Serguei no México: Greenaway e a representação pós-moderna do artista Queer

Autores

  • Andrei dos Santos Cunha Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Elaine Barros Indrusiak Universidade Federal do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-8026.2017v70n1p221

Resumo

Em seu filme Que viva Eisenstein! (2016), o diretor britânico Peter Greenaway homenageia a figura de um importante pioneiro da linguagem cinematográfica, Serguei Eisenstein, centrando a narrativa na passagem do cineasta soviético pelo México. O filme traz uma reflexão sobre as opções estéticas do próprio Greenaway, que, ao longo de sua carreira, em seu uso de intermídia, busca expandir o repertório da “montagem ideogramática” proposta por Eisenstein. O uso de formas híbridas de expressão artística permite o questionamento da própria ideia de autor ou criador individual. O biopic se consolidou ao longo do tempo como um gênero que permitia a domesticação da figura do artista ou autor e a representação do processo criativo como um ato de purgação do corpo criador. Greenaway subverte as expectativas relacionadas ao gênero biopic, ao representar o artista de maneira não realista, e ao associar a identidade queer e o corpo de Eisenstein ao seu processo de pesquisa sensorial e de elaboração estética.

 

Biografia do Autor

Andrei dos Santos Cunha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professor de Cultura e Literatura Japonesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.  Possui Mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Hitotsubashi (Tóquio, Japão, 2001) e graduação em Direito Japonês pela mesma universidade (1999). Tem experiência na área de tradução e de letras, com ênfase em línguas estrangeiras modernas, atuando principalmente nos seguintes temas: língua, literatura e cultura japonesa; literatura comparada; teoria da tradução.

Elaine Barros Indrusiak, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Departamento de Línguas Modernas e  do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui graduação em Letras - Língua Inglesa (1998), mestrado (2001) e doutorado (2009) em Letras - Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.  Tem experiência de ensino e gestão na área de Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos de adaptação, relações interdisciplinares entre literatura e cinema, literaturas e culturas de língua inglesa, estudos de tradução e literatura comparada.

Referências

ABELE, R. ‘Eisenstein in Guanajuato’ review: Peter Greenaway’s homoerotic take on Russian filmmaker’s Mexican Odyssey. The Wrap. 4 Feb. 2016. Disponível em: <http://www.thewrap.com/eisenstein-in-guanajuato-review-peter-greenaway-sergei-eisenstein-luis-alberti/>. Acesso em: 11 jul. 2016.

ALEXANDRE. (Título original: Alexander). Direção de Oliver Stone. 2004. 1 filme (175min), son., color.

ALEXANDRE Nevsky. (Título original: Aleksándr Névskiy). Direção de Serguei Eisenstein e Dmitri Vasilyev. 1938. 1 filme (111min), son., P&B.

AMADEUS. Direção de Miloš Forman. 1984. 1 filme (180min), son., color.

AMANTES de Montparnasse, Os. (Título original: Les amants de Montparnasse). Direção de Jacques Becker. 1958. 1 filme (108min), son., P&B.

ANDREI Rublev. (Título original: Andrey Rublyov). Direção de Andrei Tarkovsky. 1966. 1 filme (205min), son., color.

APÓS 3 anos, Justiça libera biografia que retrata Lampião gay. Folha de São Paulo, 4 out. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/10/1526620-apos-3-anos-justica-libera-biografia-que-retrata-lampiao-gay.shtml>. Acesso em: 9 jul. 2016.

ASTRUC, A. The birth of a new avant-garde: la caméra-stylo. In: GRAHAM, P.; VINCENDEAU, G. (Eds.). The French new wave: critical landmarks. Tradução de Ginette Vincendeau. London: BFI, 2009. p.31-37.

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo. Rio de Janeiro: Barsa, 1966. Notas e glossário de José Alberto de Castro Pinto.

BINGHAM, D. Whose lives are they anyway?: the biopic as contemporary film genre. New Brunswick / Londres: Rutgers University Press, 2010.

BOGDANOVICH, P. Afinal, quem faz os filmes. Tradução de Henrique Leão. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

BORDWELL, D. Eisenstein’s epistemological shift. Screen, v.15, n.4, 1974/1975, p.29-46.

BRETÈQUE, F. Introduction. In: COCTEAU, J. Une Encre de Lumière. Montpellier: Université Paul Valéry, 1989. p.5-10.

CANÇÃO Inesquecível. (Título original: Night and Day). Direção de Michael Curtiz. 1946. 1 filme (128min), son., color.

COCTEAU, J. Une Encre de Lumière. Montpellier: Université Paul Valéry, 1989.

CODELL, J. Gender, genius, and abjection in artist biopics. In: BROWN, T.; VIDAL, B. (Eds). The Biopic in Contemporary Film Culture. Nova Iorque: Routledge, 2014, p.160-173.

CORLISS, R. The Pleasures and Perils of Biopics True-Life dramas: must be Oscar time. Time, v.185, i.2, 26 Jan. 2015, p.60-61. Disponível em: <http://web.a.ebscohost.com.access.library.miami.edu/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=424f7dc5-2a56-4b1e-863e-f937e2c7224d%40sessionmgr4004&vid=1&hid=4214>. Acesso em: 17 jun. 2016.

CORNYETZ, N. The Ethics of Aesthetics in Japanese Cinema and Literature: Polygraphic desire. Londres/Nova Iorque: Routledge, 2007.

COZINHEIRO, o Ladrão, sua Mulher e o Amante, O. (Título original: The Cook, the Thief, his Wife and her Lover). Direção de Peter Greenaway. 1989. 1 filme (120min), son., color.

CUSTEN, G. Bio/Pics: How Hollywood Constructed Public History. New Brunswick: Rutgers University Press, 1992.

DE-LOVELY. Direção de Irwin Winkler. 2004. 1 filme (125min), son., color.

DRAUGHTSMAN’S Contract, The (filme não lançado comercialmente no Brasil). Direção de Peter Greenaway. 1982. 1 filme (103min), son., color.

ECLIPSE de uma Paixão. (Título original: Total Eclipse). Direção de Agnieszka Holland. 1996. 1 filme (111min), son., color.

EISENSTEIN explored: Greenaway’s biopic a look into a personal life. Russian Life, notebook. Mar./Apr., 2015, p.10.

EISENSTEIN, S. O princípio cinematográfico e o ideograma. In: CAMPOS, H. (Org.). Ideograma: lógica, poesia, linguagem. Traduções de Heloysa Dantas. São Paulo: Cultrix, 1977. p.163-185.

ENCOURAÇADO Potemkin. (Título original: Bronenosets Patyomkin). Direção de Serguei Eisenstein. 1925. 1 filme (75min), mudo, P&B.

GERBASE, C. As raízes modernistas de Peter Greenaway. Sessões do Imaginário, v.X, p.8-12, 2007.

GOLDEN Age of the Russian Avant Garde by Saskia Boddeke & Peter Greenaway, The. Luperpedia Foundation. Disponível em: <http://www.luperpediafoundation.com/the-golden-age-of-the-russian-avant-garde/>. Acesso em: 9 jul. 2016.

GREEK lawyers halt Alexander case. BBC News, 3 Dec. 2004. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment/4064727.stm>. Acesso em: 9 jul. 2016.

GREENAWAY, P. Eisenstein in Guanajuato: 10 days that shook Eisenstein. Roteiro do filme. Paris: Dis Voir, 2014.

GREENAWAY, P. Prospero’s Books — a film of Shakespeare’s The Tempest. Roteiro do filme. Nova Iorque: Four Walls Eight Windows, 1991.

GREENAWAY, P. The Pillow Book. Roteiro do filme. Paris: Dis Voir, 1998.

GREVE, A. (Título original: Stachka). Direção de Serguei Eisenstein. 1925. 1 filme (82min), mudo, P&B.

HOBERMAN, J. Alexander Nevsky. Criterion Collection Current, 23 Apr. 2001. Disponível em: <https://www.criterion.com/current/posts/8-alexander-nevsky>. Acesso em: 17 jun. 2016.

HUTCHEON, L. A Poetics of Postmodernism. Nova Iorque: Routledge, 1988.

INFÂNCIA de Gorki, A. (Título original: Detstvo Gorkogo). Direção de Mark Donskoy. 1938. 1 filme (98min), son., P&B.

IVAN, o Terrível. (Título original: Ivan Grozniy). Direção de Serguei Eisenstein. 1944 (Parte 1); 1958 (Parte 2). 1 filme (Parte 1: 99min; Parte 2: 88min; total: 187min), son., P&B.

KEESEY, D. The Films of Peter Greenaway. Jefferson: McFarland, 2006.

LAGARDE, A.; MICHARD, L. XXe siècle — les grands auteurs français, anthologie et histoire littéraire. Paris: Bordas, 1988.

LANDSBERG, A. Prosthetic Memory: the transformation of American remembrance in the age of mass culture. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004.

LEITCH, T. Based on a True Story. In: LEITCH, T. (Org.). Film Adaptation and Its Discontents: from Gone with the Wind to The Passion of the Christ. Baltimore: Johns Hopkins University, 2007. p.280-303.

LIVRO de Cabeceira, O (Título original: The Pillow Book). Direção de Peter Greenaway. 1996. 1 filme (120min), son., color.

LOVE is the devil: study for a portrait of Francis Bacon (filme não lançado comercialmente no Brasil). Direção de John Maybury. 1998. 1 filme (91min), son., color.

LOWENTHAL, L. Biographies in Popular Magazines. In: PETERS, J. D.; SIMONSON, P. Mass Communication and American Social Thought: key texts, 1919-1968. Lanham: Rowman and Littlefield, 2004. p.188-205.

MISHIMA: uma vida em quatro capítulos. (Título original: Mishima: a life in four chapters). Direção de Paul Schrader. 1985. 1 filme (121min), son., color.

MOURÃO, M. Cinema e Novas Tecnologias: conversa com Peter Greenaway. In: MACIEL, M. (Org.). O cinema enciclopédico de Peter Greenaway. São Paulo: UNIMARCO, 2004. p.179-190.

O’SULLIVAN, M. ‘Eisenstein in Guanajuato’: Russian filmmaker finds love in the New World. The Washington Post. 3 Mar. 2016. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/goingoutguide/movies/eisenstein-in-guanajuato-russian-filmmaker-finds-love-in-the-new-world/2016/03/03/287d83b4-df33-11e5-846c-10191d1fc4ec_story.html>. Acesso em: 17 jun. 2016.

OUTUBRO: dez dias que abalaram o mundo. (Título original: Oktyabr’: Desyat’ dney kotorye potryasli mir). Direção de Grigori Aleksandrov e Serguei Eisenstein. 1928. 1 filme (104min), son., P&B.

PIDDUCK, J. Contemporary costume film: space, place and the past. Londres: British Film Institute, 2004.

QUE VIVA EISENSTEIN! (Título original: Eisenstein in Guanajuato). Direção de Peter Greenaway. 2016. 1 filme (105min), son., color.

QUE VIVA MÉXICO! (Título original: ¡Que viva México!). Direção de Serguei Eisenstein. 1979 (lançamento póstumo). 1 filme (90min), son., P&B.

REED, J. Ten days that shook the world. Nova Iorque: Boni and Liveright, 1919.

REMBRANDT. Direção de Alexander Korda. 1937. 1 filme (85min), son., P&B.

ROSE, S. Andrei Rublev: the best arthouse film of all time. The Guardian. 20 out 2010. Disponível em: <https://www.theguardian.com/film/2010/oct/20/andrei-rublev-tarkovsky-arthouse>. Acesso em: 28 maio 2016.

RUSSIA passes law banning gay ‘propaganda’. The Guardian, 11 Jun. 2013. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2013/jun/11/russia-law-banning-gay-propaganda>. Acesso em: 12 jul. 2016.

SALAZKINA, M. Addressing the dialectics of sexual difference in Eisenstein’s ‘Que viva México!’. Screen, v.48, n.1, Spring 2007, p.45-67.

SALAZKINA, M. In Excess: Sergei Eisenstein’s Mexico. Chicago: University of Chicago Press, 2009.

SHAKESPEARE, W. The Tempest. In: WILSON, J. (Ed.). The complete works of William Shakespeare. Londres: Chancellor, 1990. p.12-32.

SPIELMANN, Y. Intermedia in Electronic Images. Leonardo, 2001, v.34, n.1, Feb. 2001, p.55-61.

TRUFFAUT, F. André Bazin ou l’initiation à la critique. Truffaut par Truffaut. Paris: Cinémathèque Française, 2014. Disponível em: <http://www.cinematheque.fr/expositions-virtuelles/truffaut-par-truffaut/index.php>. Acesso em: 13 jul. 2015.

ÚLTIMA Tempestade, A. (Título original: Prospero’s Books). Direção de Peter Greenaway. 1991. 1 filme (123min), son., color.

ÚLTIMO Tango em Paris, O. (Título original: Ultimo Tango a Parigi). Direção de Bernardo Bertolucci. 1972. 1 filme (129min), son., color.

VIDAL, B. Feminist historiographies and the woman artist’s biopic. Screen , v.48, n.1, Spring 2007, p. 70-90.

WHITE, H. Historiography and Historiophoty. The American Historical Review, v.93, n.5, 1988, p.1193-1199.

WILLOQUET-MARICONDI, P.; ALEMANY-GALWAY, M. Introduction: a Postmodern/Poststructuralist Cinema. In: WILLOQUET-MARICONDI, P.; ALEMANY-GALWAY, M. (Orgs.). Peter Greenaway’s Postmodern/Poststructuralist Cinema. Plymouth: Scarecrow, 2008. p.xiii–xxxv.

WOLF, W. (Inter)mediality and the Study of Literature. CLCWeb: Comparative Literature and Culture. 2011, v.13, n.3, p.1-10. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.7771/1481-4374.1789>. Acesso em: 23 jun. 2015.

Downloads

Publicado

2017-01-27

Edição

Seção

Artigos