Complexificando a interseccionalidade: Perspectivas queer sobre o mundo do trabalho

Autores

  • Benito Bisso Schmidt Professor Titular do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e do Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA)

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2018v10n19p31

Resumo

A noção de interseccionalidade possibilitou complexificar o entendimento dos processos de dominação e resistência nas sociedades contemporâneas ao entender as opressões como co-constitutivas, articuladas e não hierarquizadas, ao menos a priori. Na historiografia do trabalho, tal perspectiva tem enfocado especialmente os cruzamentos das dominações e discriminações de gênero, raça-etnia e classe. Porém, ainda são poucas as pesquisas que se voltam para os trabalhadores sexualmente desviantes dos padrões heteronormativos. Menos visíveis até pelo próprio caráter de segredo que historicamente as constituem, as experiências destes desviantes sexuais, e os discursos que os configuram também são formadoras do mundo do trabalho. Basta, pensar, por exemplo, nas profissões socialmente estabelecidas como próprias de pessoas queer (como as de cabelereiro, estilista, comissário de bordo e enfermeiro) ou no reforço da heteronormatividade nas atividades de militância sindical e política, com seus apelos, explícitos ou velados, a valores ligados às masculinidades hegemônicas. Esta comunicação pretende chamar a atenção para a importância de se levar em conta a referida perspectiva analítica, bem como apontar alguns caminhos historiográficos e metodológicos possíveis para a sua efetivação.

Biografia do Autor

Benito Bisso Schmidt, Professor Titular do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e do Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA)

Doutor em História Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor Titular do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e do Mestrado Profissional em Ensino de História (PROFHISTÓRIA). Bolsista de Produtividade do CNPq. Trabalho elaborado durante a realização de estágio sênior na Universidade de Brown (EUA), com bolsa da CAPES. E-mail: bbissos@yahoo.com

Referências

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003.

COSTA, Jurandir Freire Costa. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

CROIX, St. Sukie de la. Chicago Whispers: A History of LGBT Chicago before Stonewall. Madison: University of Wisconsin Press, 2012.

ENGEL, Magali Gouveia. Meretrizes e doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840- 1890). São Paulo: Brasiliense, 1989.

FERLA, Luis Antonio Coelho. “Feios, sujos e malvados: do crime ao trabalho, a utopia médica do biodeterminismo em São Paulo (1920-1945)”. (Tese de doutorado em História Econômica, Universidade de São Paulo, 2005).

FRANK, Miriam. Out in Union: A Labor History of Queer America. Philadelphia: Temple University Press, 2014.

FREEMAN, Susan K.; RUPP, Leila J. “The Ins and Outs of U.S. History. Introducing Students to a queer Past”. In: RUPP, L. J.; FREEMAN, S. K. (ed). Understanding and Teaching U. S. Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender History. Wisconsin: University of Wisconsin Press, 2017.

GREEN, James Naylor. “Visão retrospectiva: um balanço histórico e memorialístico”. Cult, ano 21, n. 235, jun. 2018.

GREEN, James Naylor. “Who is the Macho Who Wants to Kill Me?: Male Homosexuality, Revolutionary Masculinity, and the Brazilian Armed Struggle of the 1960s and 70s”. Hispanic American Historical Review, v. 92, n. 3, p. 437-469 (August 2012).

GREEN, James Naylor. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Ed. UNESP, 2000.

MARTINS JUNIOR, Carlos. “Saber jurídico e homossexualidade no Brasil da Belle Époque”. Diálogos, Maringá, v. 19, n. 3, p. 1217-1251, set.-dez., 2015.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira. “Trabalhadores negros e o ‘paradigma da ausência’: contribuições à História Social do Trabalho no Brasil”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, set.-dez. 2016.

PASCHOAL, Marcio. Rogéria: uma mulher e mais um pouco. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2016.

RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar – Brasil 1890-1930. São Paulo: Paz e Terra, 1985.

RIBEIRO, Leonídio Ribeiro. “Homossexualismo e Endocrinologia” (reproduzido em Revista Latinoamericana Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 498-511, setembro, 2010).

SCOTT, Joan W. “A invisibilidade da experiência”. Projeto História, n. 16, fevereiro, 1998, p. 299-300.

SEDGWICK, Eve Kosofsky. “A epistemologia do armário”. Cadernos Pagu, n. 28, p. 19-54, jan.-jun., 2007, p. 22

SILVA, Almir Dias da. Dando pinta: memórias de um homossexual. Porto Alegre: Buqui, 2014.

TIEMEYER, Phil. Plane Queer: Labor, Sexuality and AIDS in The History of Male Flight Attendants. Los Angeles: University of California Press, 2013.

Downloads

Publicado

2019-04-17

Como Citar

SCHMIDT, Benito Bisso. Complexificando a interseccionalidade: Perspectivas queer sobre o mundo do trabalho. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 10, n. 19, p. 31–41, 2019. DOI: 10.5007/1984-9222.2018v10n19p31. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2018v10n19p31. Acesso em: 18 abr. 2024.