Constituição da Infância na Sociedade Ocidental
DOI:
https://doi.org/10.5007/2175-795X.2019.e65387Resumo
A Infância na História veio a constituir-se, como tema e objecto epistémico, desde inícios do período moderno, ainda que a História da Infância, como conhecimento e narrativa, seja mais recente. A constituição histórica da Infância inclui distintos modos de representar e de significar, assinalando tempos de convergência e tempos de divergência ou mesmo contradições e rupturas. Na religião, na civilidade, na arte, na literatura, na pedagogia, a Infância resulta de uma constelação, que congrega dimensões demográficas, económicas, afectivas, socioculturais. A Infância teve infâncias que se traduzem em novos espaços, novas manifestações de afectividade e de relação nos quadros público, privado e doméstico, e a que foram sendo destinados espaços, tempos e meios de ser ensinada e de aprender. A Infância emergiu e foi constituída como campo de ciência e de educação. De motivo e tema, a Infância e particularmente a criança tornaram-se objecto de investigação, cruzando diferentes domínios científicos, designadamente a psicologia, a medicina, a pediatria, a pedagogia e mais recentemente a sociologia e a história. A escola surgiu como lugar e tempo da infância. Desde o século XVIII que a historiografia regista aspectos estruturais de duração longa e conjunturas onde a evolução sofreu acelerações e rupturas. A Infância congrega e representa crianças, consignando homogeneidade e admitindo a diversidade e a especificidade. Assim, a escola surgiu como lugar e tempo da infância, mas não foi cumprida de modo uniforme.Neste artigo procurar-se-á problematizar, documentar e entender a Infância como conceito e como categoria epistémica, com um passado recente, mas nem por isso isento de controvérsia, denso, cumulativo, muito particularmente no Mundo Ocidental. Tomando como principal referência a Europa, dar-se-á particular atenção aos aspectos de natureza conceptual e à sistematização das principais linhas histórico-pedagógicas de constituição da Infância. No fundamental, o método utilizado é o historiográfico, combinando diacronia e sincronia e recorrendo a um exercício hermenêutico dos principais textos e teses sobre o tema. É, no entanto, uma abordagem aberta à interdisciplinaridade que procura abranger a constelação de vectores de natureza substantiva, teórica e metodológica, constitutivos da Infância na Sociedade Ocidental.
Referências
Almeida, Ana Nunes de (2000). “Olhares sobre a infância – Pistas para a mudança”. In Eduarda Coquet (coord.). Actas do Congresso Internacional “Os mundos sociais e culturais da infância” (vol. II). Braga: Universidade do Minho; pp. 7-18.
Ariès, Philippe (1988). A criança e a vida familiar no Antigo Regime. Lisboa: Relógio d’Água.
Becchi, Egle (1998). “Le XXème siècle”. In Egle Becchi et Dominique Julia (dir.). Histoire de l’enfance en Occident – Du 18ème siècle à nos jours (2.º vol.). Paris: Seuil; pp. 358-433.
Blanck, Guillermo (1993). “Vygotsky: El hombre y su causa”. In Luis C. Moll (org.). Vygotsky y la Educación. Buenos Aires: Aique; pp. 45-74.
Borrás Llop, José María (1996). “Zagales, pinches, gamenes… – Aproximaciones al trabajo infantil”. In José María Borrás Llop (dir.). Historia de la infancia en la España contemporánea (1834-1936). Madrid: Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales/ Fundación Germán Sánchez Ruipérez; pp. 229-309.
Corvisier, André (1976). O Mundo Moderno. Lisboa: Ática.
Costa, Rui Carrington da (2002). Obra completa. Braga: Edições APPACDM.
Cunningham, Hugh (1995). Children and childhood in Western Society since 1500. London/ New York: Longman.
Dupont-Bouchat, Marie-Sylvie e Pierre, Éric (2001). “Le mouvement international de protection de l’enfance (1880-1914)”. In Marie-Sylvie Dupont Bouchat et Éric Pierre (dir.). Enfance et justice au XIX siècle – Essais d’Histoire Comparée de la protection de l’enfance 1820-1914 (France, Belgique, Pays-Bas, Canada). Paris: Presses Universitaires de France; pp. 385-405.
Faron, Olivier (2003). “Le père face à ses enfants. Quelques jalons sur l’évolution de l’autorité paternelle (XIXème –XXème siècles)”. In Jean-Pierre Bardet et al. (dir.). Lorsque l’enfant grandit – Entre dépendance et autonomie. Paris: Presses de L’Université de Paris-Sorbonne; pp. 349-361.
Fontes, Vítor (org.) (1952). I Congresso Nacional de Protecção à Infância. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Pediatria.
Freinet, Célestin (1974). A educação pelo trabalho (vol. II). Lisboa: Presença.
Hendrick, Harry (1997a). Children, childhood and English society 1880-1990. Cambridge: Cambridge University Press.
Hendrick, Harry (1997b). “Constructions and reconstructions of British childhood – An interpretive survey (1800 to the present)”. In Allison James & Alan Prout (ed.). Constructing and reconstructing childhood – Contemporary issues in the Sociological study of childhood. London/ Philadelphia: The Falmer Press; pp. 34-62.
Hobsbawm, Eric (1996). “O Século – Visão panorâmica”; “A Era da Catástrofe”. In A Era
Planchard, Émile (1982). A pedagogia contemporânea (8ª ed. rev.). Coimbra: Coimbra Editora.
Postman, Neil (1994). The disappearance of childhood (2ª ed. rev.). New York: Vintage Books.
Rocha, Filipe (1988). Correntes pedagógicas contemporâneas. Aveiro: Estante.
Rousseau, Jean-Jacques (1992). Emílio ou da educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
Sarmento, Manuel Jacinto (2000). “Os ofícios da criança”. In Eduarda Coquet (coord.). Actas do Congresso Internacional “Os mundos sociais e culturais da infância” (vol. II). Braga: Universidade do Minho; pp. 125-145.
Segalen, Martine (1999). “A revolução industrial: Do proletário ao burguês”. In André Burguière et al. (dir.). História da família – O Ocidente. Industrialização e urbanização (4º vol.). Lisboa: Terramar; pp. 5-36.
Shorter, Edward (1995). A formação da família Moderna. Lisboa: Terramar.
Teysseire, Daniel (1982). “La rubrique Enfance (Médecine) et ses renvois dans l’Encyclopédie”. In Pédiatrie des Lumières – Maladies et soins des enfants dans l’Encyclopédie et le Dictionnaire de Trévoux. Paris: J. Vrin; pp. 22-42.
Trinidad Fernández, Pedro (1996). “La infancia delincuente y abandonada”. In José María Borrás Llop (dir.). Historia de la infancia en la España contemporánea (1834-1936). Madrid: Ministerio de Trabajo y Asuntos Sociales/ Fundación Germán Sánchez Ruipérez; pp. 461-521.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Violante Magalhães, Justino Magalhães

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Esta revista proporciona acesso público a todo seu conteúdo, seguindo o princípio de que tornar gratuito o acesso a pesquisas gera um maior intercâmbio global de conhecimento. Tal acesso está associado a um crescimento da leitura e citação do trabalho de um autor. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o Open Journal Sistem (OJS) assim como outros software de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
A Perspectiva permite que os autores retenham os direitos autorais sem restrições bem como os direitos de publicação. Caso o texto venha a ser publicado posteriormente em outro veículo, solicita-se aos autores informar que o mesmo foi originalmente publicado como artigo na revista Perspectiva, bem como citar as referências bibliográficas completas dessa publicação.
