A importação descontextualizada de conceitos e o ensino de Administração no Brasil: outro capítulo na “simplicização” dos nossos livros didáticos
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2020.e62035Resumo
O objetivo deste artigo é analisar as Teorias Organizacionais (TO) como uma construção discursiva, histórica e política de ressignificações de saberes, caracterizada pela importação de conceitos de outras áreas de conhecimento recorrendo a analogias e metáforas. Para a análise dos manuais de ensino da Administração, de cursos de graduação de Administração no Brasil, usamos o conceito wittgensteiniano de jogos de linguagem e a concepção austiniana de performatividade. Os resultados demonstram que as TO são frequentemente constituídas em apropriações conceituais externas, num processo epistemologicamente frágil e ideologicamente enviesado. A apresentação de um padrão conceitual que trata os principais conceitos da área – “organização” e “administração” – como meras agrupamentos de interesse coletivo. Do ponto de vista pragmático, o significado sempre se consagra no uso, não existindo proprietários etimológicos de conceitos, palavras ou expressões. Contudo, é preciso refletir de maneira contínua e autocrítica sobre como desenvolvemos definições, uma vez que nada se ganha com leituras simplistas de fenômenos complexos, pois está extrema “simplicização” dos fenômenos organizacionais fragiliza o sentido do ensino de Administração e a qualidade analítica dos futuros profissionais. Para futuras pesquisas, sugere-se a inclusão de novos títulos ao corpus para confirmação do padrão.
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