Trabalho escravo e trabalho livre: os libertos ocupados nos serviços domésticos no Recife oitocentista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5007/1984-9222.2018v10n20p145

Resumo

Este estudo evidencia as relações sociais e de trabalho entre os forros engajados nos serviços domésticos, seus ex-proprietários e os demais trabalhadores das famílias recifenses oitocentistas. Essas relações sofreram influências das diferentes conjunturas advindas da política emancipacionista do Estado imperial e da crise do escravismo na segunda metade do século XIX. Fundamentadas no paternalismo, elas produziam libertos dependentes e continuavam a exploração e o controle, tradicionalmente ligados ao trabalho escravo, sobre os mesmos. Por outro lado, essas relações não eram apenas ditadas pelo paternalismo e pela
domesticidade. Criadas e amas, em especial as forras e livres, conseguiam gozar de mais e menos autonomia e inseriam-se na lógica contratual do trabalho, inclusive demandando judicialmente o pagamento de salários não pagos.

Biografia do Autor

Tatiana Silva de Lima, Universidade Federal do Ceará

Doutoranda em História Social pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Ceará, fazendo parte da linha de pesquisa Trabalho e migração. Professora Assistente no curso de História da Universidade de Pernambuco - Campus Petrolina.

Referências

ALGRANTI, Leila Mezan.Honradas e devotas: mulheres da Colônia: Condição feminina nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil, 1750-1822. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb, 1993.

ALMEIDA, Kátia L. N. Alforrias em Rio de Contas, século XIX. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, 2006.

ARIZA, Marília Bueno de Araújo. O ofício da liberdade: trabalhadores libertandos em São Paulo e Campinas (1830-1888). São Paulo: Alameda, 2014.

BRANDÃO VASCONCELOS, Sylvana M. Ventre livre, mãe escrava: a reforma social de 1871 em Pernambuco. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1996.

BRITO, Rose K. Trabalho doméstico como forma de inserção social de meninas enjeitadas no Recife (1840-1850). In: NASCIMENTO, Alcileide C. do; GRILLO, Maria Ângela (orgs.). Cultura, gênero e infância: nos labirintos da história. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2007.

CARVALHO, Marcus J. M. de. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife, 1822-1850. Recife: Ed. da UFPE, 1998.

CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão: ilegalidade e costume no Brasil oitocentista. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte, São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CONRAD, Robert. Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1888. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

COSTA, Robson P. Rufina: uma escrava senhora de escravos em Pernambuco, 1853-1862. Revista Brasileira de História, v. 38, n. 79, 2018.

CUNHA, Manuela C. da. Sobre os silêncios da lei: lei costumeira e positiva nas alforrias de escravos no Brasil do século XIX. In: CUNHA, Manuela C. da. Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade. São Paulo: Brasiliense/Editora da Universidade de São Paulo, 1986.

DEL PRIORE, Mary. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.

DIAS, Maria Odila L. da S. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. 2. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 1995.

EISENBERG, Peter L. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco, 1840-1910. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1977.

FONSECA, Claudia. Caminhos da adoção. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

FRENCH, John. As falsas dicotomias entre escravidão e liberdade: continuidades e rupturas na formação política e social do Brasil moderno. In: LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira (orgs.). Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006.

GENOVESE, Eugene D. A terra prometida: o mundo que os escravos criaram. Tradução de Maria Inês Rolim Donaldson Magalhães Garschagen. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Brasília: CNPq, 1988.

GONÇALVES, Andréa L. As margens da liberdade: estudo sobre a prática de alforria em Minas colonial e provincial. Apud BERTIN, Enidelce. Alforrias na São Paulo do século XIX: liberdade e dominação. São Paulo: [s. n.], 2002.

GRAHAM, Richard. Cor e cidadania no Brasil escravocrata. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, p. 36, 1999/2000.

KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Tradução de Luis da Câmara Cascudo. 2. ed. Coleção Pernambucana, v. XVII. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, Departamento de Cultura, 1978.

LIMA, Glauber G. F. de. As elites açucareiras em Pernambuco: Um estudo sobre a heterogeneidade da açucarocracia pernambucana nas últimas décadas do Império. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, 2007.

LIMA, Henrique Espada. Trabalho e lei para os libertos na Ilha de Santa Catarina no século XIX: arranjos e contratos entre a autonomia e a domesticidade. Cadernos AEL,

Campinas, v. 14, n. 26, p. 135-177, 2009.

LIMA, Henrique Espada. Sob o domínio da precariedade: escravidão e os significados da liberdade de trabalho no século XIX. Topoi, v. 6, n. 11, p. 289-326, jul.-dez. 2005.

LIMA, Henrique Espada; POPINIGIS, Fabiane. Maids, Clerks, and the Shifting Landscape of Labor Relations in Rio de Janeiro, 1830s-1880s. IRSH, 62, p. 49, 2017.

MALHEIRO, Perdigão. A Escravidão no Brasil. Ensaio Histórico, Jurídico, Social. Apud FARIA, Sheila S. de C. Sinhás pretas, damas mercadoras. As pretas minas nas cidades do Rio de Janeiro e de São João Del Rey (1700-1850). Tese (Concurso para professora titular) – Universidade Federal Fluminense, 2004.

MARTINEZ, Cláudia Eliane P. M. Cinzas do Passado. Riqueza e Cultura Material no Vale do Paraopeba/MG (1840/1914). Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2006.

MATOS, Hebe. Racialização e cidadania no Império do Brasil. In: CARVALHO, J. M. de; NEVES, L. M. B. P. das. (orgs.). Repensando o Brasil do Oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

MATTOSO, Kátia M. de Q. Ser escravo no Brasil. Tradução de James Amado. 3. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.

MATTOSO, Kátia de Q. O ilho da escrava (Em torno da Lei do Ventre Livre). Revista Brasileira de História. São Paulo. v. 8, n. 16, p. 37-55, mar.-ago. 1988.

MILANICH, Nara. Perspectiva histórica sobre iliación ilegítima e hijos ilegítimos em América Latina. Revista de Derechos del Niño, n. 2, p. 225-249, 2003.

MILANICH, Nara. Los hijos de la Providencia: El abandono como circulación em el

Chile decimonónico. New Haven: Universidad de Yale, 2001.

MORAES SILVA, Antonio. Diccionario da lingua portugueza - recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado, v. 1. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813.

NASCIMENTO, Alcileide C. do. A sorte dos enjeitados: o combate ao infanticídio e a institucionalização da assistência às crianças abandonadas no Recife (1789-1832). São Paulo: Annablume: FINEP, 2008.

SILVA, Eduardo; REIS, João J. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SILVA, Maciel Henrique C. da. Pretas de honra: trabalho, cotidiano e representações

de vendeiras e criadas no Recife do século XIX (1840-1870). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco, 2004.

SLENES, Robert W. Senhores e subalternos no Oeste paulista. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de (org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

TANNENBAUM, Frank. Slave and Citizen. The Negro in the Americas. New York: Vintage Books, 1947.

TELLES, Lorena F. da S. Libertas entre contratos e aluguéis: trabalho doméstico em São Paulo às vésperas da abolição. In: MACHADO, Maria Helena P. T.; CASTILHO, Celso T. Tornando-se livre: Agentes Históricos e Lutas Sociais no Processo de Abolição. 1. ed. 1. reimpressão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2018.

TOLLENARE, Louis-François. Notas Dominicais. Coleção Pernambucana, v. XVI. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura, 1978.

VERGOLINO, José Raimundo O.; NOGUERÓL, Luiz Paulo F.; VERSIANI, Flávio R.; RESENDE, Guilherme. Preços de escravos e produtividade do trabalho cativo: Pernambuco e Rio Grande do Sul, século XIX. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 41, 2013, Foz do Iguaçu/PR. Anais. Foz do Iguaçu: Anpec, 2013.

Downloads

Publicado

2019-09-20

Como Citar

LIMA, Tatiana Silva de. Trabalho escravo e trabalho livre: os libertos ocupados nos serviços domésticos no Recife oitocentista. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 10, n. 20, p. 145–166, 2019. DOI: 10.5007/1984-9222.2018v10n20p145. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2018v10n20p145. Acesso em: 26 abr. 2024.