Pós-verdade e a potência dos afetos: um resgate da vida e obra de Rachel Carson para um saber sobre ciências
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1147Resumo
Após ser definida como palavra do ano em 2016 pelo dicionário Oxford, a pós-verdade tem despertado a atenção de pesquisadores interessados em entender qual a origem desse fenômeno e quais as suas implicações políticas e sociais na atualidade e no futuro. Ao afirmar que a pós-verdade é “relativo a, ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crença pessoal”, o dicionário Oxford abre uma lacuna para que busquemos entender como a dicotomia “fatos objetivos” versus “aspectos subjetivos ou emocionais” pode refletir os interesses do contrato modernista das ciências na busca da verdade. Para isso, recorremos ao caso histórico representado pela vida e obra da bióloga norte-americana Rachel Carson (1907-1964) que, ao publicar seu livro Primavera Silenciosa em 1962, foi acusada de irracional, emotiva e considerada pseudocientista. A partir deste caso e estabelecendo paralelos com a discussão atual sobre a utilização dos agrotóxicos no Brasil, buscamos evidenciar como a mobilização dos afetos pode ser utilizada para despertar o interesse do público para uma temática. Por fim, discutimos como essa mobilização dos afetos pode contribuir para um ensino de ciências comprometido em perceber a prática científica também permeada por aspectos da subjetividade intrínseca ao ser humano.
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