L. S. S. (2013). Aposentar-se ou continuar trabalhando? O que influencia essa decisão? Psicologia: ciência e profissão, 33(3), 548-563. doi: https://doi.org/10.1590/S1414-98932013000300004

França, L. H. F. P., Siqueira-Brito, A. R., Valentini, F., Vasques-Menezes, I., & Torres, C. V. (2017). Ageísmo no contexto organizacional: a percepção de trabalhadores brasileiros. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 20(6), 762-772. doi: https://doi.org/10.1590/1981-22562017020.170052

Gaskel, G. (2002). Entrevistas individuais e grupais. In M. W. Bauer, & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som (pp. 64-89). Rio de Janeiro/RJ: Vozes.

Gibbs, G. (2009). Análise de dados qualitativos. Porto Alegre/RS: Artmed.

Goldani, A. M. (2010). Desafios do "preconceito etário" no Brasil. Educação & Sociedade, 31(111), 411-434. Recuperado de https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87315814007.

Hanashiro, D. M. M., & Pereira, M. F. M. W. M. (2020). O etarismo no local de trabalho: evidências de práticas de “saneamento” de trabalhadores mais velhos. Revista Gestão Organizacional, 13(2), 188-206. doi: https://doi.org/10.22277/rgo.v13i2

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2021). Tábuas completas de mortalidade para o Brasil – 2020: nota técnica n. 01/2021. Recuperado de https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101889.pdf

Lei Complementar n. 152, de 03 de dezembro de 2015. (2015). Dispõe sobre a aposentadoria compulsória por idade, com proventos proporcionais, nos termos do inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal. Brasília, DF. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp152.htm.

Loth, G. B., & Silveira, N. (2014). Etarismo nas organizações: um estudo dos estereótipos em trabalhadores envelhecentes. Revista de Ciências da Administração, 16(39), 65-82. doi: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n39p65

Nilsson, K. (2011). Attitudes of managers and older employees to each other and the effects on the decision to extend working life. In R. Ennals, & R. H. Salomon (Orgs.), Older workers in a sustainable society (pp. 147-156.). Frankfurt: Peter Lang.

Nunes, A. V. L., & Lins, S. L. B. (2009). Servidores públicos federais: uma análise do prazer e sofrimento no trabalho. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 9(1), 51-67. Recuperado de https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/87190/2/159708.pdf

Palmore, E. (1999). Ageism: negative and positive (2a. ed.). New York: Springer Publishing Company.

Palmore, E. (2001). The ageism survey: first findings. The gerontologist, 41(5), 572-575. doi: https://doi.org/10.1093/geront/41.5.572

Riessman, C. K. (2005). Narrative analysis. In N. Kelly, C. Horrocks, K. Milnes, B. Roberts, & D. Robinson (Orgs), Narrative, memory & everyday life (pp. 1-7). University of Huddersfield: Huddersfield.

Rudolph, C. W., & Zacher, H. (2022). Research on age(ing) at work has “come of age”. In H. Zacher, & C. W. Rudolph (Orgs). Age and work: advances in theory, methods, and practice (pp. 3-24). New York: Routledge.

Schneider, R. H., & Irigaray, T. Q. (2008). O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estudos de Psicologia, 25(4), 585-593. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400013

Sennett, R. (2006). A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro/RJ: Record.

Silva, T. F. D. C., Almeida, D. B. A., Oliva, E. D. C., & Kubo, E. K. D. M. (2021). Além das equipes intergeracionais: possibilidades de estudos sobre ageísmo. Revista Eletrônica de Administração, 27(2), 642-662. doi: https://doi.org/10.1590/1413-2311.327.101822

Smyer, M., & Pitt-Catsouphes, M. (2007). The meanings of work for older workers. Generations, 31(1), 23-30. Recuperado de https://dlib.bc.edu/islandora/object/bc-ir:100731

Spedale, S. (2019). Deconstructing the ‘older worker’: exploring the complexities of subject positioning at the intersection of multiple discourses. Organization, 26(1), 38-54. doi: https://doi.org/10.1177/1350508418768072

Spedale, S., Coupland, C., & Tempest, S. (2014). Gendered ageism and organizational routines at work: the case of day-parting in television broadcasting. Organization Studies, 35(11), 1585-1604. doi: https://doi.org/10.1177/0170840614550733

Spink, M. J., & Frezza, R. M. (2004). Práticas discursivas e produção de sentidos: a perspectiva da Psicologia Social. In M. J. Spink (Org.), Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas (pp. 17-39). São Paulo: Cortez.

Stuart-Hamilton, I. (2002). A psicologia do envelhecimento: uma introdução (3a. ed.). Porto Alegre/RS: Artmed.

Tajfel, H., & Turner, J. (2004). An integrative theory of intergroup conflict. In M. J. Hatch, & M. Schultz (Eds). Organizational identity: a reader (pp. 56-65). New York: Oxford University Press.

Taylor, P., Loretto, W., Marshall, V., Earl, C., & Phillipson, C. (2016). The older worker: identifying a critical research agenda. Social Policy and Society, 15(4), 675-689. doi: https://doi.org/10.1017/S1474746416000221

Tessarini Junior, G., & Saltorato, P. (2021). Organização do trabalho dos servidores técnico-administrativos em uma instituição federal de ensino: uma abordagem sobre carreira, tarefas e relações interpessoais. Cadernos EBAPE. BR, 19, 811-823. doi: https://doi.org/10.1590/1679-395120200236

Teixeira, S. M. O., Souza, L. E. C., & Maia, L. M. (2018). Ageísmo institucionalizado: uma revisão teórica. Revista Kairós-Gerontologia, 21(3), 129-149. doi: https://doi.org/10.23925/2176-901X.2018v21i3p129-149

Thomas, R., Hardy, C., Cutcher, L., & Ainsworth, S. (2014). What’s age got to do with it? On the critical analysis of age and organizations. Organization Studies, 35(11), 1569-1584. doi: https://doi.org/10.1177/0170840614554363

Torres, T. D. L., Camargo, B. V., Boulsfield, A. B., & Silva, A. O. (2015). Representações sociais e crenças normativas sobre envelhecimento. Ciência & Saúde Coletiva, 20(12), 3621-3630. doi: https://doi.org/10.1590/1413-812320152012.01042015

Vasconcelos, A. F. (2012). Ageism: a study of demographic diversity in Brazil. Management Research: Journal of the Iberoamerican Academy of Management, 10(3), 187-207. doi: https://doi.org/10.1108/1536-541211273865

Vasconcelos, A. F. (2015). Older workers: some critical societal and organizational challenges. Journal of Management Development, 34(3), 352-372. doi: https://doi.org/10.1108/JMD-02-2013-0034

Vieira, R. A., & Cepellos, V. M. (2022). Mulheres executivas e seus corpos: as marcas do envelhecer. Organizações & Sociedade, 29(100), 154-180. doi: https://doi.org/10.1590/1984-92302022v29n0006EN

Zacher, H., Kooij, D. T. A. M., & Beier, M. E. (2018). Active aging at work: contributing factors and implications for organizations. Organizational Dynamics, 47(1), 37-45. doi: https://doi.org/10.1016/j.orgdyn.2017.08.001

Zanoni, P. (2011). Diversity in the lean automobile factory: doing class through gender, disability and age. Organization, 18(1), 105-127. doi: https://doi.org/10.1177/1350508410378216

Zanuncio, S. V., Mafra, S. C. T., França, L. H. de F. P., & Ferreira, P. M. da C. M. (2019). Por que continuar trabalhando na velhice? O caso de Hefesto e seus 95 anos. Oikos: Família e Sociedade em Debate, 30(1), 87-103. doi: https://doi.org/10.31423/oikos.v30i1.3813

Publicado

23-04-2025

Como Citar

Peroni, G. G. H., & Martins-Silva, P. de O. (2025). Etarismo e suas implicações sob a ótica dos servidores públicos mais velhos. Revista De Ciências Da Administração, 27(67), 1–25. https://doi.org/10.5007/2175-8077.2025.e99109

Artigos Semelhantes

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.